Trocar de país em busca de uma melhor oportunidade de vida não é uma decisão muito fácil. Ainda mais quando se deixa para trás a mãe, o pai, os irmãos. Mas é o que fizeram milhares de pessoas desde que um devastador terremoto atingiu o Haiti há 10 anos, mais precisamente no dia 12 de janeiro de 2010.
A região mais atingida foi justamente a mais populosa, a da capital, Porto Príncipe, embora o epicentro do sismo tenha ocorrido há 25 quilômetros de distância da cidade. Centenas de prédios ruíram, atingindo cerca de 3 milhões de pessoas e causando a morte de um número nunca oficializado de vítimas, entre 100 mil e 200 mil.
Foi um episódio que fez ruir também o sonho de um futuro promissor para quase a totalidade da juventude haitiana. Não bastasse o incidente geológico, sucederam-se crises políticas-governamentais e econômicas que impediram que o país – e seus habitantes nativos – conseguissem se recuperar e retomar suas vidas da forma como era antes.
Para os países da América do Sul, principalmente o Brasil, migraram milhares destes jovens em busca de um futuro melhor, dignidade de vida, condições de trabalho e um lugar para constituírem suas famílias, gerarem e criarem seus filhos. O Sul do Brasil, incluindo Gravataí e Cachoeirinha, estão na rota destes migrantes.
Como da família Pierre!
A brasileirinha
Kedy Carius Pierre, 29 anos, está há cerca de seis anos no Brasil. No Haiti ele deixou os pais e seis irmãos. Destes, os seis irmãos, três estão agora no Equador e outros três no Brasil, dois em São Paulo. Ele nunca perdeu o contato com familiares, com quem diz falar regularmente através dos aplicativos de troca de mensagem da internet.
Mas falta uma coisa! O abraço, o aperto de mão e o toque no rosto da mãe e do pai. Tanto que ele planeja um dia trazê-los para também morar no Brasil, terra que ele considera acolhedora, diz ser generosa, e que oferece boas condições para quem quer trabalhar de verdade, principalmente na região mais ao Sul.
Já em terras verde-amarelas, Kedy Pierre trouxe a irmã, Icania, 25 anos, para morar com ele. Mais ou menos ao mesmo tempo, há quase dois anos, veio sua mulher, Glesia Pierre, de 28 anos, que deixou a mãe no Haiti, também em Porto Príncipe, além de quatro irmãos. Três deles continuam no Haiti e um já mudou para São Paulo.
Por aqui, Kedy e Glesia fixaram residência na rua Salinas, 40, no Jardim Betânia, bairro de Cachoeirinha no qual vivem mais uma meia centena de haitianos que vieram para o Brasil na última década. Na casa, com eles, também mora Icania, irmã de Kedy e cunhada de Glesia. E há pouco menos de 10 meses chegou uma brasileirinha, Sayumi Carius Pierre.
O idioma predominante dentro da pequena casa pintada com tinta verde por fora, uma das três construídas sobre um mesmo terreno e todas ocupadas por haitianos que vieram morar e trabalhar no Brasil, ainda é o Francês, língua oficial ao lado do idioma Crioulo. E Sayumi, mesmo sendo uma brasileirinha, está aprendendo a falar em… Francês!
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Sem experiência
A vontade de ter uma vida bem melhor e ter os recursos necessários para reunir a família no entorno de suas vidas, além de dispor das condições ideais para o crescimento da pequena Sayumi, estão esbarrando em um detalhe que não é pequeno e causa uma grande diferença: a dificuldade em conseguir emprego!
Nem tanto pela barreira do idioma. Kedy já consegue se comunicar bem em português, embora o forte sotaque do idioma do seu país de origem. Glesia, a esposa, há menos tempo no Brasil, tem mais dificuldade. Até porque em casa só se comunicam em francês. O problema é a falta de experiência.
Glesia, que ontem esteve em mais uma entrevista de emprego, recém concluiu um curso que a preparou para ser Cuidadora de Idosos. Se surgir uma vaga nesta área, melhor. Caso contrário, garante que aceita trabalhar em outras áreas, para melhorar o orçamento financeiro da casa.
— Mas eles sempre querem que a gente tenha experiência, e isso eu não tenho. Meu sonho é me tornar uma profissional desta área — diz a haitiana, pausadamente para se fazer entender, sobre o que almeja enquanto Cuidadora de Idosos.
A irmã de Kedy e cunhada de Glesia, Icania, também está em busca de colocação no mercado de trabalho. Ela garante que está apta a trabalhar como recepcionista e que tem curso que a capacita a atuar como auxiliar administrativa. Kedy Pierre apela a quem tem condições de empregar as duas.
— A gente quer trabalhar, ter uma vida melhor. Só isso — diz ele.
CONTATOS
Quem estiver disposto a oferecer uma chance de trabalho pode entrar em contato via whatsapp pelos números:
(51) 8130.0497 – Pierre
(51) 8111.8069 – Glesia
Importante: Ambos têm dificuldades em se expressar em português.