RAFAEL MARTINELLI

É fake news que campanha de Almansa vai promover marcha pelo aborto em Cachoeirinha

É falso que a campanha de David Almansa (PT) à Prefeitura de Cachoeirinha organiza neste sábado a “Grande marcha pelo direito ao aborto”, conforme apuração do FAROfino, iniciativa do Seguinte para verificação de fatos e combate à desinformação na internet.

O card distribuído nas redes antissociais usa a arte da campanha, com fotos do candidato a prefeito e do vice, Dr. Rubinho.

“Companheirxs, atenção. No dia 28 de setembro é o Dia Nacional da Luta pela Descriminalização e Legalização do Aborto. É hora de nos unirmos! Com o apoio do governo Lula, vamos garantir que seja um direito do município oferecer atendimento gratuito para realização do aborto seguro na nossa rede de saúde. A luta é nossa! O corpo da mulher, a decisão é dela. Vamos marchar junto por esse direito”, diz o texto, convocando para às 13h do sábado uma caminhada do comitê central da campanha, na Av. Flores da Cunha, até o Parcão.  

– É mentira – disse Almansa ao Seguinte:, informando que estava a caminho da delegacia para registrar uma ocorrência policial.

Como toda fake news parte de algo verdadeiro, realmente o dia 28 é o “Dia da Luta pela Descriminalização e Legalização do Aborto na América Latina e Caribe”, criado em 1990, no 5º Encontro Feminists Latino-Americano.

É falso também que Luiz Inácio Lula da Silva defenda o aborto indiscriminado, como induz o texto.

Infelizmente. Seria iluminado se um presidente da República não tivesse uma posição tão conservadora. O que Lula defende é o que estás na lei brasileira.

Em resumo, o aborto no Brasil somente não é qualificado como crime em três situações: quando a gravidez representa risco de vida para a gestante; quando a gravidez é o resultado de um estupro e quando o feto for anencefálico, ou seja, não possuir cérebro.

Por que “infelizmente”? Porque sou favorável ao aborto seguro. “O corpo da mulher, a decisão é dela”, para usar o sofrível texto da fake news contra Almansa.

No Brasil, cerca de 800 mil mulheres praticam abortos todos os anos. Dessas, 200 mil recorrem ao SUS para tratar as sequelas de procedimentos malfeitos. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a situação pode ser ainda mais alarmante: o número de abortos pode ultrapassar um milhão de mulheres.

O aborto é o quinto maior causador de mortes maternas no Brasil. Segundo um estudo publicado em 2013, uma a cada cinco mulheres com mais de 40 anos já fizeram, pelo menos, um aborto na vida. 

Entendo a legislação perfeita vigorava nos EUA desde 1970, a partir do processo Roe vs. Wade, que permitiu a interrupção da gestação até a 24º semana de gravidez – jurisprudência derrubada em 2022 pela Suprema Corte, com maioria conservadora após as indicações de Trump, que delegou a decisão para os estados; e Kamala Harris, caso eleita, promete recorrer.

O que foi Roe vs. Wade? Em 1973, Norma McCorvey (que para ter sua identidade preservada foi identificada no processo como Jane Roe), que aos 22 anos já não tinha a guarda dos dois primeiros filhos por ser moradora de rua e usuária de drogas, foi até clínica clandestina do Texas, que só permitia aborto em caso de risco de vida, para interromper a terceira gestação.

As advogadas Sarah Weddington e Linda Coffee, dispostas a processar as leis que restringiam o acesso ao aborto, usaram o caso e venceram por 7 a 2, ao chegar à Suprema Corte.

Ao fim, essa é minha opinião, que influência alguma tem no período eleitoral. Fato é que, principalmente no ‘Evangelistão’ de Cachoeirinha, a fake news sobre o aborto provocou danos na campanha de Almansa, mesmo sendo também ele evangélico, como já tratei em Os dois candidatos a prefeito de Cachoeirinha são evangélicos. Em Gravataí, católicos.

Delírios religiosos à parte, no Brasil do PL dos Estupradores – que previa pena maior para mulher estuprada que abortasse, do que para o estuprador –, muitos se preocupam mais com o feto, do que com a criança morta de fome depois de nascer. Alguns, pagando o aborto em clínica cara para a filha ou a amante, enquanto alguma pobrezinha, muitas vezes abusada por familiar, é operada em um açougue.

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