BLOG DO RODRIGO BECKER

CANOAS | Impossível ignorar áudios de Busato com figurão do Gamp se queixando por ‘mesada’ fatiada e cobrando ‘pontualidade’; a hecatombe em mp3 a poucos dias do 2º turno

UOL publicou nesta terça reportagem da jornalista Natália Portinari desnudando o que tem tudo para ser um dos maiores escândalos da política canoense

Os áudios fazem parte dos desdobramentos de uma investigação iniciada ainda em 2018 pelo Ministério Público Estadual e que hoje está sob os cuidados do Ministério Público Federal por envolver a suspeita de desvios de recursos da Saúde com origem na União. Neles, o ex-prefeito de Canoas Luiz Carlos Busato (União Brasil) aparece negociando valores, se queixando de atrasos e até reclamando de um parcelamento em 30 vezes que queria que fosse pago num prazo menor.

Trata-se da investigação sobre o GAMP, o Grupo de Apoio à Medicina Preventiva, que assumiu a gestão do Hospital Universitário, do Pronto Socorro, de duas UPAs e e quatro CAPS em Canoas na virada de 2016 para 2017. Os áudios vazados e referidos na reportagem do UOL teriam sido gravados pelo então diretor da organização social, o médico Cássio Souto dos Santos, que negociou acordo de delação premiada com o MP em Brasília entre 2020 e 2022, homologado pela ministra do Superior Tribunal de Justiça, Nancy Andrighi, por envolver pessoas detentoras de foro privilegiado . 

Cássio chegou a ser preso no final de 2018 junto com outros dois diretores do GAMP na mesma operação do GAECO gaúcho em que a justiça estadual autorizou o afastamento da então secretária da Saúde de Canoas, Rosa Groenwald. 

Na época, o contrato do GAMP previa repasses de R$ 16 milhões por mês, mas o grupo já estava recebendo R$ 23 milhões por mês. 

Confira, a seguir, trechos da reportagem de Natália Portinari — para quem for assinante do UOL, mais abaixo publico o link para o conteúdo completo:

O deputado federal Luiz Carlos Busato (União-RS), ex-prefeito de Canoas, cidade na região metropolitana de Porto Alegre, é citado em uma delação sob suspeita de ter recebido propina em contratos na área de saúde firmados pelo município em sua gestão ( 2017-2020).

Em áudios apresentados pelo delator —- um médico que estava à frente de uma organização social que prestava serviços à prefeitura na área da saúde —- o então prefeito negociou os valores, reclamou de atrasos e pressionou seu interlocutor.

Em um dos áudios, o então prefeito cobra o médico depois de aumentar os repasses à organização social GAMP (Grupo de Apoio à Medicina Preventiva): “Bom, então se estamos aumentando R$ 4 milhões, R$ 5 milhões, acho que tem condições de o GAMP pegar uma parte e acertar conosco.”

Faz pressão para o dinheiro ser pago sempre na mesma data: “(…) Isso é religioso. Não vai mais ter problema daqui pra frente, ok? Seja 700, 800, é o do mês. Depende do quanto entrar. 15 dias fechar após o mês.

Reclama do que seria uma proposta indecorosa, o parcelamento dos pagamentos atrasados do esquema: “(…) Cássio se comprometeu a, de agora em diante, pagar o do mês, não vai deixar tardia o do mês, senão esse troço vira uma bola de neve (…) e proposta pagar em 30 parcelas, em 30 meses não tem como, Cássio.”

Dá uma bronca por causa de nova interrupção de pagamentos: “O que me interessa é o nosso acordo. (…) não podemos ficar indefinidamente na esperança de “ah, agora tem a Polícia Federal, tem, não sei o que vai acontecer (…) Porra, se nós já fizemos um esforço de aumentar de 16,5 (milhões) para 21 (milhões)”, diz o prefeito.

Por fim, Busato reclama que não pode ficar um ano sem receber “a cada peido da Polícia Federal”.

Cássio Souto dos Santos é o médico que esteve à frente da administração do GAMP (Grupo de Apoio à Medicina Preventiva). Em 2018, ele chegou a ficar preso preventivamente no âmbito de uma operação sobre os desvios na saúde de Canoas. Em 2020, ele fez um acordo de delação premiada e entregou os áudios ao investigador.

Os áudios em que a voz de Busato apareceram foram gravados pelo próprio Cássio, durante encontros com o então prefeito, enquanto o esquema funcionava na cidade.

Procurado pelo UOL, o ex-prefeito negou as consequências dos áudios e disse que não cometeu nenhuma irregularidade.

“Desconheço o assunto indicado e nunca fui notificado sobre o tema em questão. Além disso, reitero que os áudios que estão circulando não são verdadeiros.”

Quem for assinante do UOL, pode conferir a íntegra da reportagem de Natália Portinari no link Em áudio, político gaúcho se queixa de propina parcelada em 30 vezes.

Tem vídeo com os áudios, para quem quiser conferir:

O que diz Busato

O ex-prefeito enviou à imprensa uma nota sucinta sobre o caso. Reproduzo:

Trata-se de uma gravação de origem desconhecida e de conteúdo falso a respeito de um processo em que não sou citado e não sou réu. Já contratamos advogados e estamos estudando todas medidas cabíveis para tratar na Justiça deste tema que surge, curiosamente, na última semana da eleição.

O blog tentou uma entrevista com Busato, mas a assessoria dele disse que a manifestação seria somente a da nota.

O ‘compromisso’

Em outro trecho da reportagem, Natália descreve o que seria o momento de maior pressão do ex-prefeito sobre o responsável pelo GAMP para o acerto do ‘compromisso’.

Souto dos Santos transmitiu à PGR dois áudios de conversas com o então prefeito, datadas de 2018, quando o GAMP prestou serviços à prefeitura.

Em um deles, Busato cobra a retomada dos pagamentos ao núcleo político do esquema. Ele diz que, na troca de aumentar o valor do contrato da prefeitura com o GAMP, seria preciso “pegar uma parte e acertar conosco”.

“Eu quero que o GAMP cumpra o compromisso conosco. Aumentamos de R$ 16,5 milhões para R$ 20 milhões? Bom, então se estamos aumentando R$ 4 milhões, R$ 5 milhões, acho que tem condições de o GAMP pegar uma parte e acertar conosco. Consegui acertar isso que estou falando aqui, na boa.

Cássio Souto dos Santos argumentou que tinha dívidas da OS para pagar naquele momento. O prefeito diz, então, que a prioridade é o “acerto” entre eles.

“Você está falando em pagar dívida. Não foi isso que eu acertei com o Germano (Dalla Valentina), não foi isso que eu mandei acertar com vocês.”

“Eu autorizei aumentar para que vocês tenham um fôlego, parasse o problema, porque o que atinge vocês nos atinge. Nós somos parceiros, somos dois irmãos siameses. Os caras te cravam um prego no ombro, dói em mim também no meu.”

O prefeito continua: “O que o Xaxá (Alexandre Bittencourt, seu secretário) e o Germano vieram me trazer: o Cássio se comprometeu a, de agora em diante, pagar o do mês, não vai deixar atrasar o mês , senão esse troço vira uma bola de neve (…) e foi proposto pagar em 30 parcelas, em 30 meses não tem como, Cássio.”

“Tem problemas, ‘como é que eu retiro o dinheiro’, não sei quê. Não sei. Tem que achar uma maneira”, afirma o então prefeito ao representante da OS, segundo o áudio. “O que eu combinei com o Germano é em cima dos 21 (milhões).”

Souto dos Santos afirma que, perante outras operações na região contra desvios na saúde, teve dificuldade em entregar os valores combinados.

“(Eu disse ao) Germano, eu não tenho condições de trazer pra você R$ 2 milhões por mês. Primeiro, pela dificuldade. Olha o que aconteceu em Guaíba (operação do MP-RS em 2018). Das sete empresas, a única que saiu ilesa fomos nós, e olha que grampearam mais de 40 pessoas.”

No momento da gravação dos áudios, estava em andamento a greve dos caminhoneiros de 2018, dificultando o transporte interestadual.

No segundo áudio apresentado pelo delator, o prefeito diz que Souto dos Santos deveria trazer os valores de propina de avião, se fosse necessário. Germano Dalla Valentina também participa dessa conversa.

“O que me interessa é o nosso acordo. Eu sou parceiro, e acho que o Germano também, mas não podemos ficar indefinidamente na esperança de “ah, agora tenho a Polícia Federal, não sei o que vai acontecer.” P* rra, se já fizemos um esforço de aumentar de 16,5 (milhões) para 21 (milhões)”, diz o prefeito.

É neste diálogo que Busato reclama que não pode ficar sem receber “a cada peido da Polícia Federal”.

Cássio argumenta de volta que o caminho para os desvios deve ser “através de terceiros”, contratados com verba de saúde municipal, ou “através de compras”, já que seria arriscado trazer dinheiro de outros estados.

“Nós temos que ter uma segurança. Eu estou assustado (…) Tá muito complicado. Imagina botar R$ 800 mil dentro de um avião, nego me pega com avião, tô desconfortável. Não tem cabimento. (…) Eu pego avião de amigo, eu alugo O caminho é através de terceiros ou através de compras”, afirma.

Não dá para ignorar

Os áudios são de ruborizar os incautos, impossível ignorar. A fala de Busato de que são falsos só aumenta a necessidade de esclarecer que relação era essa que se tinha entre o governo e a GAMP, gestora dos hospitais que mais dor-de-cabeça do que soluções trouxe para Canoas nos últimos anos.

Há alguns dias o blog cogita o correto a ser feito sobre o caso. Por óbvio, a publicação tão próxima do 2º turno vira um elemento do jogo político. Por outro lado, engavetar o que se tem, também.

Decidi por postar o texto da Natália Portanari, repórter que conheci nas página da Revista Piauí, pelo apuro e cuidado que teve em todo o texto. O que ela escreve é o que se sabe sobre o caso e reproduzo aqui, para o deleite dos torcedores e haters de sempre.

Para o eleitor, melhor uma notícia apurada e checada sobre a mesa do que o golpe sujo por baixo dos panos.

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