eleições 2020

Quem ganhou, quem perdeu debate em Cachoeirinha; ’Blá-blá-blá-blá, eu te amo!

Debate foi organizado pela Associação Comercial de Cachoieirinha (ACC) na noite desta segunda | Foto LARRY SILVA

Não acredito tenha virado um voto sequer o debate entre os prefeituráveis de Cachoeirinha, promovido na noite desta segunda pela Associação Comercial.

Antes da análise crítica, elogios ao organizadíssimo evento, impecavelmente mediado pela jornalista Roselaine Vinciprova. Foi uma aula de democracia ao primo CIC, cujo colaboração para o processo eleitoral tratei nos artigos Chucrice em produção industrial; Por que Justiça barrou debate do CIC em Cachoeirinha e O dia em que o CIC foi elite chucra em Cachoeirinha.

CLIQUE AQUI para assistir o evento na íntegra.

Reputo que se percebe meio que uma obrigação de entidades e veículos de comunicação promover debates a cada eleição, mas, sem torcida ou secação, pouco se aproveita.

A ausência que mais sinto é o “como” – aquela explicação um pouco mais detalhada sobre de onde vai sair o dinheiro para chegar ao mundo maravilhoso que prometem as candidaturas.

Fato é que, ganhe quem for, a ACC ouviu o tradicional ‘blá-blá-blá-blá eu te amo!’ e, como não seria diferente, ganhou compromissos dos prefeituráveis com pautas da entidade.

Vai ter Área Azul, calçadas novas, secretário(a) da área com interlocução com os comerciantes, campanhas de incentivo às compras locais, feiras de negócios, facilidade para abrir empresas e incentivo ao empreendedorismo – palavra que quando ouço já lembro das gentes entregando comida de bicicleta.

No embate político, partidos já não existem mais. Até Jeferson Lazzarotto foi tímido ao falar do PT, em provocação do direitista Pablo Hernandez.

E culpas foram naturalmente socializadas, já que prefeituráveis ou partidos de 5 das 6 coligações participaram de governos nos últimos 20 anos.

É como a comédia shakespeariana ‘Sonho de uma Noite de Verão’ às avessas, porque ao invés de um amar outra que ama outro, apontam-se como vilões de passado, presente ou futuro, na interminável crise que enfrenta Cachoeirinha.

O atual prefeito, Miki Breier, que se apresenta como oposição ao governo anterior, de Vicente Pires, de seu PSB, lembra que Dr. Rubinho (PSL) apoiava o ex-prefeito e o Delegado João Paulo (PP) foi até secretário municipal; Jeferson Lazzarotto faz o corte no discurso em “16 anos de continuísmo”, porque nos primeiro 4 anos José Stédile era do seu PT; e Antônio Teixeira (REDE) também já teve sua relação com Vicente e Stédile.

Se alguém ‘ganhou’ o debate foi Miki, pelos mesmos motivos que analisei em Miki ’ganhou’ o debate; e a lamentável ausência em Cachoeirinha. “Só neófitos da política hão de discordar que, quando um prefeito candidato à reeleição sai de um enfrentamento ‘todos contra um’ sem ser colocado nas cordas, e sem ver surgir um adversário melhor que ele, é como no futebol uma vitória fora de casa”, escrevi, após o primeiro encontro entre prefeituráveis, em 2 de outubro.

Perceptível que, por sobrevivência eleitoral, Miki também entrou no ‘modo campanha’, e fala em “casa arrumada”, quando há mais de R$ 200 milhões em dívidas (a da previdência o céu é o limite!) e perda de cerca de R$ 50 milhões em receita com o ‘contágio econômico’ da pandemia e o fim das alíquotas majoradas do ICMS a partir de 2021.

Se alguém ‘perdeu’ foi Antônio Teixeira. Entendo que o candidato, ao dizer que seu principal projeto é construir uma sede própria para a Prefeitura, demoliu a imagem que os seus tentam criar de que é um ‘prefeito de Colatina’.

– Me cobrem – disse, ao fim do debate.

Sem falsos moralismos, é obvio que uma sede própria, em um médio ou longo prazo, teria como ganho a economia com aluguéis. Mas como explicar às pessoas, muitas desempregadas e com medo de não ter o que comer, que um município que já estava em crise, e perdeu mais com a pandemia, vai priorizar construir uma Prefeitura?

Dos Grandes Lances dos Piores Momentos foram intervenções de Dr. Rubinho, do Delegado João Paulo e de Pablo Hernandez defendendo que a Prefeitura contrate empresas locais para obras e serviços. Foi usado exemplo do Hospital de Campanha, cuja prestadora de serviço é do Espírito Santo.

Bonito discurso bairrista, mas a Lei das Licitações não permite delimitação de território, o que configura direcionamento no edital de concorrência.

Ao fim, não gostei. O debate da ACC lembrou-me mais uma vez aquela do Millôr, de 1989: “Tudo somado achei que Collor ganhou o debate com Lula. A Datafolha acha que foi Lula. Mas a dúvida é: quem ganha um debate medíocre é melhor ou pior do que quem perde?”.

 

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