A General Motors voltará a suspender contratos de trabalhadores na fábrica de Gravataí. A informação foi revelada pela coluna de Giane Guerra (GZH) e confirmada pelo Sindicato dos Metalúrgicos.
Segundo o presidente da entidade, Valcir Ascari, 650 funcionários serão atingidos pela medida, que começa em 22 de dezembro e pode durar até dez meses, considerando a possibilidade de prorrogação.
O complexo, que emprega cerca de 5 mil pessoas entre montadora e sistemistas, ainda terá parada técnica no Natal e Ano-Novo, além de férias coletivas entre 5 e 16 de janeiro.
A GM tem promovido paradas sucessivas nos últimos anos. Mas, embora oficialmente a montadora atribua o movimento à queda nas vendas do Onix e do Onix Plus, o cenário atual sugere que a decisão pode estar ligada a um problema mais profundo — e potencialmente mais grave — para toda a indústria automotiva brasileira.
Dia 7, em Crise EUA-China ameaça parar produção da GM de Gravataí; entenda, alertei que a GM de Gravataí enfrentava um risco imediato de interrupção produtiva devido à tensão geopolítica entre Estados Unidos e China, agravada pelo episódio da nacionalização da fabricante de semicondutores Nexperia pelo governo holandês.
A retaliação chinesa, com restrição à exportação de chips, inaugurou um gargalo mundial que ainda não foi totalmente resolvido.
À época, a Anfavea alertou que o Brasil poderia viver uma “catástrofe em potencial”, com risco real de paralisia ainda em dezembro — justamente o mês em que a GM volta a recorrer a medidas de ajuste profundo.
Segundo a associação, um carro moderno utiliza de 1 mil a 3 mil semicondutores, o que faz da cadeia global de chips o componente mais sensível da produção automotiva.
Embora o comunicado da montadora cite razões internas, como ajuste de produção, o timing desperta suspeitas entre especialistas.
O economista Luiz Carlos Laureano da Rosa, doutor pelo ITA, já havia afirmado ao G1 que a ofensiva chinesa após o episódio da Nexperia poderia gerar impacto direto e imediato para montadoras instaladas no Brasil, incluindo a unidade de Gravataí.
– Sem as peças, paralisa. E aí? Como pagar funcionário sem produzir? – disse, lembrando que a falta de chips foi responsável por parar fábricas inteiras na crise da covid, entre 2020 e 2021, e causar o layoff de cerca de mil trabalhadores só em Gravataí.
Agora, novamente, uma suspensão de contratos atingindo centenas de empregados ocorre justamente no epicentro do risco geopolítico.
Para tentar mitigar o problema, o governo federal criou, neste mês, um canal diplomático direto entre montadoras brasileiras e autoridades chinesas. A medida deveria permitir autorizações especiais para importação de semicondutores mesmo sob restrições.
A iniciativa, articulada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, trouxe alívio temporário. Mas, como destacou o vice-presidente da Anfavea, Igor Calvet, o risco ainda não está afastado.
A nova suspensão anunciada pela GM reforça essa leitura: mesmo com esforços diplomáticos, a cadeia automotiva permanece vulnerável.
Gravataí sente primeiro — e mais forte
Fundada em 2000, a fábrica da GM transformou a economia de Gravataí e responde por metade da arrecadação municipal. O Orçamento 2025 atingiu R$ 1,2 bilhão.
A decisão de suspender contratos de 650 funcionários, portanto, não é apenas um movimento empresarial: é um abalo econômico para toda a região.
Isso ocorre justamente às vésperas do ciclo de investimentos de R$ 1,4 bilhão que prepara a unidade para produzir um SUV híbrido em 2026.
Semicondutores são justamente o coração desse tipo de veículo — outro indício de que o cenário global pode estar pesando na estratégia da montadora.
Nos bastidores, a dúvida permanece: A GM está reagindo apenas ao desempenho comercial do Onix — ou está antecipando um estrangulamento iminente no fornecimento de chips?
A coincidência entre datas, alertas e decisões amplifica o sinal de alerta.
LEIA TAMBÉM
Como Gravataí entra na guerra da GM e montadoras contra avanço dos chineses da BYD no Brasil






