O vereador Bombeiro Batista vive, de fato, no melhor dos mundos. O mesmo que descrevi no artigo anterior, quando tratei do “teste de fidelidade política” imposto pelo pedágio da ERS-020.
Na política da aldeia, esse mundo ideal é aquele em que o político é governo quando há obra para posar na foto, mas vira oposição quando há custo a pagar pela obra. E foi exatamente o que Bombeiro fez, em vídeo publicado nas redes sociais, antes mesmo de saber se o pedágio ficará dentro da zona urbana de Gravataí ou na divisa com Taquara.
Não é novidade. O oportunismo é o fogo que move sua estratégia de sobrevivência política.
No governo Zaffa 1, votou contra a reforma da Previdência que financiou a Prefeitura nos quatro anos pós-pandemia. Enquanto outros à época oposicionistas, como Clebes Mendes, compreenderam a ‘ideologia dos números’ e ajudaram a abrir um espaço fiscal de R$ 250 milhões, Bombeiro preferiu a zona de conforto. Hoje, ironicamente, desfruta das ruas e obras financiadas por aquilo que ajudou a tentar impedir.
Na duplicação da ERS-020, sua coerência também foi atropelada pelo algoritmo.
Era entusiasta da obra, mas, quando o governador Eduardo Leite apresentou o modelo de financiamento — o pedágio eletrônico, o chamado free flow —, transformou-se em opositor.
Com Leite, aliás, Bombeiro mantém uma relação de conveniência: ora se esconde na sombra do bolsonarismo envergonhado, ora aparece sorridente nas fotos ao lado do governador em entregas de obras e anúncios de investimentos. Para não perder a foto, já foi buscá-lo até no helicóptero, em chegada a Gravataí.
A dúvida é legítima: quando Leite inaugurar a elevada da ERS-118 ou der a ordem de início da duplicação da ERS-020, Bombeiro subirá no palanque, com o governador e o secretário de estado de seu partido, para mais uma foto instagramável? Ou, de modo ainda mais oportunista, fará o seu próprio vídeo, sozinho, colhendo os aplausos e os likes?
Seu grande termômetro é a rede social. É o primeiro a aparecer nas fotos das obras do governo Zaffa, mas raramente sobe à tribuna para defender os projetos estruturantes (que quase sempre são impopulares) — os que exigem coragem, cálculo e algum desgaste político.
Quando o governo precisou aprovar a reforma da Lei Orgânica, tema que lotou o plenário com servidores e ambientalistas contrários, Bombeiro entrou mudo e saiu calado. Nenhuma linha nas redes sociais. Nenhuma defesa pública. Nenhuma convicção.
Agora, com o pedágio, resolveu testar a paciência da base governista.
O vídeo em que critica o projeto do Estado foi curtido até por cargos de confiança ligados a ele dentro do governo municipal — um gesto que soou como afronta ao prefeito Luiz Zaffalon, aliado de primeira hora do governador e grato pelos mais de R$ 100 milhões de investimentos em Gravataí em um ano de dificuldades financeiras.
Zaffa, aliás, curtiu nas redes meu artigo anterior, que tratava justamente do teste de fidelidade. Coincidência ou não (e talvez Bombeiro tenha seus atenuantes), a curtida tem potencial de recado: há limites para a política do like.
Mesmo sendo o vereador mais votado por dois mandatos consecutivos, Bombeiro se mantém fora das grandes decisões do governo. O comportamento errático o empurra para o baixo clero, aquele espaço da política onde a relevância se mede em curtidas e não em votos de liderança.
Quando o chamo de ‘patinho feio’ da base, ele se irrita — mas é a consequência natural de quem prefere o aplauso fácil da multidão à responsabilidade de decidir.
Talvez, por aqueles Grandes Lances dos Piores Momentos da política, seja por isso que continua sendo o campeão de votos. Sua estratégia é simples e eficaz: é governo quando convém, e oposição quando é mais lucrativo ser contra.
Vive no melhor dos mundos — e isso, como já escrevi, é o sonho de todo político que quer aparecer na foto da obra, mas não quer assinar a conta do pedágio.
Resta saber até quando a política premiará o ‘machão de multidão’, aquele que só se move no rumo da manada. As urnas de 2026 darão a resposta. Bombeiro é pré-candidato a deputado estadual. Mas, até lá, o pedágio na ERS-020 continuará sendo mais do que um ponto de cobrança: será um espelho perfeito do oportunismo que faz fila na política gravataiense.
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