O delegado João Paulo Martins assinou post no Facebook do PP de Cachoeirinha após o Seguinte: publicar o artigo MP quer investigação sobre suposto caixa 2 na campanha do delegado João Paulo à Prefeitura de Cachoeirinha. Tem fato e fake.
Antes vamos às informações.
A polêmica que explodiu no Grande Tribunal das Redes Sociais, o Ministério Público Eleitoral do Estado opinou nesta quarta-feira pela abertura de Ação de Investigação Judicial Eleitoral para investigar o suposto abuso de poder econômico e uso de ‘caixa 2’ na campanha de João Paulo (PP) e Adriano Delazeri (PRTB), candidatos a prefeito e vice de Cachoeirinha em 2020.
A AIJE tinha sido extinta pela 143ª Zona Eleitoral local.
Com a decisão, a investigação eleitoral, cuja base da denúncia foi feita pela coligação que elegeu Miki Breier (PSB) e Maurício Medeiros (MDB), será reaberta em Cachoeirinha. Uma condenação pode levar os políticos a uma inelegibilidade de 8 anos.
Siga na íntegra o post o que escreveu João Paulo e, abaixo, analiso.
“…
CAIXA DOIS?
Repercutiu hoje notícia do parecer do MP, favorável ao desarquivamento de um processo movido contra a Chapa da Coligação Cachoeirinha no Rumo Certo, por suspeita de Abuso de Poder Econômico e suspeita de Caixa 2. Do ponto de vista jurídico está tudo certo. Trata-se de um processo movido perante a Justiça Eleitoral e nada temos a temer, inclusive as contas da coligação por nós encabeçada já foram aprovadas.
O problema é a repercussão no “tribunal social”, onde não faltou oportunistas a tirarem proveito político do fato. Neste meio não temos o que fazer, além da tranquilidade de quem tem a consciência limpa. Mas vamos ao mérito: Como assim? Abuso de Poder Econômico, se fomos a candidatura que menos recursos teve. Quem foi abusado? Com que meios? Só pode ser um deboche, uma ironia, para não dizer ridículo. Logo quem nos acusando de abuso de poder econômico! E qual motivo para caixa 2? Só tem necessidade de usar caixa dois quem recebe recursos de fontes suspeitas (que não é o nosso caso), ou que extrapola os limites do caixa 1, que também não é o nosso caso.
Aliás, mais parece uma “ação ousadia”, uma tentativa na base do “se colar, colou”. Afinal um candidato desconhecido no meio político e que teve parcos recursos para campanha e assim mesmo fez tantos votos, chegando a ameaçar os detentores da máquina administrativa, com todos as vantagens que isso representa, merece o esforço para ser excluído das próximas eleições. Para isso, inescrupulosamente, utilizam-se da velha Cartilha de Lênin, “acuse os adversários daquilo que você faz…”
Com tantos problemas em nossa cidade, prefeito e secretários afastados por tantas suspeitas, lixo se acumulando nas ruas, o mato tomando conta das praças e calçadas, aí aparece alguém preocupado com um parecer que opina pelo desarquivamento de um processo que nem deveria existir.
Cachoeirinha merece mais!
Delegado João Paulo Martins
Presidente do PP
…”
Sigo eu.
João Paulo não atendeu ao Seguinte: e optou pela postagem para fazer a defesa de sua, até hoje, irrepreensível biografia na polícia civil gaúcha, a qual chefiou no RS, e, ao concorrer pela primeira vez em 2020, de ex-outsider da política.
Em resumo, o delegado nega o caixa 2 de uma campanha que todos perceberam pobre, atesta a aprovação das contas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e, claramente, culpa Miki e Maurício pela disseminação da notícia nas redes sociais.
Inclusive ironiza seus denunciantes ao escrever “ousadia”, remetendo à operação do MP estadual que, com autorização da 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, afastou o prefeito por 180 dias, o que tratei pela última vez em Justiça diz não a Miki: os efeitos da negativa de recondução à Prefeitura de Cachoeirinha; 720h sem provas públicas e em links relacionados no artigo.
É do jogo político. Como escrevi ontem, “é um parecer do MP, mas que pode não ser seguido pelos desembargadores no julgamento da corte estadual. E, caso aceito, será apenas o início de uma investigação sobre fatos que os acusados ainda nem se manifestaram sobre”. Mas, como alertei, “resta a condenação digital aos políticos – o que, segurando a lanterna de Diógenes e apontando corruptos apenas na mesa do lado, os próprios alimentam, quando se trata dos adversários”.
Reputo, porém, erra o delegado João Paulo ao usar de uma fake news comum à direita mundial, quando assina que “(…) inescrupulosamente, utilizam-se da velha Cartilha de Lênin, “acuse os adversários daquilo que você faz (…)”.
Vladimír Iljič Lênin nunca falou ou escreveu isso.
Recomendo o artigo Lênin disse isso?, de Otávio Pinto.
Leia o falso ‘decálogo’ atribuído ao revolucionário russo, publicado erroneamente por articulistas em sites nacionais como a Veja, por exemplo, e, abaixo, sigo:
"…
1. Corrompa a juventude e dê-lhe liberdade sexual;
2. Infiltre e depois controle todos os veículos de comunicação de massa;
3. Divida a população em grupos antagônicos, incitando-os a discussões sobre assuntos sociais;
4. Fale sempre sobre Democracia e em Estado de Direito, mas, tão logo haja oportunidade, assuma o Poder sem nenhum escrúpulo;
5. Colabore para o esbanjamento do dinheiro público;
6. Coloque em descrédito a imagem do País, especialmente no exterior e provoque o pânico e o desassossego na população por meio da inflação;
7. Promova greves, mesmo ilegais, nas indústrias vitais do País;
8. Promova distúrbios e contribua para que as autoridades constituídas não as coíbam;
9. Contribua para a derrocada dos valores morais, da honestidade e da crença nas promessas dos governantes. Nossos parlamentares infiltrados nos partidos democráticos devem acusar os não-comunistas, obrigando-os, sem pena de expô-los ao ridículo, a votar somente no que for de interesse da causa socialista;
10. Procure catalogar todos aqueles que possuam armas de fogo, para que elas sejam confiscadas no momento oportuno, tornando impossível qualquer resistência à causa
…”
Otávio Pinto esclarece que o “Decálogo de Lênin” nada mais é que uma versão abrasileirada de um documento apócrifo, supostamente soviético, difundido nos Estados Unidos há décadas, intitulado “Rules for Revolution” (Regras para a Revolução).
Lecionam Paul F. Boller Jr. (falecido em 2014, era historiador, Ph.D. por Yale e Professor Emérito da Texas Christian University) e John George Jr. (Ph.D., professor aposentado de Ciências Políticas na Central State University), nas páginas 114-116 do livro “They never said it: a Book of Fake Quotes, Misquotes, and Misleading Attributions (“Eles nunca disseram: um livro de citações falsas, errôneas e enganosas”), publicado pela Universidade de Oxford (tradução livre):
“…
Uma virtual abundância de citações malucas para serem utilizadas pela direita irritadiça assim que necessário, as chamadas ‘Regras para a Revolução’ supostamente se originaram no ‘secreto quartel general soviético’ em Düsseldorf, Alemanha, logo após a segunda guerra mundial, e foram parar às mãos de dois oficiais da inteligência aliada, entre eles, o Capitão Thomas Baber, que disse ter infiltrado o local. Entretanto, por alguma razão, o documento não apareceu até 1946, quando foi apresentado na edição de fevereiro de uma publicação britânica chamada ‘New World News’. Por conseguinte, o ‘American Opinion’ da ‘John Birch Society’, deu importância ao documento, como também fizeram os porta-vozes da extrema direita, Dan Smoot, Frank Capell, e Billy James Hargis. Nos anos 1970, a NRA (Associação Nacional de Rifles) entrou em cena. No ‘The American Rifleman’, órgão da NRA, em janeiro de 1973, o editor Ashley Halsey relatou que o Capitão Barber, um dos agentes da inteligência que supostamente capturara o documento ‘Regras para a Revolução’ em Düsseldorf, deixou uma cópia manuscrita de próprio punho, antes da sua morte em 1962.
Mas as ‘Regras’ são obviamente falsas; não aparentam ser nem um pouco de 1919. Conservadores respeitáveis como William F. Buckley,Jr., M. Stanton Evans, e James J. Kilpatrick, classificaram o documento como uma falsificação. Ele foi denominado como uma farsa pelo boletim anticomunista, o ‘Combat’. Uma cuidadosa pesquisa nos arquivos do FBI, CIA, Subcomitê de Segurança Interna do Senado, e nas Bibliotecas do Congresso, falhou em apresentar qualquer vestígio ‘das regras’. J. Edgar Hoover, falecido diretor do FBI, declarou que se pode ‘especular logicamente que o documento é espúrio’. Ainda assim, continuou a ser citado como autoridade nos anos 80.
…”
Ao fim, o “Decálogo de Lênin” é fake.
Mas, perceberam que Bolsonaro, deprimente da república do delegado João Paulo, praticamente o gabarita?
Sobre a investigação, que é o que mais interessa para todes de Cachoeirinha, já antecipo: não vai dar em nada além de, talvez, uma multa eleitoral pelo atraso no lançamento dos dados no site do TSE.
Mas, João Paulo, até então um outsider, experimenta as necessidades de explicação aos que se metem em política.
"Os fatos são teimosos" (Lênin).