Associo-me ao jornalista Leonardo Sakamoto no artigo Flávio Bolsonaro imita Eduardo e comete traição ao pedir ataques dos EUA no Brasil, publicado pelo UOL. Sigamos no texto.
Flávio Bolsonaro (PL-RJ) sugeriu hoje, em uma rede social, que os Estados Unidos ataquem supostas embarcações com drogas na costa do Rio de Janeiro. Sim, você leu certo. Um senador da República, em exercício, publicamente sugere a uma potência estrangeira para realizar operações militares em nossas águas territoriais a fim de executar sumariamente brasileiros sem o devido processo legal. Normalizamos a traição.
Ele repercutia o bombardeio de mais uma embarcação pelos EUA, supostamente envolvida com o tráfico de drogas. O crime precisa ser combatido, mas não é aceitável, aqui ou em qualquer lugar, mortes infligidas sem apresentação de provas, sem acusações, sem direito de defesa, sem julgamentos, ou seja, sem o devido processo legal.
“Ouvi dizer que há barcos como este aqui no Rio de Janeiro, na Baía de Guanabara, inundando o Brasil com drogas. Você não gostaria de passar alguns meses aqui nos ajudando a combater essas organizações terroristas?”, comentou o senador sobre uma postagem do secretário de Defesa/Guerra Pete Hegseth que anunciava mais um ataque a barco pelo Tio Sam.
A postagem de Flávio é uma reencarnação do mesmo complexo de vira-lata que seu irmão, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, incorpora ao incitar o governo Donald Trump a forçar o Brasil a livrar seu pai, Jair, condenado por tentar um golpe de Estado. Por conta disso, tarifas foram impostas a produtos brasileiros, levando à perda de empregos e ao fechamento de empresas, além de sanções a instituições brasileiras.
Parece que o viralatismo foi incorporado como doutrina pelo bolsonarismo.
O que move um parlamentar a pedir algo desse tipo? É uma combinação tóxica de três elementos: a incapacidade de propor soluções complexas para problemas complexos, o desprezo pela soberania nacional quando esta não serve a seus interesses políticos imediatos e uma subserviência ideológica que enxerga nas forças armadas de outro país uma espécie de polícia global.
A questão das drogas é um problema que assola o Rio e todo o Brasil, mas a resposta não pode ser um atalho que fere a Constituição, despreza a soberania e trata o país como um protetorado, um quintal que precisa da tutela estrangeira para se limpar.
Não precisamos de uma solução “Deus Ex Machina” estadunidense para resolver nossos problemas, precisamos de autoridades que atuem de forma integrada para combater o crime organizado, estrangulem financeiramente as máfias e interrompam a promiscuidade com traficantes e milicianos, que têm sido a tônica, inclusive no Rio de Janeiro do governador Claudio Castro, aliado do clã Bolsonaro.
O que Flávio e sua trupe sugerem não é uma solução, mas a rendição. A rendição da inteligência, da capacidade de gestão e, sobretudo, da dignidade.
É uma narrativa cômoda para quem nunca soube governar. Pois é mais fácil pedir um míssil do que enfrentar as redes de corrupção, melhorar a investigação policial, investir em inteligência e promover a justiça social, medidas trabalhosas, pouco glamourosas e que não cabem em 280 caracteres.
O objetivo deveria ser posicionar o Brasil no mundo como uma nação soberana e com voz própria, mas a oposição bolsonarista trabalha ativamente para vender a imagem de um país falido, incapaz e necessitado de intervenção. É um projeto de poder que se sustenta na degradação da própria pátria que juram defender.
O pior é que, no fundo, eles apostam que os EUA não virão. Querem uma performance para uma plateia radicalizada que se alimenta do caos e da ideia de que o Brasil é uma terra sem lei. Uma encenação barata que, no entanto, tem um custo altíssimo: normaliza o inimaginável e corrói, com uma postagem de cada vez, o princípio básico de que somos uma nação livre e autodeterminada.
A solução encontrada por certos membros da família Bolsonaro para questões brasileiras é simplesmente terceirizá-las. E o prestador de serviço ideal, na visão deles, parece ser sempre o mesmo: Trump.





