RAFAEL MARTINELLI

Da Holanda ao Caça e Pesca: como andam dique de R$ 100 milhões, barragens e projetos antienchente na bacia do rio Gravataí

O governador Eduardo Leite está na Holanda conhecendo aquele que é considerado o mais avançado sistema antialagamentos do mundo. Mas, e aqui em Gravataí, no Rio Grande do Sul, Brasil, como andam os projetos antienchente?

Com recursos federais garantidos pelo Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do governo, a Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí terá R$ 2,9 bilhões destinados a obras de prevenção a enchentes e estiagens. O pacote inclui diques, barragens e sistemas de bombeamento, mas enfrenta entraves técnicos, burocráticos e a urgência de planejamento de longo prazo em meio à crise climática.

O principal projeto para Gravataí é a construção de um dique com casas de bombas automatizadas no bairro Caça e Pesca, orçado em mais de R$ 100 milhões. A estrutura visa conter cheias e escoar água retida durante eventos extremos. Além disso, 13 microbarragens no Rio Gravataí estão em fase avançada de estudos, com Licença Prévia pendente na Fepam. Essas barragens têm dupla função: reduzir a velocidade das águas nas cheias e armazená-las durante secas, combate crucial à escassez hídrica crônica na região.

O prefeito Luiz Zaffalon ainda busca incluir um dique adicional no Arroio Barnabé, que beneficiaria bairros como Vila Rica e Vale Ville. A proposta depende de negociações com o governo estadual, que coordena a execução das obras.

– Não importa quem faça, desde que a obra aconteça – resume ao Seguinte: Guilherme Ósio, secretário de Parcerias Estratégicas, Projetos e Captação de Recursos de Gravataí, que buscou informações sobre os projetos em Brasília, na semana passada, e destaca a necessidade de sincronia entre municípios, estado e o governo federal.

Os R$ 2,9 bilhões foram confirmados como prioritários em janeiro, em reunião do Conselho de Monitoramento das Ações para Reconstrução do RS, com participação dos governos Lula e Leite.

– Uma vez licitada, a obra não terá risco de continuidade por falta de recursos – garantiu Rui Costa, ministro da Casa Civil, após a reunião do conselho em Porto Alegre.

Contudo, prazos seguem indefinidos: as obras devem começar apenas em 2026, dependendo de atualizações técnicas pós-enchente de maio, que alteraram cotas de inundação. Os estudos da Metroplan se arrastam desde 2013.

A atualização é também o motivo do atraso de quase um ano na conclusão do Plano Municipal de Drenagem de Gravataí, essencial para orientar investimentos de R$ 300 milhões em redes de macro e microdrenagem. Estudos preliminares apontam a necessidade de realocar 40 famílias na Vila Rica e construir bacias de amortecimento para conter alagamentos.


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Desafios financeiros e lições do passado

A escala do investimento requerido esbarra na realidade orçamentária local. Nos últimos quatro anos, Gravataí investiu R$ 250 milhões em todas as áreas, incluindo saúde e educação.

– Sozinho, não sei se consigo investir 50 milhões [em drenagem] – já disse ao Seguinte: Zaffa, com o característico ‘sincericídio’.

Especialistas alertam que obras estruturais só trarão resultados se combinadas a políticas de ocupação do solo.

– Respeitar a ‘mancha de inundação’ é fundamental. Construções em áreas de risco anulam investimentos – destacou Sérgio Cardoso, presidente do Comitê da Bacia do Gravataí.

A revisão do Plano Diretor municipal, adiada para 2025, será crucial para evitar novos assentamentos vulneráveis. A análise pela Câmara de Vereadores deve se dar já com um Plano de Drenagem concluído, conforme projeção do prefeito.


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Armadilhas do desassoreamento

Apesar de demandas populares por dragagem do Rio Gravataí, especialistas e instituições como o IPH/UFRGS contraindicam a medida.

– Desassorear sem estudos aprofundados empurra a enchente para outras áreas e acelera a seca – explicou Cardoso.

Em vez disso, as microbarragens e diques são apontadas como soluções cientificamente embasadas para equilibrar fluxos hídricos.

Ao fim, enquanto diques e barragens avançam no papel, a população cobra respostas rápidas.

– Enterrar canos não parece realização, mas é essencial – entende Zaffa.

O desafio nas três esferas de governo é transformar projetos em realidade antes que novas tragédias exponham falhas estruturais. Como definiu Ósio: “É uma obra que interfere na outra – e no futuro de milhares”.

Clique aqui para acessar a apresentação dos R$ 6,5 bilhões aprovados para o Rio Grande do Sul para obras de drenagem urbana.


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