Documento assinado pelo presidente do Sindicato Metropolitano avisa que a partir da meia-noite de segunda, nada de ônibus intermunicipais
Há dois anos sem reajuste e enfrentando os efeitos de uma crise sem precendente nas empresas de transporte coletivo, motoristas e cobradores da Região Metrolitana aprovaram uma greve geral da categoria a partir da meia-noite de segunda-feira, dia 9. O movimento deve afetar as cidades de Canoas, Gravataí, Cachoeirinha, Nova Santa Rita, Alvorada e Viamão. Quem depende de ônibus para ir de uma cidade a outra ou para Porto Alegre, por exemplo, pode enfrentar dificuldades desde as primeiras horas da manhã caso o impasse não seja solucionado antes do início da semana.
Há uma chance para que tudo seja evitado, porém.
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A greve acontece depois de que o acordo assinado em dezembro do ano passado não foi cumprido pelas empresas de transporte metropolitano. Em 2020, com os primeiros efeitos da pandemia sobre a circulação de pessoas e a queda abrupta no volume de passageiros transportados, empregados e empregadores aceitaram reduzir em 50% o valor do vale-alimentação pago aos motoristas e cobradores e o adiamento da quitação do terço de férias para 31 de julho mesmo para quem tenha saído em período anterior.
O prazo chegou e o dinheiro não.
"Nem estamos pedindo reajuste, embora a categoria esteja há dois anos sem reposição e, todos os dias, os preços no mercado sobem", conta o secretário do Sindimetropolitano, Alex Araújo. "Essa greve é nosso último recurso".
Ele lembra, ainda, que ao longo de 16 meses de pandemia já foram demitidos cerca de 1,7 mil rodoviários somente na base do sindicato metropolitano, muitos deles recebendo as rescições de forma parcelada. "O certo seria receber tudo, reorganizar a vida. Acabam aceitando parcelamentos em 20 ou 30 vezes e não sabem se vão receber até o final. Essa situação está bem difícil".
Com o aviso de greve emitido três dias antes da paralisação, o sindicato espera que aconteçam novas rodadas de negociação – e esta é a chance de não haver prejuízo ao transporte se os ônibus não saírem das garagens na segunda. A Associação de Transportadores de Passageiros, a ATP, que reúne as empresas que operam o sistema metropolitano, ainda não se manifestou sobre a greve.
Recurso extraordinário
No início do ano, o Governo do Estado informou as empresas que disponibilizaria o montante de R$ 86 milhões para cobrir parte do déficit do distema de transporte. O valor viria como uma forma de subsídio para diminutir o impacto da perda estima em 75% no volume de passageiros ao longo de 2020. Esse recurso, no entanto, ainda não foi pago e, de certa forma, pode ser a tábua de salvação para evitar uma parada abrupta do sistema.
De acordo com um estudo feito pelo Comitê de Dados da Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão do Estado em maio do ano passado, a queda de receita do sistema metropolitano chegou a R$ 100,3 milhões. O estudo estimou perdas médias de 43,4% na arrecadação do sistema nos primeiros quatro meses da pandemia – que já dura mais de 16.
Além de projetar o impacto negativo na receita na ordem de R$ 25,1 milhões ao mês nesse período, a pesquisa apontou que os custos estimados seriam de R$ 44,7 milhões, mesmo com uma redução de oferta de ônibus na ordem de 60%. Em média, os salários dos funcionários e combustível representam 70% dos custos para as linhas intermunicipais operarem.