ESPORTE

A consagração de Mônica, de Gravataí para sua terceira Copa do Mundo feminina

A convocação da gravataiense Mônica Hickmann, aos 36 anos, para mais uma Copa do Mundo feminina celebra a carreira da atleta que ousou fazer o impossível. Mônica representa uma geração de meninas e mulheres de Gravataí e Cachoeirinha que nos anos 90 e 2000 nadaram contra a correnteza e enfrentaram desafios apenas para jogar bola. Ela não foi a única – e talvez nem fosse a melhor de todas naquela cena que fervilhava, e certamente não foi nada fácil enfrentar tudo o que encontrou pela frente até realizar seus sonhos. Jogou na Áustria, Austrália, Estados Unidos e ainda atua em alto nivel, na Espanha.

Mônica nasceu em Porto Alegre, mas veio ainda criança com os pais e a irmã Vanessa morar em Gravataí, onde as duas deram os primeiros chutes no pátio da escola Bom Jesus. Em 2001, com 14 anos, ambas brincavam num time feminino chamado Borússia, junto com a experiente professora Vanda, atleta universitária da Unisinos, que morava na Morada do Vale. Mas não era fácil encontrar espaços disponíveis nem adversárias para praticar o esporte.

Naquela época, quem dominava a cena em Gravataí era o Bola Mil, time de futsal que contava com apoio dos proprietários do belíssimo ginásio da 68, na rua São Luis, que fornecia um horário gratuito aos sábados para treinos e jogos amistosos. Mas as disputas equilibradas só aconteciam quando vinham adversários de fora da cidade, como num incrivel empate em 6 a 6 com a UFRGS, ou uma vitória épica contra o Nápoli, melhor time de Viamão.

Foi nesse contexto que o Borússia apareceu para um duelo numa tarde ensolarada no Bola Mil. Eram somente Mônica, Vanessa, Vanda e mais duas, sem suplentes, apenas cinco atletas para um jogo de 60 minutos. O Bola Mil com suas craques, todas adultas e com históricos respeitados na modalidade. A baixinha Bianca, com mais de 40 anos, que recebia cachê para jogar em Nova Prata (RS). Genú, que veio da Paraíba e chegou a jogar grávida num campeonato, e a experiente Rosa de Boer, que distribuia cartões de visita com seu nome e telefone, à espera de convites para jogar: “Rosa, goleira de futsal, areia e campo”, dizia o cartão.

O Bola Mil venceu, mas num placar apertado de 9 a 6. As irmãs Hickmann deixaram todos impressionados e, ao final da partida, veio o convite para ambas treinarem no grupo. Era de graça, com vestiário e chuveiro quente. E de vez em quando um torneio, geralmente em Canoas ou Alvorada, pra se divertir.

Com Mônica, Vanessa e Rosa de Boer de cabelos grisalhos, o Bola Mil foi campeão municipal de Sapucaia, vencendo a gigante Unisinos na final. Tati Ferreira, da Vila Rica, era a camisa 10 e craque do time. E ainda havia Josiane “Grosso” Dal’áqua, que com 15 anos foi titular da sub 17 do Grêmio, mas morreu assassinada com um tiro, aos 25 anos, em 2008.

Com 14 anos, era dificil para Mônica disputar posição de ala ou pivô com as craques consagradas da várzea no time, e por isso a solução foi atuar como fixo, a zagueira do futsal. Mônica era uma menina tímida, que falava pouco. Aprendia a tocar violão e frequentava com a mãe uma igreja católica. Para viajar com o time, era preciso que alguem do Bola Mil pedisse permissão aos pais.

O projeto Bola Mil acabou quando o dono do ginásio, um jovem advogado chamado Ênio, resolveu alugar o horário das meninas, que àquelas alturas já atraiam muita gente ao ginásio no começo das tardes de sábado, todos encantados com as mulheres que davam espetáculo de graça.

Pouco depois, Mônica foi para o interior de São Paulo, onde se consagrou e logo foi levada para a Europa por um empresário. Cinco anos depois do Bola Mil, Mônica estava jogando na Áustria quando foi convocada para a seleção sub 20. Na semifinal do mundial da categoria, converteu um pênalti contra a Coreia do Norte, e ali iniciou sua tajetória com a camisa amarela do Brasil. Nesse mesmo ano, Mônica confidenciou com exclusividade ao jornal Correio de Gravataí:

– Virei zagueira por causa do Bola Mil – disse ela.

Na Austrália e Nova Zelândia, Mônica vai disputar agora sua terceira e última Copa do Mundo. O Brasil está no Grupo F e estreia no dia 24 de julho, contra o Panamá, em Adelaide. Depois, joga contra a França, dia 29, em Brisbane, e Jamaica, dia 2 de agosto, em Melbourne.

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