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Estado dentro do Estado: os gastos sem limites da República Fardada

Foto TOMAZ SILVA | Agência Brasil

Ministério da Defesa diz que leite condensado é para dar energia a militares: e as toneladas de picanha e lombo de bacalhau, cerveja e uísque?. O Seguinte: reproduz o artigo de Ricardo Kotscho, publicado pelo UOL

 

As revelações feitas pelas reportagens que o Estadão vem publicando sobre os gastos milionários das Forças Armadas na compra das mais finas iguarias e bebidas ajudam a explicar porque os militares do general Villas Bôas queriam tanto voltar ao comando do país, ainda que fosse na garupa do capitão Jair Bolsonaro.

A fome e a sede de poder dos militares, depois de se recolherem aos quartéis 35 anos atrás, com a redemocratização do país, está na manchete do jornal no online na manhã deste sábado: "No menu das Forças Armadas, dinheiro público pagou de lombo de bacalhau a uísque 12 anos".

Num país falido e quebrado, onde ficam discutindo se o auxílio emergencial deve ser de R$ 250 ou R$ 300 por mês, para as famílias de desempregados não morrerem de fome, ficamos sabendo que as Forças Armadas compraram no ano passado 140 toneladas de lombo de bacalhau, a R$ 150 o quilo, e o uísque Ballantine´s, de 12 anos, a RS 144,13 a garrafa, como relata a reportagem de André Borges.

"Farinha pouca, meu pirão primeiro" parece ser o novo lema da República Fardada, que criou um Estado dentro do Estado, com suas próprias leis e regulamentos, sem limite de gastos e sem dar satisfações à torcida brasileira.

Os números oficiais, fornecidos pelos próprios militares ao Painel de Preços do Ministério da Economia, foram anexados à representação feita por deputados do PSB à Procuradoria-Geral da República, para pedir esclarecimentos sobre os gastos alimentares e etílicos das Forças Armadas.

Chamam a atenção não só a monumental quantidade de comes e bebes do cardápio da caserna, mas também a qualidade dos produtos e os preços pagos por eles, com claros sinais de superfaturamento.

O crítico de gastronomia da Folha, Marcos Nogueira, foi à Casa Santa Luzia, o supermercado da elite paulistana, para comparar preços.

A Marinha, por exemplo, pagou por um quilo de picanha R$ 118,25 reais, enquanto a picanha argentina, a mais cara, é vendida pelo Santa Luzia a R$ 107,27 e a carne nacional, a Nobre Ouro da Swift, sai por R$ 78,93.

No total, as Forças Armadas compraram no ano passado 714 toneladas de picanha e 80 mil cervejas, fora o carvão para o churrasco, tudo da melhor qualidade. "E sempre com preços superiores do mercado da esquina", como constatou o crítico.

Só o gosto varia. O Comando da Marinha preferiu adquirir 15 garrafas de Johnny Walker rótulo preto, o popular "Black Label", pagando R$ 169,18 a garrafa.

Mas isso deve ser só para a diretoria. Conhaques mais baratos também entraram na lista de compras do Batalhão Naval da Marinha. Foram 660 garrafas de "Presidente" e Palhinha", adquiridas por módicos R$ 27,06 a unidade.

Um dos signatários da representação do PSB à PGR, o deputado Elias Vaz de Andrade, de Goiás, disse ao Estadão que vai levar essas informações também ao Tribunal de Contas da União.

"É um poço sem fundo. Quanto mais investigamos, mais absurdos e irregularidades encontramos. Se não bastasse o governo comprar picanha e cerveja, ainda tem o corte mais caro do bacalhau, uísque e conhaque, com indícios de superfaturamento".

Em nota copia e cola divulgada na quinta-feira, o Ministério da Defesa informa que "reitera seu compromisso com a transparência e a seriedade, com o interesse e a administração dos bens públicos, e eventuais irregularidades serão apuradas".

As coisas mudaram da ditadura militar para cá. Antes, eram os jornalistas que investigavam e depois os parlamentares denunciavam da tribuna, como aconteceu quando coordenei a reportagem sobre as mordomias no regime militar, publicada numa série no mesmo Estadão, em meados nos anos 1970.

Na época, foi um escândalo. Agora, tudo vai sendo normalizado. Perto da farra do boi das compras das Forças Armadas, as mordomias dos superfuncionários da ditadura pareciam coisa de convento de freiras franciscanas.

Vai ver que por isso temos tantos generais pançudos, como o ministro da Saúde, "especialista em logística", que não consegue comprar e distribuir vacinas.

No final da sua coluna "Cozinha Bruta", Marcos Nogueira resume a opera bufa: "Já seria ruim em condições normais de tempo e pressão. Pior numa pandemia e sob o desmando do general Pazuello. Muito pior quando as Forças Armadas se recusam a abrir os hospitais militares para tratamento de civis com a Covid-19".

Se é assim com a compra de comida e bebida, pode-se imaginar o que acontece com a aquisição de satélites, submarinos, aviões de caça e outros apetrechos caros às Forças Armadas. Haja dinheiro. Para quê?

Vida que segue.

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