pequenas empresas, grandes histórias

A cervejaria da Morada do Vale

Antônio Berfato, mestre-cervejeiro, fundador e proprietário da Berfato Beer, cervejaria artesanal de Gravataí especializada na produção de cervejas pilsen.

Chamada popularmente de “loira gelada”, ela é indispensável antes, durante e depois do churrasco de domingo, na confraternização da família, da empresa ou entre amigos…

Vai bem no balcão do bar para afogar as mágoas ou acabar com a inibição na hora da conquista. Só não “casa” com a direção do automóvel e sempre é bom seguir a observação: beba com moderação!

E viva à cerveja!

Quando é da boa, produzida artesanalmente e de acordo com as regras de pureza, dentro de um rigoroso controle sanitário, o que importa é ter o prazer de poder degustá-la. Esteja onde estiver e com quem estiver.

É o caso de Antônio Vanderlei Berfato Rodrigues. Ele jura que toma cerveja, comedidamente, todos os dias e horários possíveis. Também, pudera! Ele é mestre-cervejeiro, fundador e dono da Berfato Beer, uma fábrica de cerveja artesanal.

A empresa – e a produção! – fica na avenida Conde Figueira, na Morada do Vale I, em Gravataí mesmo. E surgiu pequena, com cerca de seis mil litros ao mês. Hoje não é uma produção gigante, está na faixa dos 30 mil litros ao mês.

Mas Antônio Berfato, que nasceu no então 6º Distrito de Osório – hoje o emancipado município de Terra de Areia – e que vive em Gravataí desde 1970, está satisfeito com os números que a filha Dainheni (assim mesmo!) registra mês a mês.

— É que uma quantidade menor permite que a gente mantenha o nível de qualidade e tenha o controle sobre tudo, do custo do insumo ao valor da venda — diz ele, com fala mansa e jeito de quem sabe onde quer chegar com seu negócio.

 

O CNPJ, em 2015

 

O marido da Rosmery e pai de Dainheni, Deise e Dênis, começou a se envolver com cerveja quando foi trabalhar na Cervejaria Kaiser, mais precisamente na outrora pulsante fábrica que a empresa mantinha no Distrito Industrial de Gravataí.

Um parêntese:

Desativada, onde era a Kaiser de Gravataí, hoje, restam apenas uns poucos funcionários que zelam pela segurança das instalações e lubrificam máquinas e equipamentos, para que não se percam, deteriorados pela ação impiedosa do tempo.

Voltemos ao Berfato! Quando foi trabalhar na Kaiser, em 1988, ele fez um curso de cervejeiro que concluiu no ano seguinte. Era para atuar na produção de cervejas sabendo o que estava fazendo. Ficou na empresa até 1996.

Depois disso continuou no meio. Inclusive trabalhando como representante de outra companhia cervejeira, da qual revendia principalmente o chope. Foi mais ou menos neste tempo que começou a produzir a sua cerveja. De modo artesanal, claro!

E em 2015, finalmente, oficializou a Berfato Beer com registro e a obtenção do seu CNPJ, o Cadastro nacional de Pessoa Jurídica, que mantém em um quadro na parede do modesto escritório ao lado dos alvarás e licenças necessárias à atividade.

 

Sem arroz

 

Hoje, com dois funcionários e sua supervisão direta, Berfato tem capacidade para produzir cerca de 30 mil litros de cerveja a cada mês. Cuida pessoalmente da qualidade dos insumos e garante que segue as regras de pureza.

— Não uso aqui, na composição, cereais como arroz, milho, entre outros, que algumas cervejarias botam junto para reduzir os custos. Na Berfato usamos apenas os quatro produtos básicos para fazer cerveja: um bom malte, bom lúpulo, bom fermento, e a água do nosso (rio) Gravataí — diz ele.

Apesar de tanques modernos, de aço, onde são cozidos, misturados, fermentados os insumos e armazenada a cerveja, Antônio assegura que o cuidado pessoal, a receita seguida a risca e o volume produzido enquadram a Berfato, sim, como cerveja artesanal.

 

PARA SABER

 

1

Ele conta que o malte é adquirido, quase na totalidade, do Paraná. Diz que é de primeira por ser de uma região que é referência na produção de malte.

 

— É de Entre-Rios, produto de alta qualidade — garante.

 

A puro malte

Indo direto ao ponto, cervejas puro malte são aquelas que possuem apenas o malte como fonte de açúcar. Ou seja, uma cerveja puro malte é composta pelos ingredientes: água, lúpulo, malte e fermento.

 

O que é malte

O malte é um dos principais ingredientes da cerveja. É produzido principalmente a partir dos grãos de cevada que são umedecidos e colocados para germinar. Após os brotos nascerem, o grão é secado e torrado para deixar o amido mais disponível para produzir a cerveja.

 

O malte na saúde

Além de ser fonte de energia devido ao teor de carboidratos, os componentes da cerveja em seu estado puro – malte, cevada e lúpulo – são fontes de vitaminas do grupo B e sais minerais como fósforo e magnésio. Portanto, beber cerveja também faz bem para a saúde.

 

2

Já o lúpulo é um dos insumos importados. O valor pesa na composição do custo, já que vem da Alemanha.

 

A planta

Lúpulo, ou pé-de-galo, é da espécie Humulus lupulus, nativa da Europa, Ásia Ocidental e America do Norte. É uma planta que cresce no início da primavera e definha no inverno. Sendo trepadeira, tem capacidade de crescer de quatro a seis metros, aproximadamente. Possui flores polinizadas pelo vento, que atraem borboletas.

 

As resinas

O lúpulo é tradicionalmente usado, junto com o malte (grão maltado), a água e a levedura, na fabricaçāo da cerveja. No calor do cozimento da mistura, o lúpulo libera suas resinas de sabor amargo, dando à cerveja sabor característico. O lúpulo é um conservante natural, sendo essa uma das principais razões para ser adotado na produção de cerveja.

 

3

A levedura serve para a fermentação da cerveja e também é um produto importando. Geralmente dos Estados Unidos e, conforme a época, da Alemanha.

 

Os açúcares

A espécie mais comum é  conhecida popularmente como levedura de padeiro ou da cerveja. Isto deve-se ao seu papel milenar na produção de pão e bebidas alcoólicas, devido à sua capacidade de realizar fermentação alcoólica, sintetizando etanol e dióxido de carbono, através do consumo de açúcares.

 

Teor alcoólico

O etanol é o álcool presente nas bebidas alcoólicas fermentadas, e o dióxido de carbono é o responsável pela gaseificação da cerveja. A produção de dióxido de carbono que faz levedar foi a razão do nome destes organismos, dado que a etimologia da palavra levedura tem origem no termo latino levare, que significa crescer ou fazer crescer.

 

Confira a entrevista de Antônio Berfato sobre a produção da sua cerveja artesanal, clicando na imagem abaixo.

 

Opção única

 

Antônio Berfato, diferentemente de vários outras cervejarias artesanais, optou pela produção de apenas um único tipo de cerveja: a pilsen. É a forma que encontrou para manter sob controle a planilha de custos, produzir uma cerveja sempre com a mesma qualidade, no caso, encorpada e com um sabor um pouco mais leve que a pilsen tradicional.

O diferencial na produção da Berfato Beer é o tempo de fermentação e maturação, geralmente de 25 dias e a uma temperatura constante, próxima de zero grau. Só depois acontece o envaze que se dá diretamente dos barris onde o líquido fica armazenado. A cerveja vai direto para os barris de 30 litros cada ou para as garrafas, de um litro cada.

 

Clientela

 

Atualmente, de acordo com Antônio, os clientes da Berfato Beer são, na grande maioria, amigos e pessoas indicadas por amigos. Fora estes, a cerveja/chope costuma ser levado da Morada do Vale diretamente para eventos corporativos de empresas ou festas de aniversários, casamentos, formaturas, ou simplesmente confraternizações familiares ou entre amigos.

A marca já esteve em feiras pela Região metropolitana, como a Expointer, de Esteio, que está acontecendo até o final desta semana. Os altos custos e a possibilidade de baixo faturamento fizeram com que Antônio optasse por não mais levar seu produto para eventos desta natureza.

— Tem que pagar, e é caro, pelo espaço. E a gente não tem garantia de venda. Se chove um ou dois dias num evento como a Expointer, o público não vai e o prejuízo da gente é mais do que certo — conta.

 

IMPORTANTE

 

1

O pavilhão de 220 metros quadrados de área construída onde a Berfato Beer produz a cerveja que comercializa em barris ou garrafas de litro fica na avenida Conde Figueira, 649, na Morada do Vale I, em Gravataí.

 

2

Antônio Berfato reluta em falar em números, principalmente sobre o custo de produção e a margem de lucro que tem a cada litro de cerveja produzido. Sobre os investimentos na cervejaria, admite apenas que a cifra já passou dos R$ 2 milhões.

 

Lei da pureza

 

A Reinheitsgebot (em português, Lei da Pureza da Cerveja) foi promulgada pelo duque Guilherme IV da Baviera em 23 de abril de 1516. A lei da pureza da cerveja instituiu que a cerveja deve ser fabricada apenas com os seguintes ingredientes: água, malte de cevada e lúpulo. A levedura de cerveja não era conhecida à época.

 

O TEXTO

 

Proclamamos com este decreto, por Autoridade de nossa Província, que no Ducado da Baviera, bem como no país, nas cidades e nos mercados, as seguintes regras se aplicam à venda da cerveja: 

Do dia de São Miguel (29 de Setembro) ao dia de São Jorge (23 de abril), o preço para um Litro ou um Copo, não pode exceder o valor de Munique do pfennig. 

Do dia de São Jorge (23 de Abril) ao dia de São Miguel (29 de setembro), o litro [nota: uma unidade equivalente ao atual litro] não será vendido por mais de dois pfennig do mesmo valor, e o copo não mais de três Heller (Heller geralmente é meio pfennig). 

Se isto não for cumprido, a punição indicada abaixo será administrada. 

Se todo cervejeiro tiver outra cerveja, que não a cerveja do verão, não deve vendê-la por mais de um pfennig por Litro. 

Além disso, nós desejamos enfatizar que no futuro em todas as cidades, nos mercados e no país, os únicos ingredientes usados para fabricação da cerveja devem ser lúpulo, malte e água. 

Qualquer um que negligenciar, desrespeitar ou transgredir estas determinações, será punido pelas autoridades da corte que confiscarão tais barris de cerveja, sem falha. 

Se, entretanto, um comerciante no país, na cidade ou nos mercados comprar dois ou três barris da cerveja (que contém 60 litros) para revendê-los ao vendedor comum, apenas para este será permitido acrescentar mais um Heller por copo, do que o mencionado acima.

Além disso, deverá acrescentar um imposto e aumentos subsequentes ao preço da cevada (considerando também que os tempos da colheita diferem, devido à localização das plantações). 
Nós, o Ducado da Baviera, teremos o direito de fazer apreensões para o bem de todos os interessados.

 

NO DETALHE

 

Atualmente, devido à regulamentação europeia, outros ingredientes são autorizados nas cervejas alemãs, mas a maioria dos cervejeiros alemães continua a seguir as prescrições do Reinheitsgebot, consideradas garantia de qualidade. Isto acontece principalmente nas marcas vendidas em território alemão.

 

 

 

 

 

 

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