opinião

’Lava Jato de Viamão’: os diálogos entre o prefeito e o vereador

André Pacheco é prefeito de Viamão, eleito para o mandato 2017-2020, mas em fevereiro afastado pelo Tribunal de Justiça por 180 dias

Reproduzo no Seguinte: artigo que publiquei nesta sexta no Diário de Viamão sobre o escândalo que, entre os secretários, afastou Carlito Nicolait, ex-vereador de Gravataí

 

Os áudios captados na Operação Capital, a ‘Lava Jato de Viamão’, que teve como conseqüência o afastamento por 180 dias do prefeito André Pacheco, do vereador Sérgio Ângelo e de cinco secretários, são estarrecedores, como o Diário de Viamão já revelou trechos com exclusividade em  ’Lava Jato de Viamão’ bloqueia 15 milhões em bens de prefeito e réus; leia diálogos.

Há escutas e documentos que evidenciam a suspeita de uso de verbas do SUS, do salário dos funcionários públicos e triangulações entre empresas para realizar negócios apontados como ilícitos pelo Ministério Público.

– Vai direto em mim e nós matamo a charada – diz o prefeito para o vereador, em um dos grampos telefônicos.

– Eu sei que o senhor me atendeu, o senhor sempre me atendeu – atesta o político.

Num dos áudios mais constrangedores, o secretário da Fazenda, Pedro Joel de Oliveira, promete ao vereador:

– Nós vamos dar um João sem braço aqui no vale alimentação dos servidores.

As interceptações telefônicas feitas Ministério Público denunciam a suspeita de uma relação de André e Sérgio como uma espécie de ‘sócios’, defendendo interesses de um e outro, além evidenciar uma mistura entre o público e o privado entre suas empresas, a prestadora de serviços de limpeza urbana Koletare, do parlamentar, e a empresa do prefeito como pessoa física, a Realizare Negócios Imobiliários.

– Não é recente a ligação espúria mantida entre o prefeito e o vereador, que já agiam de forma recíproca na defesa dos seus interesses, pelo menos desde 2017 – aponta a promotora da procuradoria de Prefeitos do MP Karina Bussmann, que remete a origem das denúncias ao rompimento entre o atual prefeito e o ex-prefeito Valdir Bonatto.

Como referi no artigo anterior, as suspeitas de irregularidades em contratos da Prefeitura têm origem em denúncias feitas por Rafael Dala Nora Bortoletti, ex-chefe de gabinete ligado ao ex-prefeito, que rompeu com o atual alegando corrupção no governo.

Corrupção que o desembargador Júlio César Finger, do Tribunal de Justiça, mesmo sem emitir ordem de prisão, percebeu indícios ao afastar o prefeito, usando, não na famosa sigla ‘Orcrim’, conhecida por quem acompanha a política nacional nos últimos anos, mas por extenso: ‘organização criminosa’:

– No caso concreto, como antes mencionado, há plurais evidências da prática de infrações, em especial pela demonstração de que há diversos elementos que registram ação compatível com o direcionamento de contratações públicas, com beneficiamento dos agentes do grupo político e econômico. A propósito, de forma concatenada e algumas delas atualmente em curso, em ação compatível com aquela de uma organização criminosa. Como antes referido, conversas entabuladas entre os agentes evidenciaram a existência de tratativas para a expansão do esquema em municípios da região.

Antes de reproduzir os diálogos é preciso explicar que o grampo telefônico foi autorizado pela 4ª Quarta Câmara Criminal do TJ, conforme o documento, “com vistas a apurar o esquema criminoso, do qual fazem partes os requeridos e que é voltado à prática de crimes contra Administração, em especial corrupção ativa, passiva, crimes fiscais e licitatórios”.

– No decorrer das investigações, restou clara a prática dos crimes imputados aos réus, conforme relatórios de investigação (do MP) e diálogos mantidos pelos demandados, nos quais restou evidenciado prévio acerto entre os réus, servidores públicos e os agentes privados, sejam eles na condição de representantes das empresas ou mesmo enquanto proprietários – explica a promotora, que acrescenta que a ‘Lava Jato de Viamão’ desvendou “um verdadeiro mundo paralelo instalado no seio da Administração Municipal, encabeçado pelo Chefe do Poder Executivo Municipal e voltado para o beneficiamento pessoal dos agentes públicos envolvidos, bem como das empresas a eles pertencentes ou por eles representadas”.

– A organização criminosa, chefiada pelo Prefeito André Pacheco, era dividida em diversos núcleos, mas todos eles mantendo prévios ajustes entre os servidos públicos e as empresas INSTITUTO DOS LAGOS RIO, IPM SISTEMAS, KOLETAR EIRELLI e THEMA COMUNICAÇÃO (após notificação extrajudicial de outra empre Thema, com nome trocado para GT4 Projetos em Comunicação Ltda.), a fim de promoverem entre si vantagens ilícitas, as quais serão sucintamente individualizadas a seguir, para melhor compreensão dos fatos – detalha a promotora, que alerta que “não é recente a ligação espúria mantida entre o Prefeito e o Vereador, que já agiam de forma recíproca na defesa dos seus interesses, pelo menos desde 2017”.

O bloqueio de R$ 15 milhões em bens dos investigados, foi determinado pelo juiz Cristiano de Azeredo Machado, da 1ª Vara Cível de Viamão, por concordar com o MP que “conforme relatórios de interceptações telefônicas e pareceres do Gabinete de Assessoramente Técnico do Ministério Público, o Prefeito determinou, em diversas oportunidades, a quebra da ordem de pagamento dos credores da Prefeitura, com a finalidade de beneficiar a empresa do Vereador SÉRGIO JESUS CRUZ ANGELO, em detrimento dos demais credores do Município de Viamão, conforme transcrição das interceptações telefônicas adiante colacionados”.

O Diário de Viamão teve acesso ao “RELATÓRIO DE INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA Nº 30/2019 – Procedimento Investigatório Criminal 000300001 21201 – Operação “Capital” – 5ª Período”, que compreende os dias 29 de agosto de 2019 a 13 de setembro de 2019.

Siga.

 

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Prefeito: “vai direto em mim e nós matamo a charada”

 

Alvo: Sérgio Jesus Cruz Ângelo

Dia 13/09/2019, 11h11min21s, duração 02min50s.

Áudio capturado do telefone do prefeito André Pacheco.

Conforme a ‘Lava Jato de Viamão’, o vereador Sérgio Ângelo, “proprietário da empresa investigada Koletar LTDA, liga diretamente ao Prefeito de Viamão André Pacheco e reclama que seus pagamentos não estão passando a frente. André afirma que irá resolver o problema como sempre o fez para as demandas do vereador”.

 

ANDRÉ: Alô

SERGIO: Bom dia Prefeito, pode falá?

ANDRÉ: Bom dia, posso sim. Pode fala

SERGIO: O senhor tá atendendo no gabinete hoje? O senhor pode me atendê, pode marca uma agenda prá mim, alguma coisa?

ANDRÉ: Eu tô agora no IPÉ em Porto Alegre

SERGIO: Eu sei que o senhor tá num evento em Porto Alegre

ANDRÉ: É, eu tô num evento e depois eu tenho um encontro na Record… meio dia, depois de tarde eu tô de volta

SERGIO: Tá, quando o senhor puder me atendê aí o senhor me dá um toquezinho então.

ANDRÉ: Não, vai lá

SERGIO: Já fui seis vezes no gabinete, já fui seis vezes no gabinete

ANDRÉ: Quando?

SERGIO: Não, não… já faz… já faz quase dez dias que eu vô lá e não sou atendido. o seu Bandeira não pode atender, tá sempre atendendo…

ANDRÉ: Mas por que…

SERGIO: Eu não vô mais falá com seu Bandeira

ANDRÉ: Tá, vamo… vamo limpá essa pauta. Sempre que tu me liga eu te atendo, sempre

SERGIO: Eu não tô Ihe… eu não tô

ANDRÉ: Tu não pode dizê uma vez que eu não te atendi…

SERGIO: eu não tô, não,não, eu não tô dizendo do senhor. só que agora eu vô tratá diretamente com o senhor, porque prá mim não tá funcionando…

ANDRÉ: Mas é isso

SERGIO: Prá mim não tá funcionando essa atenção dos vereadores, entendeu? Então…não que eu tenha que ser melhor do que os outros. então eu vô Iigá pro senhor. e quando o senhor puder me atender eu vê lá, o senhor marca hora e eu vô lá e converso direto com o senhor!

ANDRÉ: Isso, atendimento. eu te aten… sempre te atendi e vou continuar te atendendo

SERGIO: Não, sempre. não, eu sei que o senhor me atendeu, o senhor sempre me atendeu

ANDRÉ: Então, vai di… vai direto em mim prá não haver ruido, vai direto em mim e nós matamo a charada

SERGIO: Tá, não, por que assim…

ANDRÉ: O teu objetivo e resolver teus problemas não é?

SERGIO: Sim, com certeza

ANDRÉ: Eu vô resolvê prá ti, então vem direto em mim

SERGIO: Tá, então tá, de tarde agora quando o senhor tivé ali disponivel ali

ANDRÉ: Por volta dumas… não, vai ali por umas quatro e meia, tá?

SERGIO: Aí eu não vô conseguir resolver os meus problemas hoje, Ai quatro e meia eu não vô conseguir resolver os meus problemas hoje. Os meus problemas são assim, já vou lhe adiantá, e várias faturas que o Joel (Pedro Joel de Oliveira, secretário da Fazenda) não tá conseguindo encaixá, vê se o senhor consegue. Senão, quatro e meia não me adianta eu conversá

ANDRÉ: Tá bom, eu não sa…

SERGIO: Até porque quatro e meia…

ANDRÉ: eu não sabia disso né, eu não sabia quais eram as tuas demandas. Então eu vô verifica, eu vô Iigá pro Secretário…

SERGIO: Prefeito, porque as minhas outras demandas lá como Vereador a gente pede lá e nunca foram resolvidas, tá?

ANDRÉ: Tá bem

SERGIO: Infelizmente eu tenho que ta' falando isso por telefone com o senhor, tá?

ANDRÉ: Sim, não, então vamo fazê o seguinte, eu vô vê a situação dos pagamentos, o que que tem pendente

SERGIO: Sim

ANDRÉ: E ai tu vai lá depois fala' comigo

SERGIO: Então tá, só me da um toquezinho então depois que o senhor vê, prá mim não tá, indo duas três vezes lá, porque o senhor tá com a agenda cheia hoje e o senhor sabe que hoje é sexta feira. Sexta feira é pesado.

ANDRÉ: Tá bem então, valeu

SERGIO: Feito

ANDRÉ: Feito, até mais.

 

Dinheiro do SUS para pagar empresa de vereador

 

Alvo: Sérgio Jesus Cruz Ângelo

Dia 13/09/2019, 11h37min005, duração O1min27s.

Áudio captado do telefone celular de Natalia Klafke, contadora do gabinete do secretário da Saúde de Viamão.

Conforme a ‘Lava Jato de Viamão’, 25 minutos depois da cobrança do vereador Sérgio, feita diretamente ao prefeito, “Daniela da Silva, esposa de Alessandro Padilha (chefe de gabinete do prefeito) e vinculada à Secretaria de Saúde, trata com outra funcionária do município sobre os pagamentos da Koletar”.

O processo registra que, nas escutas, há “afirmação de que o Prefeito teria determinado que o valor deveria ser retirado do custeio do SUS, conforme demonstrado a seguir:”

 

DANIELA: Oi

NATALIA: Dani, o Dantas acabou de vim aqui e ele disse que é prá gente refazer o pagamento da Koletar e mandar pagar pelo custeio do SUS, empenho, tá? de manhã

DANIELA: Prá refazer o pagamento tem que fazer novo

NATALIA: Novo empenho?

DANIELA: Isto

NATALIA: Porque não tem empenho pro…

DANIELA: Não, não tem

NATALIA: Tá, e quem é que refaz empenho?

DANIELA: O nosso setor de compras, falei com o [ininteligível]

NATALIA: Ah tá

DANIELA: a dotação eu deixei num papelzinho amarelinho em cima da minha mesa, dotação Koletar

NATALIA: Tá, tá ótimo, eu vejo aqui

DANIELA: Passa prá ele, faz o favor

NATALIA: Tá

DANIELA: Achou?

NATALIA: Não, calma aí, tô indo ali na tua mesa, é que é cheio de coisa (risos)

DANIELA:(risos)

NATALIA: Tá, aqui na tua mesa… tá aqui… dotação, custeio Koletar, 86… não. 2886

DANIELA: Isto

NATALIA: Tá, eu entrego isso aqui prá eles então? Ou falo com o Dantas…

DANIELA: No setor de com… dá pro Dantas! Fala prá ele que não tem empenho, vai ter que ser feito novo empenho, aí então o nosso setor de compras vai ter que fazê e ele vai ter que por as assinaturas e tudo mais

NATALIA: Tá, tá bom

DANIELA: Tá, tchau

 

‘Prefeitura do calote’ pagou vereador

 

Alvo: Sérgio Jesus Cruz Angelo

Dia 13/09/2019, 16h35min205, duração 02min07s.

Áudio captado do telefone de Karen Beatriz, Rocha da Costa.

Conforme a ‘Lava Jato de Viamão’, Sérgio conversa com sua esposa Karen e afirma que está ao lado do secretário da Fazenda, apenas aguardando o pagamento que deveria sair naquele dia mesmo. Todo o trâmite, desde a solicitação direta ao Prefeito, até a espera pelo pagamento, durou aproximadamente seis horas.

Observa o MP que a Prefeitura, “desde credores até funcionários municipais, estavam com os pagamentos atrasados naquela data, sendo claro o favorecimento e a preferência ao vereador e empresário Sérgio Ângelo”.

 

KAREN (ESPOSA E SÓCIA): Que horas tu vem prá casa?

SERGIO: Tô esperando aqui, eu tô…

KAREN (ESPOSA E SÓCIA): Tá

SERGIO: Vô vê se o Joel faz até as cinco horas, senão as cinco horas eu vô sai daqui, não tem mais o que fazê!

KAREN (ESPOSA E SÓCIA): Ta', e vai…vai…vai. vão depositá alguma coisa?

SERGIO: Diz que chegô a nota da Saúde agora, mas não sei se vão fazê

KAREN (ESPOSA E SÓCIA): Qual é o valor da Saúde?

SERGIO: Cento e dezoito

KAREN (ESPOSA E SÓCIA): Hmmm

SERGIO: Por isso que eu tô aqui

KAREN (ESPOSA E SÓCIA): Sim, tranquilo

SERGIO: Tô eu e o Régis aqui

KAREN (ESPOSA E SÓCIA): Tá, vai dá tudo certo. tá, tchau

 

Depósitos comprovariam favorecimento

 

Conforme a ‘Lava Jato de Viamão’, neste quinto período de investigações e medidas judiciais, “foi possível constatar que novamente, Sérgio Ângelo solicita diretamente ao Prefeito, preferência no pagamento de sua empresa”.

Conforme o MP, “em determinado momento da investigação – em que todos os pagamentos de Viamão estavam atrasados, inclusive o salário dos funcionários municipais – é possível notar que Sérgio conversa ao telefone com André Nunes Pacheco, reclamando que seus pagamentos não saíram”.

Após o diálogo, é possível notar que a investigada Daniela da Silva (funcionária da Secretaria de Saúde e esposa do chefe de gabinete Alessandro Padilha, que usa o telefone que é cadastrado para ele), recebe ligação de Natália Klafke, também funcionária municipal, que afirma que “Dantas” havia chegado no Gabinete onde trabalha e exigido que o pagamento da Koletar LTDA fosse efetuado com recursos destinados ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Para os investigadores, “Dantas”, no diálogo, “trata-se de Marcos Dantas, Diretor Geral na Secretaria de Saúde”.

Mais tarde, ainda no mesmo dia, Sérgio conversa com sua esposa Karen e afirma estar na sala do secretário da Fazenda, Pedro Joel de Oliveira, apenas aguardando o pagamento.

– Ora, em seis horas o Vereador que nem ao menos poderia ter sido contratado pela Prefeitura (a Constituição Federal veda contratos entre governos e agentes públicos), cobrou, deu andamento e estava apenas aguardando o pagamento de empenhos para a sua empresa, isto tudo em um município que havia atrasado repasses para fornecedores e o salário de seus funcionários – denuncia a promotora, que usa documentos extraídos do dia Portal da Transparência de Viamão, dia 19 de setembro de 2019, onde é possível identificar “repasses a empresa Koletar, confirmando o que se supunha neste relatório”.

Siga um dos tantos documentos anexados ao processo que o Diário de Viamão teve acesso:

 

Secretário da Fazenda: “nós vamos dar um joão sem braço aqui no vale alimentação dos servidores”

 

Mais diálogos são usados para evidenciar que o prefeito e o secretário da Fazenda “determinaram e efetivaram diversos pagamentos indevidos à empresa Koletar, chegando ao ponto de atrasar o valerrefeição dos servidores municipais para beneficiar o referido empreendimento, que sequer estava com os pagamentos atrasados”.

 

Alvo: Sérgio Jesus Cruz Ângelo

Dia 11/06/2019, 10h48min365, duração 04min315.

 

ATENDENTE: Secretaria da Fazenda Luana bom dia!

VEREADOR SERGIO: Bom dia Luana é possível falar com o secretário da fazenda Joel?

ATENDENTE: Quem seria ?

VEREADOR SERGIO: Sérgio Angelo;

ATENDENTE: Só um momento…

SECRETÁRIO JOEL: Bom dia meu vereador;

VEREADOR SERGIO: como é que tá meu secretario, Tranquilo?

SECRETÁRIO JOEL: Tamo tranquilo não, nós tamo hoje, hoje o dia amanheceu…

VEREADOR SERGIO: Nublado;

SECRETÁRIO JOEL: Nublado, amanheceu nublado apesar do sol;

EREADOR SERGIO: Nublado financeiramente, Joel

SECRETARIO JOEL: Nublado financeiramente, mas o, o nosso prefeito ai pediu pra mim, eu fui lá buscar soluções com ele lá o que que eu fazia do, da minha vida hoje e até eu brinquei com ele eu disse bah prefeito hoje era um dia que financeiramente era melhor nós não termos nos encontrado

VEREADOR SERGIO: Sim, tem dias que a gente não quer nem ver isso né o Joel?

SECRETARIO JOEL: Mas, não e mas ele pediu assim pra mim, é eu vou deixar de pagar o… porque ontem veio a menos no FPM e hoje veio a menos no ICMS, ontem veio quatrocentos a menos e hoje veio duzentos a menos ta'?

VEREADOR SERGIO: Puta merda!

SECRETÁRIO JOEL: Mas daí nós vamos dar um joão sem braço aqui no vale alimentação dos servidores;

VEREADOR SERGIO: sim;

SECRETÁRIO JOEL: Pra, pra ti contempla aqui essa…

VEREADOR SÉRGIO: tá

SECRETARIO JOEL: Essas duas notas aqui que tu tem; tu tem uma de cento e doze e uma de setenta e alta esse e' o valor bruto;

VEREADOR SERGIO: Tá não mais, O Joel este até nem é o problema entre aspas, deixa eu te ajudar, esse não é o problema;

SECRETÁRIO JOEL: Hum, qual é o problema?

VEREADOR SERGIO: Esse até posso esperá, eu digo até as duas notas da educação que é verba, verba carimbada cara;

SECRETÁRIO JOEL: Educação, meu amigo, educação mas não saiu ontem educação?

VEREADOR SERGIO: Não, não saiu, não saiu educação, não saiu nada educação ainda;

SECRETÁRIO JOEL: Ontem? não mas ontem…

VEREADOR SERGIO: Não, não saiu;

SECRETARIO JOEL: Mas tinha ontem;

VEREADOR SERGIO: Pois é ta' ruim;

SECRETARIO JOEL: A Viviane não tá ali agora, mas deixa eu perguntar;

VEREADOR SERGIO: Ta' porque, joel eu, assim 6, esta é uma conduta que eu tinha que eu tinha sempre com… assim á, entra a educação eu posso esperá, entendeu? Oue estas duas que tu tá me falando que pode me pagar eu poderia ser egoísta de dize” me paga e ainda ta' faltando a educação como e recurso e' livre direto do caixa eu posso espera' se entra a educação entendeu?

SECRETARIO JOEL: Ta' mas dai então eu tenho que ver a guria foi ,lá na edu, justamente ela foi la' na educação a Viviane, ela e a Giane foram na educação acertar umas, uns desencontros la';

VEREADOR SERGIO: fim;

SECRETARIO JOEL: Entre a contabilidade deles e a nossa;

VEREADOR SERGIO: Hanrãm, porque se pagá as duas da educação, eu posso tomá um fôlego e esperá mais uns dias…

SECRETÁRIO JOEL: Aí entraria dezoito daí?

VEREADOR SERGIO: Não, tá bom, ta' bom!

SECRETÁRIO JOEL: Dia dezoito me vem o recurso;

VEREADOR SERGIO: Não tá bom! Tu me pagando a educação hoje entendeu?

SECRETARIO JOEL: Não a educação eu ache/' que tinha saído ontem até eu não…

VEREADOR SERGIO: Não, não, não, o joel e outra coisa todo mês quando for assim, é eu, entrando a educação eu posso esperar uns diaz/nho não preciso tar te colocando a faca no peito;

SECRETÁRIO JOEL: Não eu fui lá e falei com o André, disse bah André como é que nós vamos fazer não podemos deixar o Sérgio mal, o Sergio Anqelo mal e o Dedo também tava pedindo setenta e seis ali da Laqos la' que é da saude né.?

VEREADOR SERGIO: Sim; não eu sou assim o joel e tu já me conhece um pouco tu vai me, pega o que tu ia me dar esses cento e poucos pra mim que é verba carimbada laroa pra lagos e me da' as duas da educacão que eu me viro que eu vou me virando ta'?

SECRETARIO JOEL: Tá eu vou ver assim que ela chegar aqui eu vejo e eu te dou o retorno eu te ligo;

VEREADOR SERGIO: Tá, eu te agradeço então;

SECRETÁRIO JOEL: Tá bom de tarde eu vou na câmara que nós temos umas demandas aí' dos projetos pra aprovar hoje;

VEREADOR SERGIO: Hãm;

SECRETÁRIO JOEL: Principalmente o do o da, autorização, autorizar o parcelamento da divida do Faps;

VEREADOR SERGIO: Mas vai pra votação hoje?

SECRETÁRIO JOEL: Deve ir que esta acordado e pra ir hoje;

VEREADOR SERGIO: Mas não tá na pauta já avisa la',

SECRETÁRIO JOEL: Ai, pois é já vou ver com o Guguzinho sei que tava lá na, na comissão dele pra dar o parecer;

VEREADOR SERGIO: Ta' então tu vê porque assim joel

SECRETÁRIO JOEL: Porque eu preciso até, que eles votem ate a redação final hoje; Sim então assim o', então eu ja'

VEREADOR SERGIO vou ti dizer pra ti, então tu vê e me diz, vê e me diz também porque eu ia, pra amanhã eu tinha uma agenda com o presidente da câmara do Alegrete e eu ia sair agora de tarde, então eu vou esperar a votação pra não deixar vocês mai;

SECRETÁRIO JOEL: Tá! VEREADOR SERGIO: Tá, tu me avisa então nisso também;

SECRETARIO JOEL: Com certeza foi bom tu falar, eu vou ver com a Aline esse negocio;

VEREADOR SERGIO: E não tá na pauta, não ta' na pauta só se vai entrar de urgência;

SECRETÁRIO JOEL: Ta', ta' bom então;

 

O prefeito 'procurador' da empresa do vereador

 

O pedido feito pelo MP, e aceito parcialmente pelo Judiciário de Viamão, que determinou bloqueio dos bens, mas não decidiu como o TJ, entendendo a necessidade de afastar prefeito, vereador e outros políticos investigados, aponta que “resta caracterizada não só a conduta criminosa dos réus, ANDRÉ NUNES PACHECO, PEDRO JOEL DE OLIVEIRA e SÉRGIO JESUS CRUZ ANGELO, mas, também que ambos, em conjugação de esforços e pacto de vontades, utilizavam-se dos cargos exercidos para beneficiar, em especial, a empresa KOLETAR pertencente a SÉRGIO ANGELO”.

Segue a 'Lava Jato de Viamão': “além disso, o anexo relatório, da lavra do Gabinete de Assessoramento Técnico do Ministério Público, da conta das diversas oportunidades (mais de 30 vezes) em que, em detrimento dos demais credores do Município de Viamão, por determinação do réu ANDRÉ NUNES PACHECO, e com a conivência do indigitado PEDRO JOEL DE OLIVEIRA, a empresa do imputado SÉRGIO JESUS CRUZ ANGELO foi beneficiada pelos pagamentos adiantados dos empenhos realizados em prol da KOLETAR, invertendo a ordem de credores do Ente Municipal”.

Para evidenciar a espécie de ‘sociedade’ entre o prefeito e o vereador, o MP aponta que “o Prefeito Municipal ANDRÉ NUNES PACHECO, não só privilegiou a empresa de SÉRGIO JESUS CRUZ ANGELO no âmbito municipal, mas, também, defendeu seus interesses no Município vizinho, de Alvorada, conforme diálogo mantido entre o Chefe do Executivo de Viamão e o Secretário da Fazenda daquela cidade”.

 

Alvo: André Nunes Pacheco

Dia 14/04/2019, 12h13min365, duração 07minBQs.

Áudio captado do telefone de Luiz Carlos Telles.

 

PREFEITO: Alô!

LUIZ TELLES: Bom dia, meu Prefeito! Como é que tu ta'?

PREFEITO: E ai] como e' que vai? Tudo bom?

LUIZ TELLES: Tudo tranquilo? Tudo bem. Tu mandou mensagem ontem, mas eu tava em [ Esquina], cara, pescando. [ …]

PREFEITO: Mas eu vi que tu tinha feito um contato pra tratar da (ininteligível), né?

LUIZ TELLES: Hanram, isso.

PREFEITO: Ta', vamo dá… vamo achar um momento essa semana pra… pra conversar la'.

LUIZ TELLES: Tá, eu passa lá. Tá vamo ver… vamo ver o que que tu pode me ajudar, se dá, né?

PREFEITO: Vamo, vamo conversar, vamo conversar.

LUIZ TELLES: Tô disposto a ajudar também, né.?

PREFEITO: Claro, vamo combinar lá, vamo conversar.

LUIZ TELLES: Então tá. Pra ti é melhor final de tarde.?

PREFEITO: E, de repente na terça, depois das… perto das cinco horas por ali

LUIZ TELLES: Tá, ta' eu vou ver, eu… terça-feira como eu tô Secretário líder de bancada, na… na… eu que faço o diálogo com a Câmara agora, não e' mais o Secretário de Governo, eles pediram que fosse eu.

PREFEITO: Tá.

LUIZ TELLES: Talvez se tiver projeto eu não consigo chegar às cinco horas na terça—feira, tem que ser mais tarde ou deixamo pra quarta—feira.

PREFEITO: Tá, não tem problema.

LUIZ TELLES: Eu te confirmo, eu te ligo, eu digo: ”O, terça vai dar”. Porque se não tiver projeto…

PREFEITO: Eu vejo as agenda, eu vejo as minhas agenda amanhã e a gente já pode fr falando, amanhã no final do dia a gente se fala por Whatsapp ou combina terça eu to lá contigo.

LUIZ TELLES: Tá, tá, tá. E o nosso… e vai avançar o nosso negócio aqui com a coisa ou ele tá enrolado também agora aí o teu… o da Coletare ai: o Vereador? Pra assumir a praça ali

PREFEITO: Não. Vamo falar com ele, cara. Vamo trazer ele aqui; vamo botar ele pra fazer isso duma vez já.

LUIZ TELLES: Pois e'. A lâmpada não deu, eu vi… eu vi que o negócio das lâmpadas tu não conseguiu fazer a licitação ainda, terminar?

PREFEITO: Hunrum, hunrum.

LUIZ TELLES: Conseguiu?

PREFEITO: Terminou, segunda-feira termina o prazo de recurso da empresa que perdeu.

LUIZ TELLES: Ah, porque eu vi que… que tu tava… tu tava levando um pau ai nas redes sociais por causa da iluminação, né?

PREFEITO: Sim, sim, sim. Isso aí começou em novembro a licitação, [tramitou—se], agora.

LUIZ TELLES: A gente sabe, mas eles não sabe, né, que o troço tem recurso e tem isso até pra homologar, né?

PREFEITO: E o Rafael.. o Rafael, o Bonatto, Nilton, essa [ lnstapark] tava alí eles tavam forçando a barra pra botar ela, entendeu? Pra fazer um jogo direcionado e eu tirei fora, tirei fora.

LUIZ TELLES: Ah, tá certo.

PREFEITO: Não, tá louco. Até ganhou, quem ganhou foi aqui de Viamão, a Capernorte que ganhou.

LUIZ TELLES: Ah, a Copernorte? Pelo menos fica… fica no [estado], né.?

PREFEITO: (ininteligível).

LUIZ TELLES: E, é verdade. Então ta', eu te… eu te aviso ali.. deixa marcado pra terça-feira, se eu não conseguir eu te mando um Whats dizendo: ”Cancelado, fica pro… pra quarta.

PREFEITO: Combinado.

LUIZ TELLES: Mas ja' deixa… deixa agendado pra terca cinco horas, cinco e meia por ai: depois que terminar o teu expediente, ta'?

PREFEITO: Tá bom, meu irmão. Tá bom então.

LUIZ TELLES: Então tá, tá bom então.

PREFEITO: Valeu, vou me arrumar agora que eu tô indo pro Beira-Rio.

LUIZ TELLES: Ah, eu vou ficar olhando o jogo de casa, né.?

 

O ‘recibo da corrupção’, conforme o MP

 

Agora, o que reputo mais grave.

A ‘Lava Jato de Viamão’ denuncia que “a investigação apurou haver corriqueiras movimentações bancárias entre a empresa pertencente ao atual vereador SÉRGIO JESUS CRUZ ANGELO, a KOLETAR EIRELLI, e a empresa pertencente ao Prefeito Municipal, ANDRÉ NUNES PACHECO, a RELIZA IMÓVEIS (REALIZARE NEGÓCIOS IMOBILIÁRIOS), evidenciando que, na medida em que o Município de Viamão quitava os empenhos realizados em favor da KOLETAR, a empresa transferia montantes a empresa do Prefeito, quase que simultaneamente”.

O prefeito, o vereador e os políticos investigados ou citados nas escutas telefônicas mantêm o silêncio. O espaço segue aberto no Diário de Viamão, que segue analisando as mais de mil páginas dos processos e os áudios e transcrições dos grampos telefônicos para publicar novas reportagens.

 

Analiso.

Ao fim, concluo da mesma forma que o artigo anterior: André Pacheco tem um 'xis na testa' colocado pelo Ministério Público e, em parte, já chancelado pelo Judiciário.

Pode até voltar ao cargo, nesta segunda feira, quando o desembargador Finger volta das férias e é o 'Gilmar Mendes' da vez, já que vai analisar o pedido de 'habeas corpus político' feito pelo prefeito para voltar ao cargo.

Fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos é que, mesmo voltando ao cargo, Andrezinho é cadáver político.

E sob o risco de, ao fim do processo penal, ou a qualquer momento, ser preso.

 

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