Fosse em uma região com topografia mais acentuada cuja mira estivesse apontando efetivamente para Gravataí, e com um volume de água armazenada no mínimo três vezes maior, seria razão de preocupação entre a população da aldeia dos anjos, sim, o mais recente relatório divulgado pela Agência Nacional de Águas (ANA).
Seria, como deixa claro o geólogo e vice-presidente da Associação de Proteção da Natureza do Vale do Gravataí (APNVG), Sérgio Cardoso. Ele garante que mesmo diante de um rompimento, a barragem do Assentamento Filhos de Sepé, que fica em Viamão, entre a RS-040 e a BR-290 (Freeway), não causa dano algum em Gravataí.
— Toda sua água se espraia no banhado (Banhado Grande) que amortiza, e não é tanta água assim — garante Cardoso.
O levantamento desta quinta-feira (30/1) da agência incluiu o reservatório de Viamão – com cerca de 1,5 mil hectares – entre as represas que apresentam algum tipo de comprometimento estrutural e, por isso, têm risco de rompimento. Do Rio Grande do Sul ainda fazem parte a Barragem do Capané, em Cachoeira do Sul, e Santa Bárbara, de Pelotas.
Cardoso, entretanto, desconfia do relatório que coloca a barragem do Assentamento Filhos de Sepé entre as que têm algum tipo de risco de rompimento, já que ela não apareceu em relatório de análise divulgado em abril do ano passado pela Secretaria do Meio Ambiente (SEMA) e elaborado pelo Grupo de Trabalho de Segurança das Barragens.
— A SEMA fez um levantamento dos barramentos em risco no Rio Grande do Sul e este barramento não consta na relação do relatório como de risco. Agora aparece em um relatório da ANA? Como assim se as informações vieram da SEMA? — questiona o geólogo.
Os problemas
O Relatório de Segurança de Barragens, segundo matéria publicada hoje à tarde no site GauchaZH (gauchazh.clicrbs.com.br) diz que a represa de Viamão tem problemas como "percolação excessiva no maciço", ou seja, infiltração de água que pode comprometer o talude.
Além disso, considera que o vertedor é insuficiente para evitar transbordamento, relata depressão na lateral esquerda, formigueiros e vegetação que colocam em risco a estabilidade. Construída na década de 1980, o reservatório serve para irrigação das lavouras de arroz, conter incêndios ambientais e regular o nível do Rio Gravataí.
— Libera água para o manancial em épocas de seca e represa quando o rio está muito cheio. Portanto, está diretamente ligada ao abastecimento de 1,2 milhão de pessoas que moram em Viamão, Alvorada, Gravataí e Cachoeirinha — disse para o site o presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí, Marthin Zang.
MP x Incra
Segundo o portal da capital, as deficiências também foram identificadas pelo Ministério Público Federal que, em 6 de fevereiro do ano passado, ingressou com ação civil pública exigindo do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), responsável pela estrutura, adoção imediata de providências que garantissem condições mínimas de segurança à barragem. O processo tramita na 9ª Vara Federal.
De acordo com o Incra a profundidade da represa nesta época do ano é de 1,5 metro, em média. Quando cheia, atinge 2,5 metros. Em caso de rompimento, algo que os técnicos do instituto consideram improvável, o descampado de solo arenoso absorveria a maior parte da água, descartando risco à vida humana.
— O nível da barragem é permanentemente monitorado, e o manejo das 11 comportas em operação é compartilhada com agricultores do assentamento. Melhorias como troca de tubulação e reforço da estrutura com pedras já têm sido realizadas por eles — reforça o instituto.
IMPORTANTE
As casas mais próximas da possível rota da água em caso de rompimento na barragem, do Assentamento Filhos de Sepé estão a mais de 10 quilômetros de distância.
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