A política de ‘covid zero’ da China pode forçar a General Motors a fechar em Gravataí, e no Brasil.
Como reportei no ano passado em Os milhões que Gravataí já perdeu com a GM parada; Aguente firme, Dominic!, a perda com a pandemia foi de pelo menos R$ 50 milhões em impostos que retornariam em 2022 aos cofres da Prefeitura.
A montadora e os 18 sistemistas parados correspondem a uma perda de cinco reais por minuto.
Não é terrorismo midiático.
Explico.
Se em 2020 as paradas aconteceram devido às restrições da pandemia, o motivo pela montadora ter produzido menos em 2021 foi a falta de peças. Em especial, semicondutores, cuja escassez também já paralisou indústrias de veículos da Chevrolet em outros países. São os mesmos usados em aparelhos de celular, por exemplo.
Reputo é o que pode voltar a acontecer em 2022.
Marta Sfredo, principal colunista de economia de GZH, postou: “… o que estava desenhado como o principal risco para 2022 do Eurasia Group começa a se materializar: com a disseminação da variante ômicron pela China, o governo do país insiste na política ‘covid zero’ e volta a impor lockdows em cidades afetadas…”.
A jornalista cita relatório do Banco Original que informa que empresas como Samsung, Volkswagen e fornecedoras de marcas como Nike e Adidas já estão enfrentando impactos na cadeia.
Também de acordo com a instituição financeira, a Toyota paralisou suas operações fabris em Tianjin. A cidade é um centro industrial que responde por 1,7% das exportações chinesas.
Ainda segundo cálculos do Original, o atraso de uma semana no comércio essencial no porto de Ningbo, a cerca de 1,1 mil quilômetros ao sul de Tianjin, pode afetar operações estimadas em US$ 4 bilhões, incluindo a exportação de US$ 236 milhões em placas de circuitos integrados.
– A escassez desses semicondutores travou a produção de vários segmentos ao redor do mundo, especialmente da indústria automobilística – conclui ela, sem citar a General Motors, o que faço eu.
Como tratei em GM parada, Onix perde liderança e Gravataí dinheiro; ’É a pandemia, estúpido’!, a conta da tragédia é que cada mês com a montadora parada corresponda a R$ 5 milhões perdidos por Gravataí.
Em uma média, o complexo automotivo que tem 5 mil funcionários, incluindo as 18 empresas sistemistas, ficou completamente parado por 10 meses entre 2020 e 2022.
Essa redução na produção corresponde aos R$ 50 milhões, ou 40% dos R$ 200 milhões recebidos de todos os impostos recolhidos pelo município.
A parada de 2021 também fez com que o Onix, produzido em Gravataí, perdesse para o Fiat Strada a liderança de vendas que comemorava desde 2015. O Onix também perdeu a liderança no ranking sem veículos maiores, como picapes, para o HB20, da Hyundai.
São perdas que se somam aos impactos do dinheiro a menor circulando na economia local.
Ao fim, o momento é de apreensão.
A volta do segundo turno da GM no segundo semestre de 2021, com produção recorde, indicava a salvação das perdas. Uma nova parada em 2022 liga o pisca-alerta, mesmo para a Gravataí que “tem dinheiro”, como o prefeito Luiz Zaffalon (MDB) disse neste janeiro na entrevista Um ano de governo, 1h com Zaffa: balanço e perspectivas; Covid, Rio, investimentos, Zaffari, pauta-bomba da Sogil e outras polêmicas.
Não vou estragar o domingo de ninguém analisando neste artigo o alerta do pinote da Ford, que anunciou nesta semana que vai encerrar a produção de veículos no país; e nem evocar uma antiga polêmica gaúcha entre os diferentes lados da ferradura ideológica.
A General Motors é uma bênção para Gravataí e, com a 'GMdependência', seria uma catástrofe desistir do Brasil, como já tratei em artigos como A GM vai embora de Gravataí; O ’Tchau, Ford!’ e nós e Se ou quando a GM for embora de Gravataí; o cavalo e o burro em 2024.
Fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos, torcida ou secação, a GM corre sim risco de parar novamente em 2022, mesmo que até puteiro reste aberto.
Com a – mais ou menos – imprevisibilidade da pandemia, seguimos como aquela personagem do Millôr que se jogou do décimo andar e, ao passar pelo oitavo, constatou: “até aqui tudo bem”; e, ao chegar ao segundo andar, refletiu: “bem, se eu não me machuquei até aqui não é neste pedacinho à toa que vou me arrebentar”.
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