Associo-me ao artigo Banditismo de Musk – Magnata expõe pretensão das “big techs”: ser governo, do jornalista Reinaldo Azevedo. Sigamos no texto.
Elon Musk presta um desserviço à civilização democrática — na hipótese de que esta sobreviva, e acho que vai — ao declarar que, segundo entende, é o Estado brasileiro que deve se submeter às regras do “X”, que será “Twitter” enquanto existir, não o contrário. Atenção! Ele não está sozinho. Só é o mais falastrão entre os gigantes.
As “big techs” não se contentam mais em ser prestadoras de serviços ou produtoras e veiculadoras de bens culturais. O sujeito está anunciando, e escolheu o Brasil para fazê-lo, que chegou a hora de tomar o poder. De tradicional em sua investida, repetindo a prática do imperialismo em suas várias faces e vertentes, só mesmo a mobilização da escória de nativos para falar em nome dos seus interesses, como se fossem portadores de verdades e bens universais.
Como sabem, o chefão do “X” resolveu lançar uma campanha global contra o STF, personificada na figura do ministro Alexandre de Moraes, o que evidencia o incômodo que causam o tribunal e esse magistrado em particular. Eles dizem a Musk e a seus bate-paus que, numa sociedade regida por leis, há o inaceitável. Lembram que a democracia é o regime em que nem tudo é permitido. Tudo pode nas tiranias para o tirano e seus amigos. Seja naquelas com as quais o multibilionário mantém relações cordiais, de olho apenas em seus negócios, seja em seu próprio império, onde se comporta como monarca absolutista. E, nesse caso, quanto menos protegidos estão os indivíduos e trabalhadores, melhor para o déspota — ou os déspotas.
Ao dar início a uma cruzada contra as instituições no Brasil, o abusado também estabeleceu uma linha divisória, o que é positivo, ainda que não fosse sua intenção. Entrem nas redes sociais — com destaque, como não poderia deixar de ser, para o próprio Twitter — e vejam lá os que se alinham com o doidivanas e os que reconhecem que ele avançou o sinal vermelho.
Atenção! Ninguém precisa ser entusiasta, como sou, da atuação do ministro e da Corte para reconhecer que é um despropósito o CEO de uma empresa pedir a cabeça de um juiz, anunciar que não mais respeitará as decisões da Justiça, incitando a desobediência à lei e a obstrução de investigações, inclusive de organizações criminosas. A reação de Moraes foi dura e precisa. Convém lê-la com atenção porque vai ter muito Zé Mané se expondo à prisão preventiva achando que está sob o guarda do poderoso. De toda sorte, as pessoas são livres para escolher a cadeia.
Musk, insisto neste aspecto, não se limitou a expressar seu inconformismo com decisões tomadas por um magistrado brasileiro — sempre que necessário, referendadas pelo tribunal. Já seria impróprio, dado o seu papel, mas vá lá. Não foi assim.
Ele organizou uma operação de intimidação de um dos Poderes, empregando como instrumento as delinquências supostamente jornalísticas de um tal Michael Shellenberger, que criminaliza o trabalho regular da Justiça, da Polícia Federal e do Ministério Público.
As coisas ficaram mais claras: há os que estão com o destruidor de instituições, servindo, no Brasil, aos interesses de Jair Bolsonaro, e há os que as defendem. Ponto. “Ah, não estou nem de um lado nem de outro…” Pois é. Nessas coisas, ou se é corda ou se é pescoço. Não sendo corda, talvez esse nem-nem tenha sido rejeitado até pelos fascistoides; não sendo pescoço, talvez lhe tenha faltado coragem. Vale dizer: ou é um inútil até para os reacionários ou é um borra-botas. Virou o cocô do cavalo do bandido.