Curioso e cruel caso de uma cantora negacionista que morreu ao se infectar de propósito mostra que, sem vacina, vida não chegará ao 'novo normal' que desejamos
Você e eu provavelmente não saberíamos cantar sequer uma música da cantora folk Hana Horka, falecida no domingo aos 57 anos na República Tcheca, sua terra natal. A história de sua morte, no entanto, precisa ser ouvida.
Negacionista convicta, Hana se infectou propositalmente pela Covid-19 para obter um passaporte vacinal tcheco – documento que lhe daria liberdade de circulação para voltar a fazer uma turnê depois de quase dois anos de isolamento forçado. Hana também queria "voltar a ter vida social, ir ao teatro, ao cinema e à praia", como escreveu em uma rede social. Só não queria tomar a vacina.
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O caso da cantora comoveu o país do leste europeu no final de semana e foi relatado em uma rádio local pelo filho de Hana, Jan Rek. De acordo com reportagens publicadas pela BBC Brasil e pela CNN, ele e o pai, completamente vacinados, contraíram Covid no final do ano passado e enfrentaram bem a doença, sem grandes sintomas nem a necessidade de hospitalização. Ela, então, decidiu que era hora de adquirir anticorpos para doença não pela prevenção, mas pela contaminação. No segundo teste que fez, no início da semana passada, a notícia: Hana estava com o novo coronavírus.
Na sexta, 14, ela publicou a frase sobre a vida social em suas redes, comunicando os fãs que estava contaminada.
Jan Rek contou que, no domingo, a mãe começou a se sentir mau e saiu de casa para uma caminhada. Quando voltou, sentia fortes dores nas costas e decidiu deitar-se para descansar. E dali não se levantou mais. "Ela morreu em sua cama por asfixia minutos depois", disse Rek.
Li hoje pela manhã o relato do caso de Hana Horka sem disfarçar o estarrecimento. Não se pode apontar o dedo inquisitório à Hana por uma decisão consciente que ela tomou em vida, mas a reflexão cabe: com tanta informação disponível sobre as vacinas e os efeitos positivos que elas tem demonstrado, especialmente nesta terceira onda associada à ômicron, ainda somos suscetíveis a argumentos negacionistas?
Bem, parece que sim. Em Canoas, cerca de 98% da população adulta elegível à vacina já tomou pelo menos uma dose de um dos imunizantes disponíveis. A procura mais efusiva dos primeiros dias tende a arrefecer primeiro pelo volume de vacinados e, segundo, pela realidade que ômicron apresenta: uma infecção mais branda, na maioria dos casos, que sequer exige internação ou cuidados médicos intensivos.
Poucos vem se dando conta, no entanto, que isso é resultado direto da vacinação e não da variante, como alerta a microbiologista Natália Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência, em entrevista à BBC Brasil. "O que vemos na prática até agora é que, numa população de pessoas vacinadas, a ômicron causa uma doença menos grave. Já em não vacinados, a variante está internando e matando", diferencia.
Por isso é muito importante – fundamental até – que todos cumpram o calendário vacinal à risca. Também está suscetível à doença quem tomou a primeira dose e deixou pra lá a segunda ou a terceira porque, agora, 'o bicho virou um gripezinha'. Veja o exemplo do prefeito Jairo Jorge: em dois anos de pandemia, conseguiu escapar do vírus e, agora que já completou a terceira dose da vacina, restou contaminado. A intensidade leve da doença que acomete o prefeito é o maior símbolo da eficácia da vacina.