coluna da marcilene

Pare de falar de crítica construtiva!

Crítica construtiva é daquelas expressões que deveriam ser abolidas do seu repertório. Nada pode ser mais nocivo para os relacionamentos – sejam eles profissionais ou pessoais – do que uma bem-intencionada crítica construtiva. A expressão nem precisa ser pronunciada. Basta que o outro perceba, no seu tom de voz, que está sendo criticado.

Sejamos honestos: não é fácil ser criticado; não é desejável ser criticado. O ser humano busca aprovação no outro, e não o contrário. Talvez, você esteja se perguntando: isso significa que preciso mentir para que o outro não sofra? Com certeza, não é disso que se trata.

A sinceridade é uma qualidade que deve ser preservada e cultivada sempre, mas é preciso não cair na armadilha da franqueza sem medida. Por mais que alguém peça uma opinião – e é isso que a crítica é – não vai querer ser criticado. E isso deve ser lembrado, principalmente, se você está em uma posição de comando, de liderança.

A palavra crítica vem do grego krimein, que significa "quebrar". Como as palavras não têm sentido em si mesmas – afinal, não há palavras inocentes –, no contexto em que é colocada refere-se à desconstrução. Então, a crítica não constrói; ela destrói ou desconstrói.

Quando alguém ouve a palavra crítica – ou sente que ela é a base do que está sendo manifestado por meio da linguagem – há uma tendência à recusa, ao ressentimento.

No caso das artes, do cinema e da literatura, os críticos são aqueles que têm o papel de “quebrar” a ideia que se tem daquele objeto – (exposição, filme, livro) por meio de uma análise fundamentada. Por isso, críticos estão sempre sob artilharia pesada, quando não chegam a ser odiados por aqueles que são alvo das críticas.

Quando alguém se propõe a fazer uma “crítica construtiva”, pode saber que a pessoa vai expressar sua opinião e, pior, expressar algum juízo de valor. Prevendo que a reação do outro não será das melhores, ela acrescenta a palavra “construtiva” como forma de tornar mais suave a intervenção.

Um exemplo prático na vida corporativa: nada mais constrangedor em uma reunião, na qual uma pessoa, ou um grupo de pessoas, apresenta uma proposta e outra diz (pode ser o chefe ou um colega) que tem uma crítica a fazer. Poderia ser uma sugestão, uma pergunta, uma observação. Mas, não: a pessoa tem uma crítica.

Uma boa estratégia para fugir da tentação de dar opiniões que se pareçam com críticas (ainda que intencionalmente construtivas) é fazer perguntas ao seu interlocutor. Se uma pessoa te pede uma opinião sobre a melhor atitude a ser tomada, por exemplo, devolva perguntas que a faça refletir.

Como isso pode ser feito? Pergunte a ela por que tem dúvida sobre a decisão a ser tomada; questione se tem consciência dos reais motivos que a levaram a tomar tal atitude; pergunte, também, se haveria outras possibilidades e quais seriam as consequências. Perguntas levam ao estabelecimento do diálogo.

Se um subordinado te entrega um projeto ou toma atitudes equivocadas, conduza-o a fazer uma autocrítica por meio de perguntas estratégicas. Ao fazer o outro refletir, você promove um duplo movimento: faz com ele perceba melhor o que fez e, com isso, avalie “sozinho”; e, ao mesmo tempo, se coloca como alguém que apontou ou sugeriu para ele que estava errado. E o que é melhor: sem anunciar que faria uma crítica construtiva.

Se sabemos que o ser humano quer aprovação, também sabemos que todos gostam de se sentir importantes. E nada melhor para nos sentirmos importantes do que sabermos que o outro se interessa por nós. Fazer perguntas é uma forma de mostrar interesse!

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