sustentabilidade

’Explode’ projeto de mina de carvão que poderia poluir Cachoeirinha; O fedor do dinheiro queimado

Fepam arquivou pedido de licenciamento da Mina Guaíba | Foto INSTITUTO ARAYARA.ORG

Resta 'explodido' o projeto que pretendia instalar a maior mina de carvão a céu aberto da América Latina e poderia poluir Cachoeirinha. A Fundação Estadual de Proteção Ambiental arquivou o pedido de licenciamento do projeto Mina Guaíba.

A Justiça Federal já tinha anulado a liberação para Copelmi extrair e beneficiar mais de 166 milhões de toneladas de carvão, 422 milhões de metros cúbicos de areia e 200 milhões de metros cúbicos de cascalho areia e cascalho, como reportei em Justiça Federal anula licença para mina bilionária que ameaçava poluir Cachoeirinha.

O gravataiense Márcio Souza, ex-vereador que é presidente do PV do Rio Grande do Sul, teve acesso à informação disponibilizada nesta segunda-feira, solicitada pelo Instituto Arayara.org por ofício protocolado no dia 10 de fevereiro após anulação judicial do licenciamento.

Ainda em janeiro de 2020 tratei da polêmica nos artigos Cachoeirinha ao alcance da poluição da Mina Guaíba; governo em silêncio e Papa do empresariado é contra Mina Guaíba; somos alvos.

As sedes da mina, que ficariam no coração da Região Metropolitana, a apenas 16 quilômetros de Porto Alegre, eram Eldorado do Sul (9km) e Charqueadas (12Km), que estão a 9 e 12 Km do epicentro. Na lista dos potenciais alvos da poluição atmosférica também estavam Guaíba (11Km); Ilha da Pintada (13Km); Canoas (20Km) e Triunfo (21Km).

Gravataí escaparia, conforme análise feita pelo Comitê de Combate à Megamineração no Rio Grande do Sul sobre o Estudo de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) apresentados pela empresa Copelmi Mineração e que estavam sob análise da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), até a suspensão – e agora arquivamento – do licenciamento.

A decisão da Fepam tem como principais pilares os mesmos efeitos alertados em publicação do CCMRS, um coletivo que congrega mais de 120 entidades, que reuniram em mais de 200 páginas estudos de 37 pesquisadores de diversas instituições de ensino e pesquisa do Estado de áreas como Biologia, Saúde, Economia, Geologia, Sociologia, entre outras.

Dados a que o Seguinte: teve acesso, divulgados no Simpósio de Saúde Planetária, apoiado por gigantes como Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Grupo Hospitalar Conceição, alertavam sobre os riscos para a saúde pública caso fosse concretizada a Mina Guaíba e o Polo Carbonífero do Rio Grande do Sul.

Conforme o professor Rualdo Menegat, do Instituto de Geociências da UFRGS, a cada hora, 416 quilos de material particulado seriam liberados no nosso ar. Durante 23 anos – que é o período de funcionamento da mina conforme o pedido de licenciamento ambiental – seriam 30 mil toneladas de pó.

Como isso atingiria Cachoeirinha?

Em audiência pública realizada em conjunto pelos Ministérios Públicos Estadual e Federal, a pesquisadora Márcia Käffer, ao analisar o EIA-Rima, alertou, e quem me lê sabia, porque reportei em uma série de artigos: no sexto ano de operação da Mina Guaíba a concentração de poluentes poderia ultrapassar em até 241% o permitido pela legislação ambiental.

Conforme a Organização Mundial da Saúde, a poluição do ar causa entre 21 e 24% das mortes por AVC; entre 23 e 29% das mortes por câncer de pulmão; entre 24 e 25% das mortes por infarto do miocárdio e 43% das mortes por doenças pulmonares – entre elas pneumonia infantil e enfisema.

O ‘outro lado’, além de esperar a autorização com base na premissa do uso de ‘tecnologia de ponta’, carregava a força de, em um Rio Grande do Sul ainda despencando do mapa, e com mais de 500 mil pessoas sem trabalho, projetar um investimento de mais de meio bilhão de reais, com a promessa de 1.154 empregos diretos e 3.361 empregos indiretos.

Para efeitos de comparação, a arrecadação de ISS em Charqueadas e Eldorado do Sul, que em 2017 foi de R$ 23 milhões, dobraria quando a extração de carvão se concretizar. Algo similar ao impacto que teria em Glorinha a instalação da Estre Ambiental.

A, para uns central de resíduos e termelétrica para gerar energia a partir do biogás, e, para outros, ‘lixão’, projeto do bilionário ‘rei do lixo’ Wilson Quintella Filho para a bucólica Glorinha, parou na Fepam após reação contrária da comunidade e uma decisão do Supremo Tribunal Federal que proíbe aterros sanitários em áreas de proteção ambiental.

Glorinha, que fica a 28 minutos de Gravataí, tem nove a cada 10 de seus 323,6 km² de território dentro da chamada APA do Banhado Grande, conforme tratei em artigos como Supremo afasta gigante do lixo de GlorinhaRegião vive Guerra do LixoA pauta-bomba dos aterros sanitários e Rei do lixo fala sobre projeto em Glorinha.

Ao fim, acertei, quando há dois anos conclui os artigos sobre a Mina Guaíba alertando: “certeza apenas que a coisa vai feder”. Fedeu. Mas o cheiro não vai chegar a Cachoeirinha, Gravataí ou lugar algum.

O cheiro de dinheiro queimado, com consultorias, projetos e pesquisas milionárias feitas pelos investidores, só sente quem está próximo.

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