Com quase 115 mil testes realizados, Canoas mapeia incidência do vírus e já fez em três meses de 2021 quase tantos testes quanto em 10 meses de 2020
Testagem em massa foi a tática chinesa para mapear a proliferaçaõ do novo coronavírus a partir de Wuhan, o marco zero da pandemia no mundo, ainda em 2019. O que se sabe sobre a incidência do vírus que pode proliferar-se entre assintomáticos, se sabe pelos estudos chineses. No Brasil, entre passos lentos e paralisias propositais ou não, nunca insistimos em rastrear a Covid-19. Programa conduzido pela Universidade de Pelotas, a UFPel, com coletas em Canoas, trabalha com amostragens – e não com testagem em massa.
Ao seu modo, em 2021 Canoas está revendo essa questão.
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Promessa do prefeito Jairo Jorge (PSD) recém empossado em janeiro, o município comprou 60 mil testes rápidos IGG-IGM e mais 9,5 mil de detecção de antígeno, cujo tempo de resposta é de 15 a 20 minutos. Além disso, a Prefeitura recebeu 211 mil testes RT-PCR e 3,5 mil testes rápidos, enviados pelo governo federal, o que possibilitou a ampliação da testagem da população. Nos próximos dias, Canoas chega à marca de 115 mil testes realizados – praticamente 1 em cada 3 entre os 348.408 habitantes do município já procurou saber se tem ou teve Covid pela rede pública.
Para se ter uma ideia do incremento que isso significa, em 10 meses de pandemia em 2020, a cidade fez 58.924 testes; de janeiro até 25 de março, já foram outros 55.848 – uma média de 18,6 mil por mês e mais de 620 por dia.
Mas o que essa testagem toda pode dizer sobre o enfrentamento à pandemia hoje, no pior momento da crise da coronavírus, quando chegamentos à lamentável marca de 1000 óbitos pela doença?
Muito. Semana passada, em entrevista ao blog, o secretário de Saúde Maicon Lemos deu um dado que emerge da aplicação dos testes e indica a fase da pandemia em que estamos neste finalzinho de março. Segundo ele, entre os dias 8 e 17 de março, de cada 10 testes feitos em Canoas, 2,5 deram positivo para Covid-19. "Agora, são 5%", contou. A incidência cinco vezes menor aponta um arrefecimento da disceminação – ou a 'estabilização por cima', como especulo na postagem Pandemia: estamos no pico, platô ou ’o pior já passou’; seis dias com UTIs abaixo de 100 por cento.
Trocando em miúdos, o vírus tirou o pé do acelerador – e não por acaso. Estamos há 21 dias sob o regime da bandeira preta, com drástica redução de atividades noturnas e o cerco se fechando sobre as aglomerações. Digo melhor, para que fique mais claro: o comportamento do vírus segue o mesmo, mas o nosso foi alterado pela regra do distanciamento. E deu certo. No auge da pandemia por aqui, a tática da alta testagem já indica queda no número de contaminados. Com sorte, a saturação nas UTIs e enfermarias dedicadas aos pacientes com Covid-19 também melhora nas próximas semanas.
Não faço essa análise para concluir que está na hora de um 'libera tudo', como alguns podem crer que seja o certo; enxergo meu papel como o do cara com a luneta no alto do mastro do navio; se vejo esperança por entre a neblina, alerto: estamos no bom caminho. Distanciamento e prevenção é fazer a nossa parte. De nada adianta reclamar que as regras nesse barco não nos convém: o importante é chegarmos inteiros – e vivos – ao outro lado deste tenebroso oceano.