Diretora de Vigilância em Saúde explica aumento de casos em Canoas, conta porque o fumacê não é em toda a cidade e diz o que está levando à demora na confirmação de casos
O Aedes aegypti está zunindo por aí – e, com ele, os casos de dengue em Canoas. Nesta sexta-feira, 29, a Prefeitura confirmou 73 casos da doença em moradores da cidade, sendo 15 contaminados fora e outros 58 locais. O número total, no entanto, pode ser bem maior: 788 notificações já foram enviadas à Vigilância em Saúde. Cada vez que um paciente apresenta sintomas da doença, médicos da rede pública ou privada são obrigados à notificar os casos.
A demora nas confirmações, no entanto, tem um antigo personagem em sua origem: o Lacen, o Laborário do Estado. É lá que são feitas as análises de sangue para todos os casos suspeitos. E como há uma alta demanda, a demora acontece – e dificulta um acompanhamento mais rigoroso da expansão da doença.
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De acordo com a diretora da Vigilância em Saúde de Canoas, Elisiane Amorim, o bairro Mathias Velho segue na dianteira com o maior número de casos confirmados: são 34 casos, e outros 5 no Harmonia, que fica do lado. A região de Guajuviras, São José e Igara registrou 7 casos do início do ano até 28 de abril. Os demais estão espalhados por toda a cidade.
"Todos os pacientes que chegam ao serviço de Saúde estão sendo acompanhados, mesmo que a confirmação do exame não tenha vindo", conta Elisiane.
Mas o que acontece para que Canoas tenha esse salto de suspeitas de dengue?
"A dengue é cíclica", explica a diretora da Vigilância. "A cada três anos, temos um surto e precisamos estar preparados".
Segundo ela, a Prefeitura segue fazendo ações preventivas ao aumento de casos especialmente nos bairros onde se confirmaram os contágios. "Fazemos uma varredura em locais propícios ao surgimento do mosquito a cada 15 dias. Todos os mês, enviamos essa informação ao Estado. Não estamos inerter", afirma.
Elisiane informa que a Prefeitura conta com 44 agentes de combate à endemias – os famosos 'agentes da dengue' – que monitoram locais e fazem a orientação às pessoas sobre como combater o mosquito transmissor. "Estamos contratando mais 100 agentes para ampliar o nosso quadro", adianta.
Combate à dengue: todos podem ajudar
Elisiane Amorim explica, ainda, que o combate ao mosquito deve ser feito evitando acúmulo de água em potes ou pratinhos de plantas, pneus abandonados, caixas d'água sem tampa e piscinas sem tratamento com cloro. "Mesmo que água fique verde, precisa usar o cloro", recomenda.
São nesse locais que os mosquitos costumam depositar seus ovos. Eles sobrevivem por até dois anos nas paredes de um pote plástico, por exemplo, a espera de condições favoráveis. E uma delas é, exatamente, a presença de água. Quando ela chega onde os ovos estão, eles eclodem – o que é mais comum períodos como o início do outuno e o final da primavera, com calor mas sem o 'torrão' do verão.
As larvas levam 10 dias para se transformarem em mosquitos que, depois, vivem por um mês. Uma única fêmea produz de 60 a 120 ovos em cada ciclo reprodutivo e pode ter mais de três ciclos durante sua vida.
Por isso, é fundamental a limpeza de calhas, por areia nos potinhos de plantas onde a água possa acumular, tampar caixas d'água e tratar piscinas – mesmo durante o inverno. Sem esses cuidados, a dengue vence.
Fumacê não é recomendado para todos os lugares
Nas últimas semanas, com o aumento de casos suspeitos, a Prefeitura começou a detetizar locais específicos da cidade – o famoso 'fumacê'. Segundo Elisiane Amorim, esse método é o recomendado pelo Ministério da Saúde apenas nas proximidades de casos confirmados. "A aplicação de inseticida é feita em um raio de 150 metros da residência que tem um caso confirmado, sempre entre 7h30 e 9h", revela. O horário tem a ver com o hábito do mosquito: é nesse intervalo de tempo que ele costuma 'estar em vôo', em busca de alguém desavisado para, literalmente, chupar o sangue. "No final da tarde ele também costuma atacar. Nos horários mais quentes ou durante a noite, não é frequente.".
Elisiane conta, ainda, que o fumacê não pode ser aplicado em todos os lugares indiscriminadamente, como questionam alguns moradores. "O inseticida não mata apenas o Aedes aegypti: ele mata todos os insetos. Isso causa desequilíbrios na natureza", esclarece. Em um vídeo mostrado ao blog, colmeias inteiras de abelhas foram dizimadas com a aplicação do fumacê para combate à dengue – o que certamente inibirá a procriação de flores na região, afetando, também, a produção de mel.
"Nossas ações de combate à dengue nem sempre são visíveis, mas são permanentes. Contamos sempre com a ajuda da comunidade para eliminar em suas casas os possíveis focos do mosquito", finaliza Elisiane.