eleições 2020

Em Glorinha, um debate como não deveria ser

Debate foi promovido pelo Sindilojas na subsede de Glorinha na noite desta terça

Feio, no debate Sindilojas/Jornal de Glorinha, o candidato Paulo José, da coligação A união se faz com o povo (PP/Republicanos) envolver nas culpas de sua cassação Carlos Alberto de Souza Carvalho, o Carlinhos, pai de Leonardo Vargas, da coligação Pra mudar de verdade (MDB/PSDB), vítima fatal da COVID-19 neste ano.

Logo na apresentação o prefeiturável justificou a anulação de sua eleição como vice, ao lado prefeito Dorival Medinger, pelo coordenador de campanha, Carlinhos, ser dono do Jornal de Glorinha e a tiragem ter aumentado às vésperas da eleição.

Não se trata de Carlinhos ser pai do adversário Leonardo. Fato é que não está aqui para se defender.

Bastaria Paulo ter apenas lembrado o quão absurdo foi a cassação, quando ele e Nenê foram Josef K., de O Processo de Kafka, perguntando “inocente de quê?”.

Vargas se comportou bem frente ao despautério. Referiu afronta à memória do pai apenas nas considerações finais, e também não usou durante o debate a tragédia de ter sido infectado e, em um intervalo de 7 dias, ter perdido o pai Carlinhos e a avó Jurema para a COVID-19.

Feio, mas não tanto, também foi o atual prefeito Darci Lima da Rosa, da coligação Avante Glorinha (PTB / PDT), acusar um “futuro secretário” de Leonardo de ter invadido o comitê e agredido seu coordenador de campanha.

Reputo inadequado fórum para a ‘denúncia’. Se ocorreu, é caso de polícia, não de um debate muito bem organizado pelo presidente José Rosa, na sede de Glorinha do Sindilojas, e tranquilamente conduzido por Luiz Fernando Rodrigues Schardosim, presidente do Observatório Social.

Entendo que Leonardo poderia ter ‘ganho’ o debate nos deslizes dos dois veteranos prefeituráveis, mas também cometeu sua meia verdade, e meias verdades tem sempre uma parte próxima da mentira. Criticou os adversários por “governarem há 24 anos”. Porém, seu partido, o MDB, também foi governo com Renato Raupp. Avalio errar também ao tentar apresenta-se como um outsider, de um grupo “apolítico”, quando ocupa cargos públicos desde 2009. Fica parecendo que critica a “velha política” com uma pontinha de inveja.

A única proposta que entendi compreensível, para além de platitudes e generalidades, irmana os três. É a criação de um Distrito Industrial. O que, convenhamos, não tem nada de novo, já que é a velha estratégia do desespero, com a Prefeitura doando terras e infraestrutura para atrair investimentos.

Talvez o que mais tenha que preocupar os prefeituráveis é, enquanto buscam gerar empregos, matar a fome das pessoas. O prefeito trouxe dados estarrecedores. Antes da pandemia, Glorinha atendia uma média de 70 pessoas com cestas básicas. Em setembro foram 508. A previsão para outubro é de mais de 600.

Se Paulo José explorou pouco o fato do governo de seu apoiador Renato Raupp ter deixado dinheiro em caixa, Darci também poderia ter centrado seu discurso em duas áreas modelo em Glorinha, a educação e a saúde – esta que era de segunda a sexta, e hoje tem atendimento 7 dias por semana e 24h, com ambulância.

Para o bem o para o mal, a estratégia dos dois foi desconstruir Leonardo, que disse estar “na frente na pesquisa”.

Mas, calma, bairristas.

Não foi nenhum desastre, os três tem suas qualidade para governar Glorinha e o debate seguiu o mais do mesmo dos que analisei em Gravataí e Cachoeirinha em artigos como Quem ganhou, quem perdeu debate em Cachoeirinha; ’Blá-blá-blá-blá, eu te amo!, Miki ’ganhou’ o debate; e a lamentável ausência em Cachoeirinha, O debate da tragédia ao otimismo; Na Ágora de Cachoeirinha, Homero é Ésquilo e Debate em Gravataí: é plebiscito entre ’sim’ ou ’não’ para governo Marco Alba.

O que percebo é que parece uma obrigação de entidades e veículos de comunicação promover debates a cada eleição, mas, sem torcida ou secação, pouco se aproveita. A ausência que mais sinto é do “como” – aquela explicação um pouco mais detalhada sobre de onde vai sair o dinheiro para chegar ao mundo maravilhoso que prometem as candidaturas.

Ao fim, lembrou-me mais uma vez aquela do Millôr, de 1989: “Tudo somado achei que Collor ganhou o debate com Lula. A Datafolha acha que foi Lula. Mas a dúvida é: quem ganha um debate medíocre é melhor ou pior do que quem perde?”.

CLIQUE AQUI para assistir e tirar suas próprias conclusões.

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