Boletim divulgado no final de semana mostra que áreas mais populares são as que tem menos casos por mil habitantes
Essa é para despir os preconceitos.
Onde é mais fácil você, cidadão canoense, contaminar-se por Covid-19? Hoje, no Igara. É o que revela o mais recente Mapa Epidemiológico de Canoas, divulgado no final de semana pela Prefeitura com números do contágio de março do ano passado até sábado, 13. O mapa indica a incidência por bairros e regiões da cidade dos casos confirmados da doença – e, não, não serve para responsabilizar moradores daqui ou dali pela proliferação do vírus.
Serve, sim, como alerta.
O Igara, típico bairro de classe média em Canoas, está acompanhado no topo da tabela pelo São José, com perfil sócio-econômico bem parecido. Por lá, temos 144,94 e 126,13 casos de Covid-19 por cada mil habitantes. Trocando em miúdos, é como montar uma longa fila com 100 moradores do Igara, e identificar que 14 tem ou tiveram Covid-19 ao longo dessa pandemia. No Centro, para se ter uma ideia, a incidência é de 105,16 para cada mil.
LEIA TAMBÉM
CANOAS | Com tosse e sintomas respiratórios: unidades de saúde desafogam emergências e UPAs
Na outra ponta da tabela, curiosamente, está o Guajuviras. Com 61,12 casos por mil habitantes – um pouco mais de 6 em 100 naquele mesmo exemplo da fila – é onde a incidência de Covid é menor em toda a cidade. Abaixo, só a Brigadeira e o Industrial que tem números baixos porque concentram pouquíssimos moradores.
Em números absolutos, o Mathias Velho lidera o ranking geográfico da Covid-19, com quase 4,3 mil casos da doença. Na média por mil, o Mathias é 11º em incidência, com pouco mais 8 por 100 habiantes.
A leitura do mapa epidemiológico indica que conforme cresce o nível sócio-econômico médio dos moradores do bairro, mais o vírus circula. E isso diz muito sobre nossos hábitos de isolamento e conduta diante da necessidade de restringir a circulação. Impossível não nos perguntarmos, por exemplo, porque pessoas com melhor formação e poder aquisitivo estão pegando mais a doença enquanto pessoas sem as mesmas condições, não?
Tenho uma teoria. E me incluo nela, sem hipocrisia.
Nos acostumamos a pensar que estamos seguindo a risca as normas do distanciamento, nos queixamos nas redes sociais sobre a falta que sair de casa com liberdade tem feito aos nossos corações. Mas, na prática, não é assim que agimos. Mesmo em casa, usamos de todos os subterfúgios para sair a hora que quisermos. Dando a desculpa do pão nosso de cada dia, vamos cinco ou seis vezes na semana à padaria; umas quatro ao supermercado porque, afinal, precisamos comer; ao açougue outras tantas – domingo não pode aglomerar, mas o churrasquinho é sagrado. E, assim, conforme a capacidade do nosso bolso, o isolamento se flexibiliza por si só.
Coube ao Guajuviras, uma comunidade popular que nasceu de uma invasão, uma fundamental lição a todos nós sobre como conter o contágio. Lá, entre pessoas que lutam pela sobrevivência com o auxílio federal, Bolsa Família ou o emprego que ainda tem, menos gente aglomera ou circula na rua do que nosso preconceito costuma achar. E se o vírus não entra em casa, a incidência da Covid cai.
Guajuviras: todo o teu povo está de parabéns.