Um dia após a Câmara de Vereadores de Cachoeirinha aprovar, por ampla maioria, a abertura do processo de impeachment contra o prefeito Cristian Wasem (MDB) e o vice-prefeito Delegado João Paulo Martins (PP), o governo municipal divulgou sua primeira manifestação oficial.
Em nota assinada por André Lima, assessor especial do Gabinete do Prefeito, a administração afirmou ao Seguinte: acompanhar “com serenidade e tranquilidade” o andamento dos processos político e judicial que podem resultar na perda dos mandatos de Cristian e João Paulo.
“Acompanhamos com serenidade e tranquilidade a audiência da AIJE e aguardamos a provável sentença de improcedência, pois a parte autora não fez provas das alegações, e, de outro lado, a defesa fez prova da inocência do prefeito e do vice, seja pela prova documental, seja pela prova testemunhal”, escreve o advogado.
“Quanto ao impeachment, é um direito democrático, a Câmara pode e deve fazer seu papel de fiscal, todavia, no final, certamente verá que as denúncias não prosperam, como está sendo provado no processo judicial cuja sentença sairá no início de novembro e, assim, o Governo seguirá seu mandato que tantos benefícios tem trazido à vida da comunidade”, conclui a nota.
A manifestação tenta demonstrar confiança no desfecho favorável da Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE), que tramita na 143ª Zona Eleitoral e é apontada como o principal alicerce das denúncias que motivaram o impeachment.
Impeachment aprovado com 13 votos antecipa cenário de cassação
Na noite de terça-feira (21), os vereadores de Cachoeirinha aprovaram, por 13 votos a 4, o pedido de impeachment contra Cristian e João Paulo. O placar superou com folga os nove votos necessários para a abertura do processo e sinalizou uma base ampla favorável à cassação.
Dos cinco vereadores do MDB, partido do prefeito, quatro votaram pela admissibilidade do pedido. No PP, legenda do vice, um voto também foi favorável.
A Comissão Processante, sorteada após a votação, será formada por Zeca dos Transportes (MDB) como presidente, Mano do Parque (PL) como relator e Gilson Stuart (Republicanos) como membro. O grupo terá até 90 dias para concluir o relatório final. Caso recomende a cassação, a decisão final dependerá de 12 votos favoráveis — número que o atual placar já torna provável.
AIJE é pilar das denúncias
O pedido de impeachment foi protocolado na segunda-feira (20) por Valdemir de Almeida, o Xereta, policial militar da reserva e ex-candidato a vereador pelo PL. A denúncia, elaborada pelo advogado Hendrix Gavião dos Santos (OAB/RS 118.155), acusa o prefeito e o vice de infrações político-administrativas e crimes de responsabilidade, com base no Decreto-Lei nº 201/1967.
As acusações se sustentam em dois principais fatos: a distribuição de 14 mil pares de tênis a alunos da rede municipal às vésperas da eleição, apontada como abuso de poder político e econômico; e o repasse irregular de R$ 2,7 milhões em recursos públicos durante as enchentes de maio de 2024 a pessoas físicas e empresas supostamente ligadas a apoiadores da campanha de reeleição.
O documento ainda cita relatórios do Tribunal de Contas do Estado (TCE/RS) e menciona suspeitas de superfaturamento na compra de telas interativas e uso de páginas institucionais para promoção política.
CLIQUE AQUI para acessar o pedido de impeachment completo.
Esses mesmos elementos estão sendo analisados na AIJE nº 0600571-47.2024.6.21.0143, movida pelo ex-candidato David Almansa (PT), que investiga abuso de poder político e econômico e uso irregular de verbas públicas durante a campanha de 2024.
A audiência de instrução ocorreu nesta terça-feira (21) e, segundo a defesa, reforçou a expectativa de absolvição. A sentença deve ser publicada no início de novembro.
Crise política e incerteza no comando da cidade
Com o processo de impeachment em andamento e o julgamento eleitoral ainda sem decisão, Cachoeirinha vive sua maior crise política desde a cassação do ex-prefeito Miki Breier (PSB), entre 2021 e 2022.
Caso o parecer final da Comissão Processante recomende a cassação e o plenário confirme a decisão ainda neste ano, a presidente da Câmara, Jussara Caçapava (Avante) — que votou pela abertura do processo — deverá assumir interinamente a Prefeitura até a convocação de uma eleição suplementar.
Nos bastidores, grupos políticos já articulam cenários para uma eventual sucessão.
Já o governo tenta transmitir imagem de normalidade e confiança na Justiça, apostando que a “análise isenta e serena das provas”, como afirmou André Lima, provará a inocência de Cristian e João Paulo.
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