SEGURANÇA

Após revelar cartel de quase meio bilhão na região, MP lança nova fase de operação contra fraudes em licitações

Operação Camaleão II teve como alvo empresas do setor alimentício que atuavam em Porto Alegre, Canoas e Viamão

O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) deflagrou na sexta-feira (3) a segunda fase da Operação Camaleão, voltada ao combate de fraudes em licitações e à manipulação do caráter competitivo de processos públicos. A ação, conduzida pela Promotoria de Justiça Especializada Criminal, teve como alvo empresas do setor alimentício que atuavam em Porto Alegre, Canoas e Viamão, e contou com o apoio da Contadoria e Auditoria-Geral do Estado (CAGE/RS).

Foram cumpridos 22 mandados de busca e apreensão com o objetivo de reunir provas sobre a atuação de um grupo econômico não declarado, que utilizava três pequenas empresas como fachada para obter vantagens indevidas em licitações municipais e estaduais. Segundo as investigações, o grupo — ativo desde 2020 — participou de pelo menos 17 licitações, adotando estratégias coordenadas para simular concorrência e favorecer empresas do mesmo núcleo familiar ou empresarial.

De acordo com o MPRS, embora nem todas as licitações tenham sido vencidas, o crime está na fraude ao caráter competitivo, ou seja, na tentativa deliberada de distorcer a livre concorrência e manipular resultados de certames públicos.

A Operação Camaleão II reafirma o compromisso do Ministério Público com a defesa da transparência, da livre concorrência e da correta aplicação dos recursos públicos, assegurando que o processo licitatório cumpra sua função de garantir igualdade de condições entre os participantes e melhores serviços à população.

Entenda a Operação Camaleão

A primeira fase da Operação Camaleão foi deflagrada em novembro de 2024, quando o MPRS revelou um esquema de cartel, fraude a licitação e lavagem de dinheiro que envolvia 17 empresas — 11 gaúchas e seis paranaenses — no fornecimento de produtos ao governo do Estado.

Na ocasião, 150 agentes cumpriram 30 mandados de busca e apreensão em dez cidades do Rio Grande do Sul e do Paraná, incluindo Porto Alegre, Viamão, Cachoeirinha, São Leopoldo, Santa Maria, São Gabriel, Soledade, Passo Fundo, Curitiba e Pinhais.

O coordenador da operação, promotor de Justiça Gérson Daiello, apontou que o grupo empresarial criou empresas de pequeno porte em nome de laranjas para participar de licitações públicas, aproveitando-se de benefícios fiscais e preferência nos certames. Assim, simulavam competição entre empresas que, na prática, pertenciam aos mesmos sócios, definindo previamente qual seria a vencedora.

As fraudes somavam mais de R$ 460 milhões em contratos públicos, com sobrepreço de até três vezes o valor de mercado em produtos fornecidos. Segundo estudos do MPRS, cartéis causam prejuízos médios de 20% a 30% aos cofres públicos, comprometendo a eficiência e a moralidade administrativa.

Repressão e continuidade das investigações

A Fase II da Camaleão aprofunda a apuração sobre a ramificação de empresas menores envolvidas no esquema e busca provas de lavagem de dinheiro, formação de cartel e fraude a licitação.

As penalidades previstas para os investigados incluem Cartel (reclusão de 2 a 5 anos), Fraude a licitação (reclusão de 4 a 8 anos, além de multa) e Lavagem de dinheiro (reclusão de 3 a 10 anos).

Empresas envolvidas em cartéis também podem ser multadas em até 20% de seu faturamento bruto, conforme prevê o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE).

As duas fases da Operação Camaleão contam com o apoio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO/MPRS), do Ministério Público do Paraná (MPPR), da CAGE, do CADE e da Brigada Militar.

O MPRS reforça que a Operação Camaleão II é mais um passo na defesa do patrimônio público e na promoção de práticas empresariais éticas em licitações governamentais. A investigação permanece em curso, com análise de documentos, mídias e dados fiscais apreendidos durante as diligências.

“O combate à fraude licitatória é essencial para garantir que o dinheiro público seja utilizado em benefício da sociedade, e não desviado por interesses particulares”, afirmou o promotor Gérson Daiello, coordenador da investigação.

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