A coordenação dos Conselhos Tutelares Oeste e Leste de Gravataí encaminhou ofício ao Ministério Público ‘aliviando’ para o vereador Fernando Deadpool (PRD) na denúncia por suposto incentivo ao trabalho infantil. Em reunião com conselheiros na terça-feira, o político reconheceu o erro e apagou postagem.
Tratei na polêmica em Conselhos Tutelares de Gravataí repudiam vereador por supostamente incentivar trabalho infantil; Isso não é um prato de polenta para pobres, Deadpool!.
A reunião, que aconteceu a pedido do vereador, ocorreu na Comissão de Direitos Humanos e Inclusão Social da Câmara. Além de Deadpool, participaram o presidente e a vice do legislativo, Alex Peixe (PRD) e Anna Beatriz da Silva (PSD), além das coordenadoras dos conselhos tutelares Leste e Oeste, Deize Costa e Liege Regina da Silva.
Siga os principais trechos do documento enviado para a promotora da Infância e Juventude Juliana Venturella Nahas, que resta arquivado na Câmara sob a correspondência 15/2024.
“Após ampla explanação da referida pauta, vereador Fernando Pacheco admitiu o equívoco cometido, argumentando que não foi intencional a exposição e incentivo a exploração do trabalho infantil. Atribuiu a conduta de não ter se apropriado devidamente da temática”.
“Salientamos a importância da parceria dos três poderes para a efetivação de políticas públicas que garantam o bem estar das crianças e adolescentes e que seus direitos sejam respeitados”.
“Portanto após esclarecimentos o vereador retirou o material que vinculava em sua rede social, ainda prontificou se em manter parceria com o conselho tutelar para dirimir dúvidas em relação a proteção e garantia de direitos de crianças e adolescentes”.
Sigo eu.
Em Conselhos Tutelares de Gravataí repudiam vereador por supostamente incentivar trabalho infantil; Isso não é um prato de polenta para pobres, Deadpool!, escrevi: “Se postar relatos sobre alcançar um prato de polenta para alguém que passa fome é uma questão que se refere apenas à consciência de Fernando Deadpool, e seus seguidores, na posição institucional de vereador – o fiscalizador municipal por essência – resta a obrigação de cumprir a lei e não deseducar a sociedade”.
Acrescentei: “Sabemos todos que crianças trabalham nas ruas, mas não cabe a um vereador tratar isso como algo bom, quando é ruim. No caso do adolescente na sinaleira, retrato de um fracasso coletivo. E, insisto, fora da lei”.
E conclui: “reputo mais do que necessário, era uma obrigação funcional do Colegiado dos Conselhos Tutelares fazer o alerta. Talvez, no Grande Tribunal das Redes Sociais, sejam mais criticados do que o vereador. Seria só mais uma evidência de uma sociedade doente e, deseducada, crente em uma meritocracia sem sobrenome que só naturaliza as desigualdades”.
Acertei no alerta sobre a crítica maior, ao menos no Grande Tribunal das Rede Sociais, ter recaído sobre os conselheiros tutelares.
Porém, o vereador Deadpool não se valeu disso para faturar nas redes.
Ao articular uma conversa com os conselheiros, que é o que recomenda a boa política, e ao reconhecer o erro, o vereador demonstrou grandeza e responsabilidade.
Não descumpriu sua função, seja incentivando algo fora da lei, ou, em tese, prevaricando.
E, o que reputo o principal, teve humildade ao admitir “não ter se apropriado devidamente da temática”.
Bonito, vereador.
Ao fim, o episódio me permite compartilhar tuíte do jornalista João Paulo Charleaux, sobre “conversa adulta” nas redes sociais.
Siga o fio no perfil original, ou leia abaixo, onde reproduzo o texto.
“Quero contar a vocês uma impressão que eu tenho: sinto que minha geração – sou de 1979 – e a geração atual, que já nasceu dentro da internet, veem de forma muito diferente o debate de ideias. A geração atual vê as conversas divergentes como competição e agressão.
Quando eu publico uma ideia, sinto que posso estar chamando a atenção para um aspecto desapercebido, para um ponto cego no retrovisor, enfim, para uma possibilidade desdobramento de um fato – que pode nem ser preponderante, mas é digno de nota.
Faço isso com um ânimo contributivo – acho que outras pessoas lerão e dirão: “pode ser verdade, mas também tem isso ou aquilo” ou “acho que você está errado porque não levou em conta tal ou qual coisa”. Enfim, vejo como um diálogo incompleto, que vai se completando.
Quando eu faço um comentário, não sinto que esteja expressando a totalidade das visões possíveis sobre um fato, mas apenas um vislumbre, uma visão intrinsecamente imperfeita, que pode e deve ser complementada, que pode mudar à medida que os fatos se desenrolam.
Então, eu nunca opino com a pretensão de encerrar o significado das coisas, mas de contribuir com peças de um quebra-cabeça. Pode ser a peça certa, como pode ser a peça errada. Acontece. O fato é que eu não sou vitalmente apegado às visões que tenho num dado momento.
Por isso, não tenho problema nenhum em ser questionado e criticado, porque eu acho que isso é parte natural de qualquer conversa adulta. O estranho é quando a resposta vem em forma de ofensa e ameaça, o que acontece muito no Twitter.
Eu estou aqui pensando alto porque acho que outras pessoas podem sentir o mesmo ou podem divergir me oferecendo algum ponto e vista mais interessante. Não estou me vitimizando de nada – como as pessoas gostam de vir dizer, sobretudo os jovens. É só uma ideia. Mais uma”.