crise do coronavírus

Vida perdida pela COVID: A história de Robertinho Andrade, vereador de Gravataí

Roberto Andrade exercia o quinto mandato consecutivo como veredor

O presidente do legislativo municipal Alan Vieira decretou luto oficial de sete dias. O prefeito Luiz Zaffalon decretou luto de três dias.

Robertinho deixa um filho, Leonardo, de 23 anos, e os pais Zeca e Laci.

Quem assume a cadeira na Câmara é o suplente Roger Corrêa (PP).

Em 2016 fiz um perfil de Robertinho, antes dele se reeleger por mais duas vezes.

Reproduzo abaixo PERFIL ROBERTO ANDRADE | Oi, é o Robertinho.

 

: Robertinho no churrasco depois do futebol com a mesma turma há 15 anos

 

"…

Toda manhã Roberto Andrade bate na porta de alguém.

– Meu hobby é fazer visitas. É lazer de político. A gente acaba vivendo a vida dos outros. Gosta do que o eleitor gosta – resume o vereador, que na região do seu bairro, o São Judas Tadeu, é capaz de recitar o nome e sobrenome de antigos e novos moradores.

Muitos são amigos de infância, do time de futebol de salão das segundas-feiras dos últimos 15 anos, outros o viram crescer, no tradicional comércio da família – sempre ao lado do pai, seu Zequinha, um dos moradores mais antigos daquela região – ou fazendo campanha de casa em casa.

– Nas minhas visitas é atrito zero: cuido da minha vida e deixo os outros cuidarem das suas – recita o baixinho agitado, amante do tradicionalismo e que não deixar passar um violão sem tocar e um microfone sem cantar.

– E se me pedem o que não posso fazer, não enrolo. Sou parceiro para brigarmos juntos, mas se me dizem que outro prometeu fazer, não tem problema: desejo boa sorte e dou os parabéns.

 

: Robertinho (com o violão) tomando um chope e fazendo um som com os amigos do tradicionalismo

 

Lugar de vereador é na rua

 

Robertinho não esconde a ansiedade quando está na Câmara. Muitas vezes chega a minutos de começar a sessão.

– Não gosto de ficar aqui. Prefiro estar no meio do povo. Permaneço o necessário para tocar o serviço, fazer os encaminhamentos necessários e depois vou tratar de ouvir e atender as pessoas onde elas estão. E, pode ter certeza, não é no prédio da Câmara.

O vereador é daqueles que ficam se mexendo na cadeira e olhando o relógio quando ocorrem intermináveis debates nas sessões:

– Ficar discutindo quem foi melhor, quem foi pior, só traz desgaste e não resolve nada. É só queimação. O que a comunidade quer saber é das coisas feitas, é quem e quando vai fazer, não quem fez ou não fez, ou porque fez ou deixou de fazer – argumenta.

 

: Na rua é que Robertinho diz que se sente bem

 

Ligação na espera

 

A discrição nas sessões do legislativo contrasta com o comportamento de Robertinho nas relações internas com o governo Marco Alba (PMDB), do qual faz parte. Ano após ano, líderes do governo na Câmara, secretários municipais e até o prefeito tem seu telefone seguidamente no topo da lista de ligações. Ele não se constrange a levar adiante os pedidos das comunidades que atende. E ficar em cima cobrando soluções.

Esse comportamento explosivo pode ter custado a ele a presidência da Câmara no ano passado. Um desentendimento entre os dois foi o motivo, ou a desculpa, usada por Juarez Souza (PMDB) para articular o rompimento de um acordo, firmado entre os vereadores governistas, que reservava ao PP o comando do legislativo no terceiro ano. Inicialmente, o presidente seria Robertinho.

O partido ainda tentou lançar outro vereador, Beto Pereira, mas Juarez venceu com a ajuda dos votos da oposição, de descontentes com o governo e de um rival eleitoral de Robertinho na região onde moram: Paulinho da Farmácia.

– Os motivos para romper tem que perguntar para eles. São coisas da política… – despista, visivelmente incomodado com o episódio.

 

: Robertinho, um dos vereadores que mais levam pedidos aos governos, é um 'fiscal' das obras pela cidade

 

Do tempo do PDS

 

Presidente do PP desde 2000, ao herdar a função da falecida professora Nelcinda Barth, Robertinho tenta manter o partido vivo, mesmo com a saída de Beto Pereira – a quem trouxe para o partido, com a promessa cumprida de um “vem que a cadeira é tua!”, e agora foi para o PSDB, reclamando da falta de apoio da direção estadual.

– Somos um partido sem cacique, sem grande empresário ajudando. Quem vem é porque acredita – diz o futuro advogado, que milita no partido desde que se chamava PDS, e guarda uma carta na manga para a nominata de candidatos a vereador.

– Somos grandes, mas muito no interior. Sempre disse que aqui na região temos que fazer por nós, que temos uma estrutura independente.

 

: Robertinho, na convenção estadual do partido, é a principal figura do PP em Gravataí

 

Em nome do filho

 

Robertinho é candidato à reeleição, mas cogita até largar a política depois de um novo mandato.

– Não consigo evitar chorar ao falar disso, mas meu guri (Leonardo) está com 19 anos e perdi a infância dele, raramente o levei a uma pracinha, convivemos muito pouco juntos quando era pequeno. A política absorve demais. Quero mais tempo com ele.

– E quando entrei na política, você era respeitado por ter um mandato. Hoje qualquer criança na rua já te chama de ladrão – desabafa.

 

: Robertinho num Natal com o filho e o sobrinho

 

Um pouco da história – e das histórias – do Roberto Andrade:

 

Filho de José e Laci, Roberto Carvalho de Andrade nasceu em 29 de janeiro de 1976 e já veio do hospital Conceição em Porto Alegre para o bairro São Judas Tadeu, em Gravataí, onde mora até hoje.

Antes os Andrade – agricultores, artesãos de balaio e donos do ‘armazém e bolicho’ do terceiro distrito de Santo Antônio da Patrulha, com salão de baile, cancha de bocha e o campo do Cosmos – migraram em família para o bairro.

– O pai foi um dos pioneiros do bairro. Tinha muito pouca casa na época – conta.

 

: Robertinho com os irmãos e o pai Zequinha no aniversário da mãe Laci

 

Armazém de baleiro

 

A infância do gremista fanático “Peco”, que só depois virou Robertinho, foi de muito futebol, cela, bolita e chimpa. Estudante das escolas públicas Luiz Bastos do Prado e Luis de Camões e do particular Gensa, desde guri ajudava no Armazém Andrade, como também o fizeram os irmãos Ronaldo e Carina.

– Era armazém de baleiro antigo. Inclusive neste Natal, para lembrar, demos um baleirinho daqueles de presente para o pai. Caderninho tem até hoje. Sempre foi trabalho, mas também um divertimento para nós.  – orgulha-se.

Até os 14 anos, Robertinho, além de atender no balcão, recebia o padeiro que chegava de charrete, para trazer o pão de quarto de quilo, e enrolava as balas de menta e funcho que eram compradas a granel.

– Fazia assim, ó – mostra, enrolando rapidamente um papel, que tinha sobre a mesa.

– Tenho essa mania de comerciante de ter sempre um papel e uma caneta na mão.

Para cruzar as fronteiras do bairro, ainda adolescente trabalhou no balcão da Madeireira Brasil, na parada 70, até servir ao Exército. Depois, mecânico formado pelo Senai, passou pela Engel, Digicon e Fitesa, de onde saiu somente em 2012.

– Às vezes sinto saudade de quando me chamavam para resolver um problema de madrugada na empresa. O cara era Deus! Agora na política…

 

: Robertinho em reunião de campanha nos fundos do bar e mini-mercado do pai no São Judas Tadeu

 

A vez do guri

 

Desde piá acompanhava o pai nas reuniões políticas, no próprio armazém, no clube Figueirense, ou na casa de alguém. Zequinha, sempre pelo PDS, foi candidato a vereador em 1988 (98 votos), em 1992 (249 votos) e 1996 (258 votos). Em 2000, filho e pai tiveram uma conversa.

– Pai, meus amigos querem que o candidato seja eu. É mais fácil o senhor convencer os seus amigos a votarem em mim.

– Mas tu é uma criança!

Robertinho foi o candidato e, aos 20 anos, fez 605 votos. Tinham mais uma vez batido na trave. Em 2004, a esperança de uma eleição arrefeceu com a decisão de redução do número de vereadores de 21 para 14.

– Achei que estava morto. Tínhamos dois vereadores concorrendo à reeleição. O pai dizia “é eu e tu e os outros tem um exército”, mas eu falava para ele que nós conseguíamos entrar em qualquer casa.

Robertinho foi o único do partido a se eleger, com 1495. Em 2008, “sendo sempre o mesmo”, foi eleito novamente com 2514 votos e, em 2012, com 2448.

Em 2014, concorreu a deputado estadual, na estratégia do PP de dar palanque em diferentes municípios para – à época ascendente – candidatura da senadora Ana Amélia Lemos ao governo gaúcho.

– Cobro no partido que as pessoas concorram, não poderia deixar de dar exemplo – diz Robertinho, que fez 5520 votos e não foi eleito.

 

: Robertinho com a senadora Ana Amélia Lemos na campanha dele à Assembleia, e dela ao Piratini

 

OS PRINCIPAIS PROJETOS APRESENTADOS PELO ROBERTINHO:

“Apresentei projetos como o que proíbe carro-forte de descarregar o dinheiro pela porta da frente dos bancos, para evitar ataque de bandidos num local onde circulam muitas pessoas; o que assegura a irmãos a matrícula na mesma escola, já que muitas vezes os mais velhos levam os mais novos e o que dá direito ao consumidor de levar outro semelhante sem custo quando verificar produto vencido à venda”.

 

UM ARREPENDIMENTO NA VIDA PÚBLICA:

“Ter me dedicado muito à política e não ter ficado tempo suficiente com minha família”.

 

O ROBERTINHO PELO ROBERTINHO, EM UMA PALAVRA:

“Trabalhador”.

 

OS PLANOS DO ROBERTINHO:

“A reeleição e me formar. Cheguei a cursar quatro semestre de Ciências Políticas, mas me achei no Direito: estou no 8º semestre”.

 

O QUE DIZ PARA O ELEITOR QUE NÃO ACREDITA MAIS NOS POLÍTICOS:

“Nem todos são iguais. E não há corruptos sem corruptores. É preciso dar valor ao voto”.

 

UM POLÍTICO ADMIRADO PELO ROBERTINHO:

“João Augusto Nardes”.

 

O CANDIDATO A PREFEITO DO ROBERTINHO:

“Marco Alba”.

 

CLIQUE AQUI para acessar a galeria com mais imagens ao fim da reportagem.

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