CRISE CLIMÁTICA

Rio Gravataí se estabiliza e afasta risco imediato de cota de inundação; Guaíba acende alerta em Porto Alegre

Imagem de drone da região da orla do rio Gravataí, na região do Caça e Pesca, na tarde desta sexta-feira

O Rio Gravataí apresentou uma significativa desaceleração em sua elevação nesta sexta-feira (20), afastando, a princípio, o risco de atingir a cota de inundação de 4,75 metros durante a atual enchente, conforme projeção feita pelo governo Luiz Zaffalon ao Seguinte: no início da noite desta sexta-feira.

Dados da Agência Nacional das Águas (ANA) registraram o nível do manancial em 4,60 metros às 17h30. O dado mais relevante, porém, foi a redução drástica na velocidade de subida: nas últimas 24 horas, o aumento diminuiu de cinco centímetros para apenas 0,5 centímetros por hora.

“Estabilizou. E não há previsão de grandes volumes de chuvas. A princípio não há risco”, afirmou o secretário municipal de Infraestrutura Laone Pinedo, que passou o dia acompanhando equipes em obras de recuperação de estradas danificadas pelas chuvas no interior do município.

A Prefeitura também utilizou drones para monitorar e verificar a eficácia de obras emergenciais executadas após os dois eventos climáticos extremos que marcaram os últimos dois anos: um ciclone extratropical em junho de 2023 e a grande enchente de maio de 2024, quando o rio atingiu o nível recorde de 6,23 metros, afetando cerca de 10 mil moradias em Gravataí e Cachoeirinha.

Apesar da estabilização atual, os efeitos das fortes chuvas dos últimos dias – que totalizaram 160 mm, volume superior à média histórica para todo o mês de junho (130,4 mm) – já foram sentidos. De terça até esta sexta-feira, alagamentos pontuais obrigaram famílias dos bairros Vila Rica, Novo Mundo, Cedro e Vera Cruz a deixarem suas casas. Uma moradora foi encaminhada a um abrigo municipal. Até o final desta tarde, três famílias permaneciam fora de suas residências, alojadas em casas de parentes. A Prefeitura forneceu alimentos e colchões para duas dessas famílias, conforme suas necessidades.

Equipes municipais seguem monitorando atentamente o nível do Gravataí. A cota de 4,75 metros é crítica porque, ao ser atingida, as águas invadem moradias, especialmente nos vulneráveis bairros Vila Rica e Viviane Cristina. “Ultrapassar a cota de inundação significa avançar para regiões de várzea, que não deveriam ser ocupadas”, explica Sérgio Cardoso, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí, destacando o problema histórico de ocupação de áreas de risco.

Bloqueio em Cachoeirinha

Em Cachoeirinha, equipes da Prefeitura trabalharam durante o feriado de quinta-feira (19) e esta sexta-feira (20) com foco principal na desobstrução das grades de contenção do Arroio Passinhos, realizada pela Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Urbana (Smisu) e Defesa Civil. O objetivo é garantir a vazão da água e evitar alagamentos na Avenida Telmo Silveira Dorneles (bairro Silveira Martins), Rua Bonifácio Carvalho Bernardes (bairro Carlos Wilkens) e no Parque da Matriz. Na maioria dos locais, os alagamentos registrados são pontuais e com rápida drenagem.

A situação é mais crítica na Estrada do Nazário, onde o extravasamento do Arroio Sapucaia causou o bloqueio da via em dois pontos. A Guarda de Trânsito está orientando o fluxo de veículos na região, que fica no limite entre Cachoeirinha e Esteio. A Smisu já realizou avaliação no local, constatando erosão da pista, especialmente na altura da ponte divisora. Os trabalhos de recuperação estão marcados para começar neste sábado (21).

A Defesa Civil mantém monitoramento constante em todos os bairros, coordenando a logística e a remoção preventiva de moradores em áreas de risco. Em uma ação conjunta com a Secretaria Municipal de Cidadania e Assistência Social (SMCAS), uma família de quatro pessoas e seu animal de estimação foram realocados para o abrigo montado na Avenida Atlântida, 814, no Jardim Betânia. Outras seis pessoas que estavam no abrigo já conseguiram se deslocar para residências de parentes.

Conexão com o Guaíba e atenção para Porto Alegre

A situação do Gravataí está intrinsecamente ligada ao comportamento do Lago Guaíba, onde o rio de 39 km (que banha nove municípios da Região Metropolitana) deságua. Às 17h30 desta sexta, o Guaíba registrava 3,60 metros na régua do Cais Mauá, em Porto Alegre, com uma variação positiva de +1,0 cm por hora.

Enquanto o Gravataí parece ter superado o pior momento nesta semana, a atenção se volta para o Guaíba. A empresa de meteorologia Metsul alerta para a necessidade de “muita atenção” no começo da próxima semana, diante do risco do lago se aproximar ou até atingir a cota de transbordamento no Cais Central de Porto Alegre, que é de 3,00 metros. É considerado certo que haverá pessoas desalojadas e desabrigadas nas ilhas de Porto Alegre com o avanço das águas.

Embora o transbordamento na área central protegida pelo muro da Mauá (que ocorreria a partir de 3,00m) seja atualmente considerado uma possibilidade de médio risco, alagamentos por refluxo da rede de esgotos já são uma realidade em pontos baixos da cidade, como regiões próximas à Voluntários da Pátria, Rodoviária e Praia de Belas, quando o Guaíba ultrapassa 2,50 ou 2,60 metros. Na enchente recorde de maio de 2024, ruas do Quarto Distrito e Centro Histórico inundaram gravemente com o lago acima de 4,00 metros – patamar ainda descartado para esta enchente.

Recomendações e alerta

As autoridades reforçam que a população de Gravataí, Cachoeirinha e das áreas de risco em Porto Alegre, especialmente nas ilhas e zonas baixas, deve permanecer atenta às atualizações das Defesas Civis municipal e estadual.

É crucial evitar transitar em áreas alagadas e seguir rigorosamente as orientações de saúde para evitar doenças.

Em caso de emergência

: Defesa Civil (WhatsApp) – (51) 9332-7385

: Guarda Municipal – 153

: Bombeiros – 193

: SAMU – 192


LEIA TAMBÉM

Obras emergenciais contêm alagamentos históricos em Gravataí, mas soluções definitivas esbarram em recursos; os ‘pobres de sempre’

Alagamentos, desalojados, rios e arroios em alta: Chuva castiga Gravataí e Cachoeirinha, mas é descartada repetição da catástrofe de 2024

Participe de nossos canais e assine nossa NewsLetter

Facebook
WhatsApp
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Conteúdo relacionado

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Receba nossa News

Publicidade