RAFAEL MARTINELLI

Impeachment em Cachoeirinha: Cristian diz ter sido “surpreendido por vereadores amigos, parceiros, do partido, da igreja”; a primeira fala

Um dia após a Câmara de Vereadores de Cachoeirinha aprovar, por ampla maioria, a abertura do processo de impeachment contra o prefeito Cristian Wasem (MDB) e o vice João Paulo Martins (PP), o chefe do Executivo fez sua primeira manifestação pública. O pronunciamento, divulgado em vídeo nas redes sociais sob o título “Comunicado oficial”, marca uma tentativa do governo de retomar a narrativa política em meio à maior crise da atual gestão.

No vídeo, Cristian afirmou ter sido “surpreendido” pela decisão do Legislativo, que contou com votos favoráveis de parlamentares de seu próprio grupo político e até do MDB, seu partido.

“Dia 21 de outubro fomos surpreendidos com a abertura de um processo de investigação contra nossa gestão, aceito por vereadores que sempre caminharam ao nosso lado. Vereadores amigos, parceiros, vereadores do próprio partido, da igreja”, disse o prefeito.

Cristian atribuiu o pedido de impeachment a uma “denúncia ajuizada pelos candidatos da oposição” na eleição passada, que — segundo ele — já está sendo analisada pela Justiça Eleitoral.

“Tenho tranquilidade e a certeza de que será arquivada por falta de provas”, afirmou.

O prefeito também fez referência a um dos principais pontos da denúncia: a entrega de 14 mil pares de tênis a alunos da rede municipal às vésperas da eleição de 2024. A ação é investigada como suposto abuso de poder político e econômico.

“Um dos itens dessa denúncia são esses tênis aqui, que estão sendo entregues pela direção das nossas escolas. E que eles alegam que eu entreguei no período eleitoral. O que não é verdade”, declarou, mostrando o calçado à câmera.

O vídeo termina com Cristian tentando demonstrar normalidade administrativa.

“Enquanto isso, nós estamos aqui trabalhando. Mais uma demanda histórica entregue para nossa comunidade: a rua José Antônio Duarte, a rua da escola Guimarães Rosa, repavimentada e sinalizada”, conclui.

Impeachment aprovado por ampla maioria

Na noite de terça-feira (21), os vereadores aprovaram, por 13 votos a 4, o pedido de impeachment contra o prefeito e o vice. O placar superou com folga os nove votos necessários e já sinaliza uma base consolidada para eventual cassação, que exige 12 votos no julgamento final.

A Comissão Processante sorteada para conduzir o processo tem Zeca dos Transportes (MDB) como presidente, Mano do Parque (PL) como relator e Gilson Stuart (Republicanos) como membro. O grupo terá até 90 dias para apresentar relatório.

A denúncia foi apresentada por Valdemir de Almeida, o Xereta (PL), ex-candidato a vereador, e assinada pelo advogado Hendrix Gavião dos Santos. O texto cita suposto uso eleitoral da máquina pública, repasse irregular de R$ 2,7 milhões durante as enchentes de maio e superfaturamento na compra de telas interativas, entre outros pontos.

Governo tenta demonstrar confiança

Antes da manifestação de Cristian, o assessor especial do prefeito, André Lima, divulgou nota afirmando que o governo acompanha os processos com “serenidade e tranquilidade”.

“Acompanhamos com serenidade e tranquilidade a audiência da AIJE e aguardamos a provável sentença de improcedência, pois a parte autora não fez provas das alegações, e, de outro lado, a defesa fez prova da inocência do prefeito e do vice”, afirmou o advogado.

A Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE), que tramita na 143ª Zona Eleitoral, é apontada como o pilar das denúncias que motivaram o impeachment. A sentença deve ser publicada no início de novembro e pode influenciar diretamente o desfecho do processo político na Câmara.

Maior crise desde Miki

Com o impeachment em andamento e o julgamento eleitoral prestes a ser concluído, Cachoeirinha vive sua maior crise política desde a cassação do ex-prefeito Miki Breier, entre 2021 e 2022.

Caso Cristian e João Paulo sejam cassados ainda em 2025, a presidente da Câmara, vereadora Jussara Caçapava (Avante), que votou pela abertura do processo, assumirá interinamente o comando da Prefeitura até a convocação de eleições suplementares.


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