Livre da tala, enfim! Mas com a mão igual a um pãozinho italiano de tão inchada. É efeito normal do pós-operatório, mas incomoda. Enquanto estou quietinha o local da cirurgia até não dói, mas quando preciso levantar… Mesmo com três remédios pra dor, é cada puxada!
E ainda tem o antibiótico: o negócio tem um gosto e um cheiro tão ruins que acho q se o coronavírus passar perto vai sair correndo. É daqueles comprimidos que a gente engole rápido e trancando a respiração.
Da cirurgia mesmo não sei nada, depois que botaram remédio na veia e uma máscara azul na cara soltando um arzinho, só acordei na recuperação. Raiva passei na entrada, enquanto esperava para fazer a internação: gente com o nariz para fora da máscara. Falta de noção! E os lesados buscando a emergência para fazer exame de covid, sendo que o Hospital de Campanha foi bem divulgado? Estavam em Nárnia?
E eu precisei ir com acompanhante, no caso minha mãe, que é idosa. A sala de espera do centro cirúrgico estava cheia, como não se preocupar? O jeito é não pensar muito para não pirar. A sala de recuperação lotada, tinha até uma mãe com recém-nascido do meu lado, se recuperando de uma cesariana, o que indica que o andar da maternidade estava lotado também. A emergência do SUS estava fechada por superlotação. Nosso hospital está em colapso, sim.
Do atendimento não posso me queixar, todo o pessoal de enfermagem foi muito atencioso e cuidadoso comigo. E estavam trabalhando de bom humor, mesmo em meio a uma situação que é tensa.
Ainda tenho uns dias pela frente de remédios, alongamentos e compressas geladas. O pós-cirúrgico está sendo mais pesado do que eu imaginava, mas percebo que cada dia está melhor. Só na outra semana terei consulta o médico. Já que o medo da Covid rondou por aqui, vou deixar hoje os poemas que escrevi nesse período de isolamento e pandemia.
PANDEMIAS
os sorrisos estão cobertos
mas a alma se vê nos olhos
e o caráter se desnuda
em palavras e atitudes…
tempos contraditórios:
quando mais se usam máscaras
é que mais se vê
a verdadeira face;
para pobreza de espírito
não existe disfarce.
DO GRANDE AMOR
Tão belo entender,
em tempos agrestes
e um tanto tristes,
que seu grande amor
precisa ser você.
Só quem se ama bastante
ama de verdade
o semelhante
e o diferente.
Sente?
Amor é plantinha
que cresce cá dentro
antes de botar semente
em outro coração…
Amar a si mesmo
nos torna mais forte
para qualquer viração
para qualquer febre
seja de vírus
ou de paixão.
VIRAIS
A flor-de-maio floriu em junho
Fez sol de verão no inverno
Os abraços ficaram na espera
Tudo tão estranho no mundo
Tempos sem grandes planos
além de nos mantermos vivos
e de contar os dias…
Tempos em que sobram suspiros
e para tantos falta o ar.
Tortuosos tempos…
Os sorrisos cobertos
fazem mais falta
do que esperávamos sentir.
O maior sufoco
não é do pano,
mas de não saber
até quando
seremos reféns
de um vilão que
os olhos não veem.