O Tribunal do Júri de Cachoeirinha encerrou na noite desta quarta-feira (6) um dos julgamentos mais impactantes da história recente da cidade. Andrew Heger Ribas foi condenado a 52 anos, 5 meses e 10 dias de reclusão em regime fechado, além de 1 ano, 5 meses e 8 dias de detenção, pelos crimes de duplo homicídio qualificado, ocultação de cadáver, fraude processual, maus-tratos aos animais e resistência à prisão.
O caso chocou a comunidade pela brutalidade e frieza com que foram executados os assassinatos de Rubem Affonso Heger, de 85 anos, e Marlene dos Passos Stafford Heger, de 53 anos, avô e madrasta do réu, respectivamente. O crime ocorreu em fevereiro de 2022, no bairro Vila Carlos Antônio, em Cachoeirinha.
Motivação financeira e ocultação dos corpos
Segundo o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS), com base na investigação policial, os assassinatos tiveram motivação financeira. Andrew e sua mãe, Cláudia de Almeida Heger, teriam invadido a casa das vítimas no dia 27 de fevereiro de 2022. Após o duplo homicídio, colocaram colchões bloqueando a garagem e esconderam os corpos dentro de um veículo Ford Fiesta, com o objetivo de dificultar a localização. Os corpos nunca foram encontrados.
No ano passado, Andrew revelou, em delação ao Ministério Público, que os cadáveres teriam sido queimados em uma churrasqueira, usando carvão e lenha. A cachorra do casal também foi morta, sendo encontrada com espuma na boca dentro de uma caixa de gordura.
Cláudia Heger também era ré pelo crime, mas morreu em março deste ano, aos 57 anos, por complicações de saúde, enquanto estava em liberdade para tratamento médico.
Depoimento: “Não queria que tivesse acontecido”
Durante o julgamento, Andrew declarou que não desejava a morte das vítimas, alegando que foi manipulado pela mãe. “Eles eram pessoas muito boas”, disse. Segundo ele, Cláudia tinha controle absoluto sobre sua vida, e só após se afastar dela teria conseguido relatar os detalhes do crime ao Ministério Público.
A defesa, representada pelo advogado André Von Berg, reconheceu que Andrew participou da ocultação dos corpos, mas negou que ele tenha cometido os homicídios. Ressaltou ainda que o réu sofre de transtornos mentais e apresentou laudos do Instituto Psiquiátrico Forense (IPF), onde Andrew estava internado até então. A defesa pleiteava a inimputabilidade penal.
Promotor contesta alegações de insanidade
O promotor de Justiça Caio Isola de Aro, que atuou na acusação pelo MPRS, sustentou que Andrew agiu com consciência plena e planejamento. Destacou que o réu foi visto aplicando insulfilm escuro no veículo dias antes do crime, além de apresentar notas fiscais de compras de luvas e fita crepe feitas por ele e pela mãe.
O promotor ainda relembrou um histórico de violência de Andrew. Em 2016, ele teria invadido a empresa do pai armado com uma faca e feito funcionários reféns, após o corte do envio de dinheiro para seus estudos nos Estados Unidos.
“A condenação é exemplar e coloca as coisas nos seus devidos lugares, inclusive o homicida, que deixa o Instituto Psiquiátrico Forense para cumprir pena no sistema prisional, onde deverá refletir sobre as vidas que tirou”, afirmou o promotor.
O julgamento mobilizou a cidade e contou com a presença de familiares das vítimas. O caso repercutiu fortemente pela brutalidade, pela ausência dos corpos até hoje e pela dinâmica familiar envolvida, que revelou um ambiente de conflito e controle psicológico.
A decisão do júri determinou a retirada da inimputabilidade penal de Andrew, que agora será transferido do IPF para o sistema prisional comum.
A defesa já adiantou que irá recorrer da sentença.