No final da manhã escaldante da quarta-feira (11), o pescador Gil Antônio Souza da Luz destranca o portão que dá acesso ao Caça e Pesca. Nem bem retirava o cadeado, ele tentava, mesmo de longe, espiar o rio. A água turva e excessivamente parada está cada vez mais distante da sede do clube, fato o que o preocupa. Afinal, são 27 anos de convício diário com o manancial, e o comportamento da correnteza e o volume disponível naquele trecho é um indicativo da “saúde” do Gravataí. Para ele, não é preciso conferir a régua de medição, quanto mais longe a água estiver da margem, pior.
– Se o rio está bom, a água passa a rampa, vem quase no portão. O problema é este calor… não chove – lamenta o homem humilde, do alto dos seus 60 anos de experiência.
E Luz tem razão de se preocupar com a estiagem. A medição oficial realizada pela Corsan em Gravataí indicava que o nível do rio é de 0,52 centímetros. Ou seja, o manancial está a apenas 2 cm do nível crítico, como já aconteceu no mês passado. A situação é ainda pior em Alvorada, onde o o limite operacional já foi alcançado.
O efeito prático desses marcadores é a suspensão de todo o tipo de captação de água que não seja para abastecimento da população. No nível do início da semana – de alerta -, as lavouras, por exemplo, já não estavam sendo irrigadas com a água do rio.
O trecho sujeito à medida começa na estação da Corsan em Alvorada e segue em direção à nascente até a confluência com a Sanga da Porteira, no limite entre Viamão e Glorinha. Nova medição será divulgada pela Corsan nesta quinta-feirta, às 17h.
Esperança
Por ser a segunda vez em 2020 – com menos de 30 dias de intervalo – o pescador Gil Antônio diz que está é uma das piores crises que já presenciou.
– Já vi muito verão bravo. Teve aquela estiagem em 2005, que dava para caminhar dentro do rio em alguns lugares, mas agora tá sério. Esses dias vi um cardume, aqui na beira, colocando a boca pra fora. Com pouca água, não dá pro peixe respirar – conta, preocupado com os efeitos sobre a vida natural.
O pescador torce por chuva nos próximos dias, “pra deixar o pessoal mais tranquilo”, segundo explica. Mas o verdadeiro desejo dele era que esse tipo de problema não se repetisse.
– Um dia vão aprender a cuidar melhor, eu espero – torce Gil Antônio.
Mudança na medição
A secretaria do Meio Ambiente do Estado (Sema) afirma que desde o início de fevereiro vem adotando medidas para garantir o abastecimento à população, levando em conta o baixo nível do Gravataí. Uma delas estabeleceram novos critérios para a captação da água do manancial. Agora, para a suspensão ocorrer, basta um dos pontos de mediação – Gravataí ou Alvorada – atingir o nível crítico. Antes as leituras feitas pela Corsan na cidade vizinha definiam a condição de operação.
Saiba mais:
– A Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura estabeleceu novos níveis críticos e de alerta, alterando o início da vigência das interrupções e liberações da captação de água.
– Quando o nível do rio Gravataí na estação Corsan/Alvorada estiver abaixo de 1,60m, ou o nível na estação Corsan/Gravataí estiver abaixo de 0,80m, fica estabelecido a "condição de alerta" em que ficam suspensas as autorizações para captação direta de água no rio Gravataí para a finalidade de irrigação.
– Quando o nível do rio Gravataí na estação Corsan/Alvorada estiver abaixo de 1,30m, ou o nível na estação Corsan/Gravataí estiver abaixo de 0,50m, fica estabelecido a "condição crítica" em que ficam suspensas todas as autorizações para captação direta de água no rio Gravataí, com exceção de abastecimento de população humana.
– Durante a vigência da "condição de alerta", o Departamento de Gestão de Recursos Hídricos e Saneamento da Sema poderá autorizar captações de forma intermitente.
– A suspensão da autorização de captação passará a valer a partir das 8h do dia seguinte a divulgação dos níveis do rio neste local.
*Fonte: Sema