As palavras tem força, ainda mais cometidas por um Presidente da República – mesmo que seja ele um covidiota. O contágio do incentivo de Jair Bolsonaro a invasões a hospitais de campanha já chegou na Gravataí que vive o pior mês da COVID-19, com 173 casos no último boletim epidemiológico, de domingo, que tratei em Marco Alba pede ajuda à comunidade para não ter que fechar comércios; contágio cresceu 90 por cento em 2 semanas.
Em post bastante compartilhado no Grande Tribunal das Redes Sociais suposto familiar de pacientes internados recomenda: (sic) “não levem seus familiares a esses lugar!!!!”
Entre as justificativas de quem postou está a impossibilidade de o paciente ficar com celular “para o paciente não filmar o absurdo que acontece lá dentro”.
A pessoa também critica a proibição do paciente levar materiais de higiene, como escovas de dentes, ou roupas.
Outra reclamação é sobre a transferência do paciente para hospital de referência “sem ao menos ligar para avisar”.
– Tu não vê teu familiar durante dias, nem fala com ele, precisa ir todo dia lá para ter informações, sem a certeza do que estão te passando é verdade ou não – escreve.
Inacreditável.
Toda minha compreensão à dor de quem tem um ente querido internado, mas esperava uma ‘colônia de férias’, ou um ‘spa Moinhos de Vento’, em meio a esse inimaginável e distópico cenário de pandemia?
Vamos aos fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos, seja de familiares nervosos; de desinformados; de informados do mal; de secadores (de antes, durante e depois) de ‘hospital de campanha’; ou mesmo de um presidente que, ao incentivar seus milicianos a invadir hospitais comete, e incita, três crimes contra a saúde pública (Código Penal, artigos 268, 286 e 287).
Uma googleada no Wikipedia permite acessar o conceito do que é um ‘hospital de campanha’:
É uma pequena unidade médica móvel, ou mini-hospital, que cuida temporariamente das vítimas no local antes que possam ser transportadas com segurança para instalações mais permanentes.
Este termo é usado predominantemente com referência a situações militares, mas também pode ser usado em tempos de desastre; o conceito foi herdado do campo de batalha e agora é aplicado em caso de desastres ou acidentes graves.
Em Gravataí, na estrutura montada nos fundos do Hospital Dom João Becker, são 10 UTIs que, desde a quarta de abertura, já teve os 10 leitos ocupados.
O investimento calculado até o fim do ano em R$ 6,8 milhões, entre estrutura física, equipamentos e horas médicas. Os respiradores usados são os da Santa Casa, já que o Ministério da Saúde não enviou ainda os 20 prometidos em abril.
Os gastos estão todos discriminados, item a item, no Portal COVID da Prefeitura, que você acessa clicando aqui. Mostramos a estrutura por dentro, em vídeo, em Entramos no hospital de campanha de Gravataí e mostramos como funciona; assista.
É preciso paranoicamente invadir hospitais, para desvendar um grande conluio entre Executivo, Legislativo, Judiciário, Ministério Público e demais órgãos de controle para esconder algo? Quem sabe a autópsia de algum extraterrestre, parte de uma conspiração mundial? É de mau gosto minha colocação? E vandalizar e contaminar um ambiente hospitalar? E recomendar que pessoas doentes não procurem tratamento, o que é?
Sobre uso de celular, o Centro de Controle de Doenças (CDC) norte-americano, órgão sanitário que reúne alguns dos maiores cientistas do mundo, e tem o maior investimento em saúde do planeta, no ranking dos objetos com potencial de transmissão do vírus coloca smartphones ao lado de maçanetas, balcões e BANHEIROS.
Sabem aqueles que pedem selfie, ou live, de dentro de um hospital de campanha que os profissionais de saúde que tratam doentes da COVID-19 permanecem no mínimo 4 HORAS sem poder fazer necessidade fisiológicas, para poupar equipamentos de proteção individual, os caros EPIs, que os fazem parecer um astronauta?
– Não podemos tocar no rosto, não podemos beber água e nem ir ao banheiro depois de paramentados. Não podemos comer, não podemos sair para tomar um fôlego ali fora. Se eu sair do ambiente contaminado, preciso jogar avental, luvas, touca e máscara no lixo. E precisamos poupar material, tudo isso é muito caro e o medo de faltar é grande. Não posso me dar o luxo de jogar um avental e uma máscara no lixo só porque eu quero fazer um xixizinho. Ganhei fraldas do marido. Não consegui usar nos primeiros dias. A bexiga explodindo, e não consegui usar a fralda. Na saída, preciso de ajuda para tirar roupas e sapatos, para não contaminar a parte limpa do setor do hospital – conta a enfermeira Camila Gonçalves Azeredo, 28 anos, em reportagem que você lê clicando aqui.
Sobre as transferências de pacientes, com 8 a cada 10 UTIs ocupadas no RS, por COVID ou não (já que nenhum decreto é capaz de evitar enfarto, AVC, acidente de carro, tiro ou facada), ter um leito para o familiar deveria ser comemorado, não criticado.
Sabem covidiotas que a Gravataí – das máscaras no queixo, Havan lotada e noite bombando no Dia dos Namorados – teve um crescimento de 90% nos infectados apenas nas últimas duas semanas e, para evitar a falta de respirador, pacientes são transferidos para onde há UTI, seja na Região Metropolitana, Litoral, Serra ou outros hospitais referenciados no interior?
Ao fim, neste Brasil em que tantos absurdos são naturalizados, assim como o são os 873.963 casos confirmados e as 43.485 mortes pela COVID-19 contabilizadas nesta segunda, resta atualizar o trecho mais conhecido do poema ‘No caminho, com Maiakóvski’, de 68, do brasileiro Eduardo Alves da Costa:
“Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na Segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
Acrescentemos que, enquanto não dizemos nada, nos roubam até o urinol da UTI.
Assista ao poema na interpretação de Ivan Lima
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