“A gente não quer só comida. A gente quer comida, diversão e arte.” A música icônica da banda Titãs me veio à mente nesses tempos de tanta tragédia, onde tantas pessoas não tem mais nem o básico. Muitas mobilizações estão ocorrendo no país inteiro para trazer água, comida e alimento aos milhares de gaúchos atingidos pelas enchentes desse maio que será o mês mais longo de todos. Mas a alma também precisa ser alimentada. Principalmente dos pequenos que de uma hora para outra perderam toda rotina e referências.
Escritores de Gravataí e outros voluntários têm visitado os diversos abrigos espalhados pela cidade, fazendo contações de histórias e brincadeiras com as crianças abrigadas. Nosso Clube Literário criou o projeto Caravana do Clube Literário, que conta com cerca de dez voluntários, na maioria educadoras, levando esse momento a meninos e meninas que tiveram suas rotinas transformadas pelas águas de maio. Os voluntários já visitaram a Associação de Moradores da Cohab, o CTG Chaleira Preta e também o CTG Aldeia dos Anjos.
“Nós temos tido a preocupação de levar histórias lúdicas, mas que fujam um pouco dessa temática triste das crianças, orientação que vem sendo bastante divulgada entre os contadores de histórias. E para a nossa satisfação, alguns voluntários também têm se engajado, alguns estudantes da UFRGS doaram kits com massinhas de modelar, lápis de cores, livros, então nós temos também tido essa participação muito importante desses voluntários”, explica a presidente do Clube, Ângela Xavier, ressaltando que essas iniciativas ajudam os pequenos a se distraem um pouco em meio a uma situação tão traumatizante. “Os abrigos têm desenvolvido um trabalho muito bom, à medida que criam um espaço acolhedor para as crianças; somos sempre muito bem recebidos e a reação das crianças é muito significativa, elas se distraem e dão muito retorno”, acrescenta.
Quem quiser fazer parte da Caravana pode entrar em contato nas redes sociais do Clube (@clubeliterariodegravatai no Instagram, e facebook.com/angelaliteratura), ou pelo telefone da presidente: 51 99732-0615
O Clube também esteve presente no café com as mães realizado na EMEF Olenca Valente por iniciativa da Prefeitura. O músico, escritor e “inventor do vento” Carlos Albani homenageou as mães albergadas com algumas de suas canções do projeto Cavalgando o Vento. “Foi um momento muito especial, onde aquelas mães se sentiram acolhidas”, destacou Ângela. “Foi um lindo coral que formamos no dia 12 de Maio, Dia das Mães. Há nove anos, fisicamente, perdia a minha, mas por 30 minutos, tive dezenas de novas mães e elas um novo filho”, contou Albani, em Valente Olenca, texto publicado pelo Seguinte:.
Quem também tem levado histórias aos abrigos é o professor de História e escritor Amon Costa, que esteve fazendo a contação do seu livro A Aldeia dos Anjos: um lugar no mundo: para as crianças abrigadas no CTG Aldeia dos Anjos, e relatou que foi a contação mais difícil que já fez, embora tenha sido também um momento emocionante. “É bem difícil ter que abstrair o que tá acontecendo na tua volta, dos comentários das crianças… do tipo no meio da contação um levantar a mão e dizer: ‘Eu queria eu queria ter o poder de congelar a água para não destruir a minha casa.’ E aí tu tens que respirar fundo para não chorar e não se desmantelar na frente das crianças… Por outro lado, nessa tristeza profunda, o poder da imaginação, o poder onírico do sonho das crianças em abstrair esse momento é algo indescritível, né? Do nada brota um sorriso, uma alegria, tu arrancas a imaginação. Olha, é emocionante esse universo do livro, da imaginação. A gente tem que agradecer demais por estar vivo, por estar podendo ajudar, por estar fazendo, de grão em grão acho que a gente vai reconstruir esse estado e essas pessoas que precisam”, contou Amon, que resumiu em uma frase o trabalho dos escritores nesse momento: “O nosso jet-ski de resgate é o livro e a imaginação.”
Realmente queria estar engajada nesse movimento, contando histórias, levando meus fantoches e quem sabe até botando minha palhacinha em ação para levar um pouco de alegria a esses pequenos que perderam praticamente tudo. Mas como já expliquei na coluna anterior, estou evitando a linha de frente porque minha mãe ainda está se recuperando de uma questão delicada de saúde, e tenho que preservá-la. O que posso fazer à distância, estarei sempre fazendo. Quem quiser colaborar com relatos da situação em Gravataí, divulgar alguma necessidade de doações ou apenas desabafar, pode entrar em contato comigo pelo instagram @jeanebordignon ou no Whatsapp 51 992518314. Ou ainda no e-mail jeane.bordignon@gmail.com
Vamos em frente. Ainda há muito trabalho, em muitos lugares as águas ainda não baixaram totalmente. E a arte sempre nos salva de alguma forma, nos piores momentos.
INFORMAÇÕES ÚTEIS
Como ajudar:
– Doações para Gravataí podem ser feitas pelo PIX: smfcas.bancodealimentos@gravatai.rs.gov.br
Ou entregues diretamente no Banco de Alimentos, que fica na Avenida Centenário, 87 – (Agende sua entrega no telefone – (51} 36007756)
– Voluntários: cadastrem-se no site da Prefeitura (https://tinyurl.com/9s4kc9hd)
– Para o Estado em Geral:
– @badincolono: PIX enchentes@vakinha.com.br
– @deisefalci (causa animal): PIX deisefalci@gmail.com
https://sosenchentes.rs.gov.br/inicial
As doações também podem ser entregues em qualquer agência dos Correios, em todo o país.
O que doar (por ordem de prioridade)
– Água e itens de cesta básica (verifique a validade de todos os itens e não doe se estiverem vencidos ou perto do vencimento);
– Fraldas (geriátrica e infantil);
– Itens de higiene pessoal (escova de dente, creme dental, sabonete, absorventes, papel higiênico);
– Itens de limpeza (secos, como sabão em barra, sacos de lixo, panos de limpeza, luvas, escova de limpeza, esponjas).