Ideia aplica o método do verdadeiro/falso para esclarecer se determinado conteúdo distribuído na internet é confiável ou trata-se de uma enganação
A partir desta quinta-feira, 6, o Seguinte: passa a distribuir um novo formato de conteúdo junto à tradicional cobertura da cidade que já oferece. Trata-se da iniciativa FAROfino, um perfil de checagem de fatos que tem como objetivo contribuir com a comunidade no combate à grande epidemia do momento: a profusão de fake news que circulam pela internet.
O modelo de checagem é simples. Todo conteúdo analisado precisa ser respondido a partir de uma pergunta binária simples: é verdadeiro ou é falso? Na sequência, a informação verdadeira é esclarecida, citando fontes confiáveis de onde se conferiu a informação. Sempre que possível identificar a origem de uma determinada notícia falsa, o FAROfino se compromete a ouvir a versão de quem a distribui — informando, inclusive, quando o produtor do conteúdo decidir por removê-lo ao ser alertado de se trata de um dado inverídico.
O editor do Seguinte: em Canoas, Rodrigo Becker, será o responsável pela seleção e apuração dos conteúdos a serem verificados. Ele escreveu a respeito da inciativa e reproduzimos, aqui, a carta enviada às linhas de transmissão do Blog do Rodrigo Becker na cidade. Confira:
Amigos!
A desinformação, não a enchente, é a guerra que enfrentamos após os eventos climáticos extremos de pouco mais de um mês atrás. Verdades contadas pela metade, fora de contexto, mentiras descaradas e as falsidades disfarçadas de notícias — as famosas fake news —, desafiam a nossa capacidade de resposta inteligente ao mesmo tempo em que contaminam não apenas o processo político, mas a nossa própria percepção de comunidade.
Via de regra, a desinformação é um produto desinteligente e simples. O problema complexo relacionado a isto que estamos enfrentamos somente nesta geração e nunca antes na História é o volume. Há desinformação e fake news para todos os lados, o tempo todo, dentro e fora das redes sociais.
Corte para 2019. No auge da epopeia extremista após a eleição de Jair Bolsonaro, as empresas que gerenciam as maiores redes sociais do mundo, à época o Facebook — hoje Meta — e o Google propuseram converter multas aplicadas pela Justiça brasileira por permitirem a propagação de informações falsas em suas plataformas em cursos e apoio à iniciativas de checagem de fatos. Auxiliar usuários a identificar e combater fakes no dia a dia de suas comunidade locais era um necessidade há cinco anos e ainda é urgente hoje.
Fiz o curso e nasceu, ali, o FAROfino: uma iniciativa jornalística que aplica o método do verdadeiro ou falso para explicar informações enviesadas ou deliberadamente fraudulentas distribuídas pelas redes.
Volta para 2024. A enchente que pôs embaixo d’água metade de Canoas abateu também nossa capacidade de avaliar rapidamente o que é e o que não notícia em meio a tanta informação e conteúdo disponível nas redes. Há muita gente compartilhando notícias de boa fé, mas que restam por distribuir inverdades. E há outras tantas pessoas que fazem isso de forma deliberada, acintosa, profissional e sistemática.
É papel do jornalismo — e especialmente do que procuramos fazer aqui no Seguinte: — levar a verdade às pessoas com identidade, personalidade, opinião responsável e informação. Combater a desinformação está no nosso DNA e isso nunca foi tão importante quanto está sendo em 2024.
Preocupado com isso, gostaria de compartilhar com vocês, amigos, o FAROfino, uma iniciativa de checagem de fatos que vai ajudar no permanente combate à desinformação. Os conteúdos serão apurados a partir de casos em evidência nas redes socais mais populares e publicados tanto em um perfil próprio no X, antigo Twitter, no Instagram, como no Seguinte:, que publica todo o conteúdo do blog desde 2020.
Obrigado pela parceria de sempre!
Rodrigo Becker, editor do Seguinte: em Canoas
Se as fakes estão aí, é preciso combater o bom combate
Iniciativas de checagem de fatos tem sido recorrentes no jornalismo contemporâneo a partir da facilidade de proliferação de conteúdo falso na internet, especialmente pelas redes sociais. No Brasil, a checagem de fatos tem demonstrado relativo sucesso tanto atuando de forma autônoma como ligada a grandes veículos de informação.
Na esfera local, no entanto, são raros os produtores de conteúdo que se dedicam a checagem do que é dito ou repercutido nas redes.
Segundo um levantamento do Instituto Locomotiva, divulgado pela Agência Brasil no início de abril, 90% dos brasileiros entrevistados admitiram terem acreditado em conteúdos falsos e 8 em cada 10 assumem que já deram credibilidade a alguma fake news. Mesmo assim, 62% confiam na própria capacidade de diferenciar informações falsas e verdadeiras em um conteúdo.
Confira trechos da reportagem, que pode ser acessada na íntegra na página da Agência Brasil:
Sobre o conteúdo das notícias falsas que acreditaram, 64% era sobre venda de produtos, 63% diziam respeito a propostas em campanhas eleitorais, 62% tratavam, de políticas públicas, como vacinação, e 62% falavam de escândalos envolvendo políticos. Há ainda 57% que afirmaram que acreditaram em conteúdos mentirosos sobre economia e 51% em notícias falsas envolvendo segurança pública e sistema penitenciário.
O instituto ouviu 1.032 pessoas com 18 anos de idade ou mais entre os dias 15 e 20 de fevereiro. Na opinião de 65% dos entrevistados, as notícias falsas são distribuídas com a ajuda de robôs e inteligência artificial. A cada dez pessoas, oito reconhecem que há grupos e pessoas pagas para produção e disseminação de notícias falsas.
O maior risco da desinformação para 26% da população é a eleição de maus políticos, enquanto 22% acreditam que o perigo maior e atingir a reputação de alguém e 16% avaliam como maior problema a possibilidade de causar medo na população em relação a própria segurança. Há ainda 12% que veem como maior risco prejudicar os cuidados com a saúde.
A reportagem segue informando que pouco mais de um terço dos entrevistados tem um sentimento de ingenuidade ao ser enganado por uma notícia falsa e 22% sente vergonha.
Ser enganado por uma notícia falsa gera um sentimento de ingenuidade para 35% das pessoas, 31% ficam com raiva e 22% sentem vergonha.
Um quarto da população (24%) afirma já ter sido acusado de espalhar informações falsas por pessoas que têm uma visão de mundo diferente.
O presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, defende medidas educativas como forma de combater a disseminação de conteúdos mentirosos. “Para enfrentar essa questão, há um desafio para as instituições públicas de formular estratégias que incluam a promoção da educação midiática e a verificação rigorosa das fontes de informação, para fortalecer a comunicação do país e garantir que a população receba informações precisas e confiáveis”, afirma.