O governador Eduardo Leite (PSD) confirmou, nesta quarta-feira (3), em vídeo gravado no Palácio Piratini ao lado do deputado estadual Dimas Costa (PSD) — seu ‘embaixador em Gravataí’, como já o chamou — a destinação de R$ 12 milhões para a duplicação do trecho urbano da ERS-020 no município.
O anúncio não é apenas mais um capítulo de investimentos na cidade: é também um retrato dos personagens, dos acordos e da engenharia política que viabilizam obras esperadas há décadas pela população.
Ao entregar o recurso, Leite foi direto:
“A 020 é uma luta tua. Um trabalho que fizeste para viabilizar esses recursos ao lado do prefeito Luiz Zaffalon. Obrigado pela parceria. Tu não é dos caras que só ficam demandando, reclamando e brigando. Tu é dos que ajudam a construir o caminho.”
E concluiu:
“Estamos fazendo investimentos históricos em Gravataí”.
Dimas, por sua vez, devolveu com o mesmo grau de solenidade — e cálculo político:
“Obrigado ao governador que mais investiu na história de Gravataí. E, ainda este ano, vamos concluir o complexo viário da ERS-118 no município”.
O vídeo, postado pelo deputado em suas redes sociais (assista CLICANDO AQUI), representa mais do que uma imagem para redes sociais: é a consagração pública de um alinhamento que tem garantido a Gravataí um fluxo de obras e recursos nunca antes registrado.
Uma duplicação, vários autores: Leite, Dimas, Zaffa, Dila, Davi e Costella
Os R$ 12 milhões anunciados agora vêm da Lei das Transações, batizada localmente de Lei Dila, em referência ao seu autor, o vereador Dilamar Soares (Podemos).
A legislação permite que empresas quitem dívidas ajuizadas com o município executando obras. O modelo virou referência regional e, no caso da ERS-020, torna-se peça-chave para complementar os recursos necessários.
Antes deste novo aporte, a mesma lei já havia garantido R$ 5 milhões para serviços preliminares e drenagem no mesmo trecho, executados para eliminar alagamentos históricos na região dos bairros Neópolis, Rosa Maria e Pôr do Sol.
No tabuleiro político, pesa ainda o trabalho do secretário da Fazenda de Gravataí, Davi Severgnini, que participou das articulações técnicas que viabilizaram o uso dos recursos; do prefeito Luiz Zaffalon (PSD), que sustenta politicamente a operação; e do secretário estadual de Logística e Transportes, Juvir Costella (MDB), que avaliza e executa as ações na malha rodoviária.
Costella, aliás, reforça a tese de Leite:
“Obra que começa é obra que termina”.
A duplicação e o debate sobre o pedágio — mesmo que os R$ 12 milhões nada tenham a ver com concessões
O anúncio desta quarta não tem relação direta com o pacote de R$ 218 milhões previstos para a ERS-020 dentro do Bloco 1 de concessões do Estado — cujo equilíbrio econômico depende da instalação do pedágio free flow na divisa entre Gravataí e Taquara.
Mas a política não vive de compartimentos estanques.
Ao elogiar Dimas como alguém que “não só demanda, mas ajuda a construir o caminho”, Leite faz alusão — ainda que indireta — aos críticos que rejeitam o pedágio, embora reivindiquem as obras.
A ‘ideologia dos números’, que já defendi em artigo anterior, mostra que o pedágio na 020 não é um mau negócio para Gravataí: fica afastado da zona urbana, não incide sobre deslocamentos diários, garante R$ 218 milhões em duplicações e mantém a ERS-118 sem cobrança, apesar das obras bilionárias.
O novo aporte de R$ 12 milhões, portanto, ajuda a reforçar a narrativa do governo: investimentos concretos, visíveis e com cronograma — enquanto o debate sobre concessão segue contaminado por ruídos políticos.
Linha do tempo: da drenagem à duplicação total
A duplicação do trecho municipalizado da ERS-020 compreende os quilômetros 3,4 a 6,4 e deve completar o segmento que liga as Moradas do Vale ao Parque dos Eucaliptos, área residencial que concentra 50 mil moradores e volume diário de 40 mil veículos.
O que já foi feito
- R$ 5 milhões da Lei Dila aplicados em drenagem e serviços preliminares;
- Conclusão das galerias de concreto que evitam alagamentos.
O que acontece agora
- R$ 12 milhões para completar a duplicação do trecho urbano.
O que vem pela frente
- Possíveis novos aportes da Lei Dila para adequações estruturais no viaduto da ERS-118;
- Investimentos de R$ 218 milhões condicionados ao Bloco 1 de concessões.
Os bastidores: como se montou o acordo
A engrenagem política que movimenta a obra tem peças conhecidas:
- Eduardo Leite: chancela, investimentos e discurso de enfrentamento aos “críticos que não constroem”
- Dimas Costa: embaixador político de Gravataí no Piratini, capitaliza cada anúncio
- Luiz Zaffalon: garante estabilidade institucional e a “ponte” com o município
- Dilamar Soares (Dila): autor da lei que financia parte da obra
- Davi Severgnini: responsável pela engenharia financeira que viabiliza a transação
- Juvir Costella: executor da política rodoviária e defensor do lema “obra que começa é obra que termina”
Ao fim, como escrevi em outras ocasiões, Gravataí vive uma fase rara: a convergência de governo estadual, prefeitura e bancada estadual em torno de um mesmo objetivo.
E, na política, alinhamento costuma ser sinônimo de asfalto.






