Com problemas estruturais desde 2018, a Tuiuti ainda não foi restaurada para receber alunos. O Seguinte: reproduz a reportagem 'Maior escola estadual de Gravataí enfrenta condições precárias', publicada por Beta Redação, que integra diferentes atividades acadêmicas do curso de Jornalismo da Unisinos
Enquanto ocorrem discussões sobre o retorno das aulas no Estado, algumas escolas enfrentam graves problemas de estrutura para receber os estudantes. Este é o caso da Escola Estadual Tuiuti, de Gravataí, considerada a maior escola estadual do município, com 919 alunos.
A instituição teve seu quarto pavilhão interditado em 2018 por problemas elétricos e estruturais. O espaço, que era dedicado às aulas para turmas iniciais, teve o forro desabado um dia após a diretora Geovana Affeldt retirar as turmas do local por receio de acidentes. Desde então, estudantes, pais e professores buscam respostas junto ao governo, porém sem retorno.
Entre as centenas de estudantes do colégio, muitos passaram os últimos anos letivos em condições precárias para o aprendizado. Diversas turmas tiveram as aulas realizadas em locais adaptados e impróprios para estudar.
Diante disso, pais e alunos dormiram durante cinco dias na escola em 2019, como forma de protesto para que a obra emergencial prometida ao pavilhão fosse concluída.
– Fomos no Conselho Tutelar, na Assembléia Legislativa, na Secretaria de Obras, enfim, estamos lutando para que a reforma aconteça – conta Dênia Fortes, que é mãe de um estudante e coordenadora da Comissão de Pais e Mestres da escola.
Na época da interdição do primeiro prédio, pais e professores solicitaram que a estrutura dos outros espaços também fosse avaliada por um engenheiro, já que todos foram construídos no mesmo ano. A avaliação resultou na retirada dos forros dos outros três pavilhões por risco de desabamento.
Com isso, a temperatura dentro das salas chegava a 50 graus em dias de sol.
– Não tinha como ficar dentro das salas, as turmas acabavam saindo para a rua – afirma a diretora Geovana Affeldt.
Além do calor, o problema afetou a acústica do local, fazendo com que os professores precisassem revezar as falas, visto que o som de uma sala invadia a vizinha e impedia que os alunos entendessem o conteúdo.
Atualmente, apenas a obra de um pavilhão, solicitada em 2018, está concluída. No entanto, o restante das salas continuam inutilizáveis.
– Terminou o ano letivo de 2019 com turmas recebendo aula no salão, na sala dos professores, no refeitório e na pequena sala de informática – relata a diretora Geovana.
Os alunos também lamentam as dificuldades enfrentadas na escola, já que o aprendizado se tornou mais difícil.
– As aulas eram extremamente difíceis, porque é algo que atrapalha demais. Não dava para ouvir o professor direito e também a questão da concentração – conta Brenda Lima, de 17 anos.
A jovem estuda na escola Tuiuti desde 2014 e, atualmente, está no último ano do ensino médio.
– Ficou bem mais difícil, tanto por ter desanimado e também por não estarmos tendo o ensino que precisaríamos para enfrentar um vestibular – lamenta.
As consequências da falta de estrutura afetam também a possibilidade de novos alunos ingressarem no colégio.
– Esse ano eu não pude abrir turmas novas, isso gerou em torno de 200 vagas a menos do que em 2020 – informa a diretora.
Desafios para retornar
Quando a pandemia causada pela Covid-19 paralisou as aulas no Estado, as turmas estavam estudando em salas do administrativo, no salão da escola e no salão da igreja que fica ao lado do colégio.
– Nós temos cinco turmas ao mesmo tempo dentro de um salão de eventos. Não tem como dar aula – conta a professora Stela Maris, que ministra as aulas de Geografia na escola.
– O Governo está sempre anunciando a possibilidade da voltas das aulas presenciais, mas como a Escola Tuiuti voltará se nós não temos sala de aula? – continua a docente.
Dênia também se mostra preocupada com o possível retorno às aulas, pois acredita que a obra poderia já ter sido concluída durante a quarentena.
– Se a escola não estiver em condições plenas para o retorno, iremos impedir, pois a escola não tem estrutura para encarar a normalidade, imagina em pandemia – desabafa a mãe.
Atualmente, os alunos estão tendo aulas pela plataforma Google Classroom, que foi disponibilizada pelo governo do Estado durante o período de quarentena. No entanto, algumas famílias também enfrentam problemas de conexão.
– Alguns alunos nos avisam que não tem acesso, então nós imprimimos e entregamos as atividades de outra forma – conta a diretora.
Período de adaptações
Agora, o esforço dos professores, pais e alunos têm sido a cobrança pela obra que sequer começou, além dos desafios paralelos para adaptação frente a uma nova realidade de aprendizado. No início de agosto, em homenagem ao Dia do Estudante, a escola promoveu um evento online, em que foram divulgados vídeos em homenagem aos alunos e realizada uma competição virtual de videogame. A instituição também organizou um pedágio solidário em busca de recursos para a escola.
– Somos professores, profissionais da educação com todas as letras maiúsculas, e esse é o nosso super poder: recuperar a aprendizagem. Traumas sociais e emocionais são difíceis de amenizar com tudo o que está acontecendo. Mas o momento pede calma, paciência, força e muita sabedoria para conduzirmos essa situação – avalia a professora Adriana Borba, que é supervisora pedagógica e Presidente do Conselho Escolar da escola.
A programação coletiva de aprendizagem foi organizada pelos membros da equipe docente da instituição com o objetivo de aproximar os alunos no período de isolamento. Também realizaram o projeto online Profissão em Foco, no qual a professora Stela Maris reuniu ex-alunos da escola para colaborarem com os atuais alunos, trazendo para um debate seus conhecimentos sobre diferentes profissões.
As lives ocorreram na página da rede social da escola no Facebook e eram direcionadas, principalmente, para os estudantes dos graus finais do ensino médio. Com esses esforços, a escola não perde a esperança de acolher e ensinar aos seus alunos, como sempre propôs.
– Como educação é amor, um dom, e no Tuiuti buscamos a qualidade do ensino, nossa luta é constante para continuarmos nessa caminhada – finaliza a professora Adriana.