RAFAEL MARTINELLI

Hospital Regional: promessa de 350 leitos, investimento bilionário e efeitos em Gravataí e Cachoeirinha; a valsa dos 15 anos

Projeto prevê a construção do hospital regional em Viamão

O governo Eduardo Leite apresentou o projeto do novo Hospital Regional de Viamão, em audiência pública realizada no auditório da Faculdade Centro Educacional Santa Isabel (Facesi), no início do mês. Caso ultrapasse a eterna promessa, feita por diferentes governadores desde os anos 2000, o hospital regional tem potencial para oxigenar a saúde de Gravataí –– que também tem projeto de um novo hospital da Santa Casa –– e Cachoeirinha.

A iniciativa integrou a etapa de consulta pública e prevê a criação de uma unidade hospitalar com 350 leitos destinados integralmente ao SUS, sendo 60 de UTI de alta complexidade.

O projeto, desenvolvido pelo Estado em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), precisa ser viabilizado por meio de uma parceria público-privada (PPP) — a primeira do tipo na área da saúde no Rio Grande do Sul.

Pelos planos do governo, a empresa vencedora do processo licitatório ficará responsável pela construção, operação e manutenção da unidade por 25 anos, com investimento estimado em R$ 795 milhões. O Estado financiará o custeio dos serviços, com pagamentos mensais de até R$ 33,2 milhões, e, ao fim da concessão, o hospital será incorporado ao patrimônio público.

A nova estrutura, que ficará ao lado do atual Hospital de Viamão, formará um complexo hospitalar integrado com foco em ortopedia, traumatologia, neurologia clínica, neurocirurgia e cirurgia geral. O projeto inclui também serviços de diagnóstico de alta precisão, como ressonância magnética, tomografia e hemodinâmica para procedimentos neurovasculares.

A projeção é de que o contrato de concessão seja assinado em 2026, com início das obras em 2027 e operação plena prevista para 2030.

A implantação de um hospital regional em Viamão busca reduzir a sobrecarga hospitalar da Região Metropolitana, onde Gravataí e Cachoeirinha figuram entre os municípios com maiores déficits assistenciais –– problema também de Porto Alegre e Canoas.

Em Gravataí, com população superior a 285 mil habitantes, o sistema público de saúde depende quase exclusivamente do Hospital Dom João Becker, que possui 194 leitos, dos quais apenas 22 são de UTI. Isso representa menos da metade da proporção mínima recomendada pelo Ministério da Saúde — que indica 2,5 leitos hospitalares por mil habitantes.

Atualmente, Gravataí tem menos de 0,7 leito por mil habitantes, considerando tanto leitos clínicos quanto de UTI.

Levantamentos da Secretaria Municipal de Saúde indicam que mais de 60% dos atendimentos de urgência e emergência realizados na cidade envolvem pacientes de municípios vizinhos, especialmente Cachoeirinha, Glorinha e Santo Antônio da Patrulha. Essa demanda regional faz com que o hospital opere frequentemente com lotação acima de 100%, e a média de espera por internação chegue a 12 horas nos períodos de pico.

Em Cachoeirinha, com cerca de 130 mil habitantes, o cenário é igualmente crítico.

O Hospital Padre Jeremias, referência municipal, dispõe de apenas 120 leitos ativos, dos quais 10 são de UTI, e enfrenta ocupação constante superior a 90%. A falta de leitos especializados obriga a transferência de pacientes para Porto Alegre e Gravataí, o que aumenta o tempo médio de espera por internações em até 72 horas e gera filas de mais de 90 dias para consultas em especialidades como ortopedia, neurologia e cardiologia.

Segundo dados da Regulação Estadual de Leitos, a região composta por Viamão, Gravataí e Cachoeirinha registra um déficit superior a 400 leitos hospitalares em relação à demanda atual. O novo hospital deve ampliar a capacidade da rede em cerca de 20%, desafogando as emergências locais e permitindo redistribuir pacientes conforme a gravidade dos casos.

Com o Hospital Regional de Viamão, o governo estadual pretende reorganizar o fluxo assistencial da Região Metropolitana, descentralizando o atendimento de alta complexidade que hoje se concentra em Porto Alegre.

A estimativa é de que o novo complexo atenda até 15 mil internações anuais e realize mais de 100 mil exames e procedimentos ambulatoriais por ano.

A integração dos sistemas municipais está prevista desde a fase de planejamento: o hospital será interligado à regulação estadual de leitos e às redes municipais de Gravataí e Cachoeirinha, permitindo o encaminhamento direto de pacientes de urgência e especialidades.

A projeção é beneficiar cerca de 600 mil pessoas na região.

Se não restar como mais uma promessa. A valsa dos 15 anos já tocou, como analisei em Por que impacta em Gravataí projeto do Estado de construir hospital regional em Viamão; A valsa dos 15 anos toca entre a esperança no futuro e a decepção do passado.

CLIQUE AQUI para acessar mais dados e um vídeo sobre o hospital regional.


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