Edir Oliveira é o novo presidente do PTB gaúcho. O ex-prefeito de Gravataí e ex-deputado federal foi nomeado pelo presidente nacional Roberto Jefferson, que destituiu o diretório estadual ao assumir o front de Jair Bolsonaro na guerra com o governador Eduardo Leite (PSDB).
Em resumo, é aqui da aldeia, nesta segunda 15 de março, a notícia estadual e nacional da política, o principal representante do bolsonarismo no Rio Grande do Sul – o que não me surpreende, já que Edir era um diário contestador de artigos meus e, em trocas de mensagens que tínhamos, expunha convergências, e trocas de vídeos, entre ele e o controverso “amigo” Jefferson.
Os detalhes da polêmica, que inclui um áudio com pregações homofóbicas de Jefferson, você acha em sites estaduais e nacionais.
Siga entrevista dada com exclusividade ao Seguinte: por Edir, que já preside formalmente o PTB, partido pelo qual Bolsonaro deve concorrer à reeleição em 2022.
Em contraste com a agradável conversa, que reproduzo os principais trechos, é uma das entrevistas de conteúdo mais controverso que já publiquei em 25 anos de jornalismo.
É Edir ressurgindo na política como fênix, e/ou pteurossauro – conforme o gosto do leitor.
Seguinte: – Já está com o fuzil para a guerra?
Edir – (risos) AR-15. Estou nomeado presidente sim.
Seguinte: – A ordem é sair do governo Leite?
Edir – Vamos montar uma executiva provisória e ouvir a base petebista e os 5 deputados estaduais e 3 federais. Ficar ou sair é decisão deles, e também do vice-governador Ranolfo. Não basta para o PTB nacional que o partido no Rio Grande do Sul seja tratado apenas como um aliado por cargos, quando decidiu a eleição, inclusive convencendo o PDS (PP) a participar da aliança quando ninguém queria coligar com Leite. O que acontece é que o PTB já não tinha nenhum poder de decisão. Nem falo da questão da pandemia, mas principalmente dos projetos estruturantes para o Estado. Em resumo: não apitamos nada.
Seguinte: – A narrativa que está prevalecendo na mídia estadual e nacional é que Jefferson força a saída do PTB do governo Leite como adesão a Bolsonaro e crítica ao lockdown.
Edir – Não foi só por isso. É notório que o PTB é contra medidas restritivas de lockdown, mas desgostou ao presidente nacional o vice-governador, de nosso partido, ter colocado neste domingo um aparato de repressão policial frente ao Palácio Piratini, embretando manifestantes como gado na mangueira. Isso é antidemocrático. E o PTB é um partido democrático.
Seguinte: – Mas aglomerações estão proibidas para todos.
Edir – Não foram para aglomerar. Era uma carreata. Só desceram para manifestar a contrariedade quando os carros foram impedidos de passar pelo Palácio. Houve manifestações em todo país. Nos últimos dias, não só a favor de Bolsonaro, mas de Lula também. A manifestação era contra o lockdown, como fizeram milhares de pessoas em todo Brasil.
Seguinte: – O governo Luiz Zaffalon, do qual seu PTB faz parte, e apoiaste na eleição, segue medidas restritivas do governo Leite, e hoje, após a Santa Casa fechar a emergência do Hospital Dom João Becker, o prefeito reuniu entidades empresariais para discutir a possibilidade de um lockdown de verdade. Se acontecer a restrição maior de atividades, vais defender a saída do partido do governo em Gravataí?
Edir – Reafirmo que a crítica do presidente nacional do PTB não é quanto ao mérito das medidas restritivas, mas sim quanto ao posicionamento do vice-governador como secretário de Segurança. Ele defendeu que Ranolfo entregasse o cargo. Ou que se submeta às linhas de atuação do PTB.
Seguinte: – Que é pró-Bolsonaro…
Edir – O PTB apoia o governo do presidente Jair Bolsonaro, que é conservador e cristão. Estamos em uma guerra para impedir a venezuelização do Brasil, que é o que vai acontecer se o PT assumir o governo. Quem é contra Bolsonaro é a favor da implantação desse regime que não interessa ao povo brasileiro. Quem não defender isso dentro do partido, que busque outra sigla. Nosso PTB foi fundado por Getúlio Vargas com base em uma encíclica papal, que reconhece Cristo como filho de Deus, e não um guerrilheiro do comunismo, como a Teologia da Libertação, movimento da igreja católica. Estamos preocupados com a família brasileira e a soberania nacional.
Seguinte: – É verdadeiro o áudio creditado a Roberto Jefferson onde faz manifestações homofóbicas, critica a suposta orientação sexual do governador Eduardo Leite e cita o apóstolo Paulo dizendo que “homens que amam outros homens são perversos, intrigantes, inconfiáveis”?
Edir – Ele fez a gravação, mas não era para ser um áudio público. Alguém vazou.
Seguinte: – O senhor concorda com isso?
Edir – Não acho que a questão do homossexualismo tenha a ver com conservadorismo ou não. O que disse no áudio é opinião dele, mas reservada. Jefferson nunca fez uma manifestação homofóbica.
Seguinte: – Até hoje…
Edir – Não foi uma manifestação pública. Reputo folclórica, como outras dele em relação a ministros do STF. Nosso conservadorismo não é contra orientação sexual de ninguém, mas sim contra política de gênero nas escolas, com professores usando da idolatria frente aos alunos para disseminar ideologia, ou momentos deploráveis como aquele desfile de escola de samba que ridicularizou Cristo. Somos contra essas ações satanistas.
Seguinte: – O caminho de Bolsonaro é o PTB para disputar a reeleição em 2022?
Edir – Tudo indica que sim. O presidente desistiu de fundar a Aliança pelo Brasil e não tem muitas alternativas. Somos um partido conservador, de princípios cristãos, mas não somos da igreja x ou y.
Seguinte: – Jefferson ungiu Edir como o principal representante do bolsonarismo no Rio Grande do Sul?
Edir – Não, temos muitos bolsonaristas no PTB. Fui escolhido pela experiência de já ter sido presidente. E, modestamente, asseguro que nas consultas feitas por Roberto Jefferson à nossa base o meu nome foi bastante ventilado. Temos amizade e confiança, lealdade de parceiros desde Brasília. Quando fui presidente o PTB era uma sigla de posições políticas e não um partido de interesses de bancadas legislativas.
Seguinte: – O atual prefeito Luiz Zaffalon ou o ex-prefeito Marco Alba já fizeram contato após sua nomeação?
Edir – Ainda não. Certamente estão respeitando as questões internas de nosso partido.
Seguinte: – Não temes a História te cobre o alinhamento com o governo Bolsonaro e uma gestão da pandemia que tem mais de 250 mil mortes?
Edir – Essa é uma narrativa que a esquerda constrói. Uma esquerda que jamais me apoiou ou apoiará. Bolsonaro não está omisso na pandemia como a Globo capitaneia e a mídia, vocês, seguem. Ele teve que cumprir a determinação do STF de que não cabe a ele a condução.
Seguinte: – Isso não é verdade. O que o STF decidiu é que a gestão pode ser feita por governos federal, estadual e municipal…
Edir – Volta lá e lê a sentença. Repartiram como o SUS. A União manda o dinheiro e os estados e municípios decidem.
Seguinte: – Insisto que não é verdade. Há opiniões de juristas e, para ficar em minha área, se não vale o Martinelli de Gravataí, tem o Reinaldo Azevedo, jornalista de renome nacional…
Edir – Ah, mas qual é a tendência dele? É lulista!
Seguinte: – Não! Apoiou golpeachment contra Dilma e é o autor de No País dos Petalhas I e II.
Edir – Isso foi em outra época. Hoje é lulista porque não está mais ganhando dinheiro do Bolsonaro.
Seguinte: – Achas que essa relação entre mídia e governo se resume a isso?
Edir – Sim.
Seguinte: – Então se Bolsonaro injetasse dinheiro na mídia seria possível não levar em conta 250 mil mortes e uma gestão mundialmente considera a pior da pandemia? Faço uma provocação: em resposta anterior disseste que professores usam da “idolatria” para incutir ideologia nos alunos. Bolsonaro é um ídolo para muitos, o ‘mito’, então pela mesma lógica tem culpa pelos absurdos que diz e pela forma como incentiva o descumprimento de protocolos sanitários na pandemia…
Edir – A culpa não é do Bolsonaro. Ele saiu para a rua, mas não pode ser responsabilizado por outros saírem. A verdade é que as pessoas cansaram do “fique em casa”. As mortes diminuíram, as prefeituras desmontaram hospitais de campanha, o governador trouxe 12 pacientes com a nova variante do coronavírus para tratar aqui, e queriam que o povo pensasse o quê?
Seguinte: – Outra provocação: zerando tudo, aceitando ou não as culpas do lado que for da ferradura ideológica, o que fazer agora? Há saída além de um lockdown de verdade?
Edir – O tratamento precoce. Só que vocês botaram na cabeça até dos médicos de que é um crime receitar. Eles têm medo de ser lacrados.
Seguinte: – O mundo não usa. Acreditas então em uma conspiração mundial?
Edir – Sim. A pandemia serve ao propósito da Nova Ordem Mundial de terminar com a economia global.
Seguinte: – Acreditas então que o novo coronavírus foi criado para isso?
Edir – O vírus foi criado como arma química.
Seguinte: – No que o governo de Gravataí, do qual fazes parte, se difere da “Nova Ordem Mundial”?
Edir – Não é um governo de prática comunista. Conheço as pessoas que dirigem a Prefeitura e são preocupadas com a vida.
Seguinte: – O tratamento precoce não é adotado como política de governo em Gravataí. É um erro?
Edir – É um erro. Já solicitei, mas respeito a decisão de deixar que o médico decida. Mas como disse, estão com medo da lacração.
Seguinte: – Já perdeste algum familiar para COVID?
Edir – Não perdi, graças a deus. Todos que contraíram o vírus tomaram o tratamento precoce.
Seguinte: – Bolsonaro não errou ao chamar a COVID de “gripezinha”?
Edir – Errou, mas foi induzido ao erro. E também foi deturpado. Ele citou o que disse Dráuzio Varella na Globo para defender que não precisava fechar o país. Mas disso vocês esquecem.
Seguinte: – Edir usa máscara?
Edir – Sim.
Seguinte: – Edir é a favor da vacina?
Edir – Sim. Tenho 71 anos e aguardo minha vez, graças ao Bolsonaro que está comprando a vacina.
Seguinte: – Não demorou?
Edir – Fomos vítimas da chantagem dos grandes laboratórios.
Seguinte: – Para concluir, qual sua sugestão para o prefeito Zaffa neste momento de colapso na saúde: fechar mais as atividades ou reabrir?
Edir – Se puder reabrir, que reabra. E passe a adotar o protocolo do tratamento precoce.
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