RAFAEL MARTINELLI

Eu assinei o abaixo-assinado em defesa do judeu Breno Altman, denunciado pelo MPF por antissemitismo

Breno Altman é fundador do Opera Mundi

Assinei o abaixo-assinado em solidariedade a Breno Altman, jornalista denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por suposto crime de racismo contra judeus, incitação e apologia ao crime — uma acusação que afronta a liberdade de expressão, a inteligência e a democracia.

Estão lá nomes como Chico Buarque, Juca Kfouri, Afonso Borges, Lilia Schwarcz, Rosa Freire d’Aguiar, Leandro Demori, Paulo Sérgio Pinheiro, Eduardo Moreira, Fred Melo Paiva, Giovana Madalosso e Silvana Gontijo. Juntos afirmamos o óbvio: criticar o governo de Israel não é ser antissemita. É ser humano.

A denúncia foi apresentada na terça-feira (7) pelo procurador Maurício Fabretti, do MPF, acolhendo uma representação da Confederação Israelita do Brasil (CONIB). O promotor acusou Breno Altman de proferir discursos de ódio e de apologia ao terrorismo em postagens feitas entre outubro de 2023 e fevereiro de 2025.

A coincidência é simbólica: o mesmo dia marcava dois anos do ataque de caráter terrorista do Hamas e da escalada do genocídio israelense contra o povo palestino.

Antes disso, a Polícia Federal havia aberto inquérito e concluído o óbvio: que Altman não cometeu crime algum, apenas exerceu seu direito constitucional de crítica política. Ainda assim, o Ministério Público decidiu transformar palavras em delito.

O jornalista Breno Altman é judeu. E justamente por isso — ou talvez por isso também — tem sido uma das vozes mais contundentes contra o governo de Benjamin Netanyahu e o regime de apartheid imposto aos palestinos.

Em suas redes, Altman afirma o que parte da humanidade não sabe, ou tenta esquecer: que Israel se tornou um Estado colonial, sustentado por uma máquina de guerra e por uma ideologia de supremacia.

O procurador Fabretti enxergou nessas palavras “mal disfarçado discurso de ódio”. Eu, como tantos outros, vejo nelas coragem intelectual — e o compromisso moral de quem recusa o silêncio diante do genocídio transmitido ao vivo.

A defesa de Altman, conduzida pelo jurista Pedro Serrano, aponta: “A denúncia é um ato de racismo travestido de persecução penal. Criminalizar a crítica ao governo de Israel é transformar o direito penal em instrumento de censura política e de repressão ideológica”.

Serrano chama de “racismo institucional e islamofobia” o gesto de confundir antissionismo com antissemitismo, uma “manobra intelectual desonesta” — como se criticar um Estado fosse odiar um povo, como se o pensamento crítico fosse crime.

O silêncio imposto pelo medo

O que se busca impor a Breno Altman parece ser o silêncio pela força institucional do medo. É o velho mecanismo da intimidação, a tentativa de punir a palavra dissidente e de transformar opinião em delito.

Hoje é Breno Altman. Amanhã, qualquer um de nós.

Entre as postagens citadas na denúncia está uma publicada em 12 de outubro de 2023, em que Altman escreveu: “Podemos não gostar do Hamas, discordando de suas políticas e métodos. Mas essa organização é parte decisiva da resistência palestina contra o Estado colonial de Israel. Relembrando o ditado chinês, nesse momento não importa a cor dos gatos, desde que eles cacem ratos.”

A Polícia Federal não viu crime. Mas o procurador, sim.

O jornalista Juca Kfouri, um dos primeiros a reagir e organizador do abaixo-assinado, resumiu o absurdo: “Não há o que justifique acusar alguém de racista por causa de uma metáfora. É um atentado à liberdade de imprensa, à liberdade de expressão e à compreensão de texto.”

Não sou Chico Buarque. Nem Juca. Sou um dos ninguéns nacionais. Aqueles sobre os quais Eduardo Galeano recitava: “os ninguéns têm os mesmos direitos que os alguéns, quando se juntam”.

Assinar o abaixo-assinado é uma forma modesta, mas necessária, de dizer: não em meu nome. Não em nome do jornalismo, não em nome da liberdade, não em nome da justiça. Porque o que está sendo julgado aqui não é Breno Altman.

É o direito de pensar, de criticar, de discordar — fundamentos sem os quais nenhuma democracia sobrevive.

Ao fim, defender Breno Altman não é defender o Hamas. É defender o direito de chamar o genocídio pelo nome. É defender o direito de ser judeu e antissionista, de ser jornalista e crítico, de ser humano e solidário. É lembrar que, mais do que as palavras, o que mata é o silêncio cúmplice.

Sou um dos ninguéns que ainda acredita que a palavra pode mais do que o medo.

CLIQUE AQUI para assinar o abaixo-assinado.

 

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