Uma comunidade inteira, construída ao longo de 25 anos, vê suas casas marcadas com números vermelhos. A ordem é clara: desocupar em tempo recorde, sem alternativa, sem apoio, sem qualquer projeto habitacional que garanta um futuro. Essas famílias, que formaram laços e histórias em um terreno irregular na Vila Esperança, em Gravataí, enfrentam o fim de uma estabilidade frágil, agora desmoronada. A única saída, sem apoio, é a rua ou uma ocupação ainda mais precária, onde a dignidade e a segurança se tornam promessas vazias.
A questão do déficit habitacional, sempre invisível para muitos, se torna agora uma urgência. O direito à moradia, para essas famílias, é mais do que um teto – é uma luta pela sobrevivência, pelo acesso a serviços essenciais como saúde, educação e uma vida digna. O que deveria ser debatido de forma urgente são as políticas públicas que atendam às necessidades dessa população marginalizada, constantemente empurrada para a invisibilidade.
O trabalho fotodocumental “Marcados”, do fotógrafo e documentarista Leão Jorge, ilumina essas vidas que se tornam o reflexo de uma crise habitacional sem soluções. Através de seu olhar sensível e atento, Jorge revela não apenas o sofrimento, mas a resistência dessas pessoas que, apesar da adversidade, continuam a acreditar em um futuro melhor. Cada fotografia, cada narrativa, é uma tentativa de dar voz aos invisíveis, de transformar o silêncio em um grito por direitos.
O projeto não é apenas uma documentação de uma realidade triste, mas um apelo: a questão habitacional não é apenas uma questão de teto, mas de dignidade humana. O desafio, agora, é que a sociedade e o Estado reconheçam a urgência da crise e se comprometam com soluções que atendam não apenas ao problema da moradia, mas à vida e à história das pessoas que vivem à margem. Porque a moradia não é apenas um direito, é a base para a construção de uma vida plena, segura e com pertencimento. É através da visibilidade e da luta dessas pessoas que se resgata o verdadeiro sentido de casa e de comunidade.
