No domingo (1º) o ICL Notícias publicou reportagem-bomba –– nos dias seguintes ocultada pelo julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro –– apresentando indícios que ligam políticos ao esquema bilionário investigado na Operação Carbono Oculto, deflagrada pela Polícia Federal contra a aliança entre o PCC e operadores financeiros da Faria Lima.
A denúncia, assinada por Leandro Demori, Cesar Calejon e Flávio VM Costa, registra o depoimento de uma fonte que afirma ter presenciado a combinação da entrega de uma sacola com dinheiro vivo para o senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente nacional do Progressistas e ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro.
A fonte, cuja identidade é preservada conforme garante a Constituição à prática do jornalismo investigativo, relatou aos jornalistas — em entrevista gravada — e também à Polícia Federal que a suposta entrega ocorreu em agosto de 2024, em Brasília.
O dinheiro teria sido enviado pelos empresários Mohamad Hussein Mourad, o “Primo”, e Roberto Augusto Leme da Silva, o “Beto Louco”, apontados como chefes do esquema. Há ainda imagens da sacola mencionada.
É fundamental destacar: trata-se de uma denúncia ainda em fase de apuração. A presunção de inocência é um princípio basilar do Estado de Direito e deve ser preservada até que a investigação avance e produza provas conclusivas.
O senador nega categoricamente qualquer envolvimento, afirma jamais ter recebido os acusados em seu gabinete e chegou a colocar seus sigilos à disposição da Justiça. A seu pedido, a Polícia Legislativa verificou registros e não encontrou registros de visitas oficiais dos suspeitos a seu gabinete no ano passado.
Fato é que não se pode minimizar o peso das revelações. É difícil acreditar que um esquema multibilionário, que envolve fundos de investimento, fraudes fiscais e lavagem de dinheiro em larga escala, não tenha ramificações políticas. Mais difícil ainda é imaginar que tais engrenagens possam funcionar sem algum grau de tolerância — ou até cumplicidade — dentro do sistema político e, possivelmente, do próprio sistema judiciário.
Até o momento –– talvez pelo habeas corpus jornalístico representado pelo julgamento de Bolsonaro e o núcleo central do golpe –– a grande mídia segue sem dar destaque ao caso.
A omissão pode ser interpretada como cautela jornalística, mas também levanta suspeitas sobre os filtros editoriais que regem a cobertura de denúncias que tocam em figuras centrais do poder político e econômico.
Ao fim, o que está em jogo não é apenas a apuração de um episódio específico, mas a possibilidade de descortinar um nó estrutural entre crime organizado, mercado financeiro e política institucional.
A Carbono Oculto já revelou como o PCC se sofisticou, deixando de ser apenas uma facção do crime violento para se transformar em um ator econômico capaz de manipular fundos, usinas e bancos digitais.
Caso a denúncia seja confirmada, entramos em território ainda mais delicado: a confirmação oficial da contaminação da política nacional pelo crime.
Restam inexplicados ainda os motivos da testemunha para fazer uma denúncia que coloca sua vida em risco. O ‘cui bono’, o ‘a quem interessa/’, pode ser um caminho para condenar ou absolver.