Ao subestimar a incompatibilidade entre os vereadores Dilamar Soares (PDT) – salvo engano, o mais próximo a ele – e Cláudio Ávila (União Brasil), o prefeito Luiz Zaffalon (PSDB) arrisca explodir a base de governo, comprometer a reedição da chapa com o vice Dr. Levi (Republicanos) e, por consequência, a reeleição.
É mais um ‘bem-vindo à política’ que experimenta na III Guerra Política de Gravataí: Zaffa x Alba, pós Abílio x Oliveiras e Bordignon x Stasinski.
É preciso uma cronologia.
A crise da suposta ‘barriga de aluguel’ resta colocada. Em agosto reportei que Odair Santos saiu do oposicionista União Brasil de Ávila para o Republicanos – e para um CC na Secretaria da Fazenda; leia em Vereadores Bombeiro, Clebes e Demétrio pedem ao prefeito Zaffa para Cláudio Ávila entrar no governo; ‘De Dias Gomes’, a nova novela da III Guerra Política de Gravataí.
Também analisei a indicação de filho de assessora de Ávila em CC na Secretaria Municipal de Meio Ambiente. O vereador negou qualquer relação. As nomeações ficaram na conta do vereador Bombeiro Batista (Republicanos); leia em A desconfiança de que Bombeiro faz ‘barriga de aluguel’ na Prefeitura para apoiadores de Ávila; A teoria da conspiração e os infiltrados no partido comunista.
Na semana passada, a ex-assessora de Ávila, mãe do rapaz, foi nomeada no Instituto de Saúde dos Servidores (Isseg). A suspeita da ‘barriga de aluguel’ da vez ficou com o vereador Clebes Mendes (MDB), que teria feito a indicação, apesar da candidata a conselheira tutelar que a CC apoia ser Cristiane Moreira, inimiga de Clebes desde que rompeu com ele para apoiar Alison Silva (MDB) – hoje Cristiane está no partido de Ávila.
Também nos últimos dias, Rafaela Nauane, esposa do líder do vereador e líder do governo na Câmara Alex Peixe (PTB), teve revertida judicialmente a cassação da candidatura a conselheira tutelar em uma ação do escritório de advocacia de Cláudio Ávila; leia em Liminar reverte cassação de candidatura de esposa de vereador ao Conselho Tutelar de Gravataí; Decisão deve embasar recursos de outros impugnados.
Sentindo-se traído, já que teria perguntado três vezes a Peixe se Ávila faria a defesa de Rafaela, e ouvido negativas, Dila comunicou ao vereador que não apoiaria mais a candidata, com quem estava acertado.
Também durante o fim de semana era dada como certa a filiação da candidata ao Conselho Tutelar Liege do Santa Rita no Republicanos, onde teria o apoio de Bombeiro na campanha.
A professora é uma das amigas mais próximas de Ávila e, o ‘sobrenome’ ajuda a lembrar, foi linha de frente com ele na disputa para o ensino médio da escola não ser extinto na transformação para instituto federal, o que colaborou no processo de desgaste de Rita Sanco (PT), depois vítima de um golpeachment apresentado por Ávila. A crise na escola estava no rol das 11 ‘denúncias’ do impeachment.
Onde resta a crise?
Sabe o meio político que Dila precisou sair da liderança do governo a partir de um movimento articulado por Ávila junto à vereadores de oposição, mas principalmente de governo, após um rompimento traumático entre os dois; leia em Acabou o ‘love’ político entre os vereadores Dila e Cláudio Ávila; A sessão das acusações, o #LiraNão! e a III Guerra Política de Gravataí e ‘Bem-vindo à política!’: Dila não é mais líder do governo Zaffa; Prigozhin, Han e Tang, os janissários e a III Guerra Política de Gravataí.
Dila – que pela governabilidade silenciou publicamente com as entradas no governo dos oposicionistas Bombeiro Batista e Fernando Deadpool (Patriotas), que votaram contra a reforma da previdência e, Bombeiro, articulava inclusive uma CPI da Sogil na época da liberação dos subsídios milionários para a concessionária – já disse para amigos, mais de uma vez, e eu entre eles: “Abraço o Marco Alba, o Bordignon e até o Dimas no inferno, mas não fico com Cláudio Ávila no paraíso”.
Referia-se Dila aos até então adversários políticos dele e de Zaffa: Marco Alba, Daniel Bordignon e Dimas Costa, este seu irmão, mas com quem não mantém relações nem mesmo pessoais.
Desde sexta Dila se fechou.
– Não quero falar sobre isso ainda – disse apenas, e além do “ainda”, evidenciando a contrariedade ao compartilhar vídeo-áudio onde o locutor diz, entre outras coisas, “não sou daquele que abaixa a cabeça para agradar ninguém”, “já enfrentei tempestades que fariam outros se acovardarem, mas essas experiências me tornaram mais forte”, “eu respeito todo mundo, mas não tenho medo de ninguém”, “significa que se alguém tentar me enganar, não vou me fazer de cego: vou agir com dignidade e coragem”. Clique aqui para assistir.
Cláudio Ávila negou ao Seguinte: relação com as indicações e disse “desconhecer essa tal crise”.
– Não estou no governo, não faço parte da base do governo e não tenho compromisso político ou eleitoral com o prefeito. Pessoas que passaram pela minha vida política, partido ou amizades, ocupam espaços públicos por suas relações, méritos e deliberação de quem as nomeou – disse, explicando que desde que assumiu, em 1º de janeiro de 2021, age da mesma forma: para colaborar no legislativo com ações importantes para cidade.
– Foi assim quando prefeito e ex-prefeito estavam juntos e o MDB comandava a política, é assim agora. Não podemos deixar que brigas políticas afetem a relação entre legislativo e executivo. Temos para votar Código Tributário, Plano Diretor, financiamento de R$ 60 milhões, o próximo Orçamento… Quem não tem essa compreensão fica dando F5 no Diário Oficial para procurar intriga, fofoca. O prefeito precisa governar – acrescenta, reafirmando que o União Brasil tem candidatura própria, o advogado Diego da Veiga Lima.
– Mas se há enfrentamento de Marco Alba com alguém, sem saber quem é o alguém já fico mais próximo do alguém – conclui, com seu perfil polêmico.
Inegável é que a crise pode contaminar a relação de Zaffa com Dr. Levi.
Na semana passada reportei o movimento de filiação do vice-prefeito no Podemos, onde já estão o ex-vice-prefeito Francisco Pinho e o secretário da Agricultura Denner Gelinger, e para onde também iriam Dila e o ex-vereador e afilhado político de Sérgio Zambiasi, Paulinho da Farmácia, além de ter negociação aberta com outro vereador cujo nome ainda não conseguir confirmar; leia em Escolha partidária de Dr. Levi coloca sob teste reedição da chapa com Zaffa; A III Guerra Política de Gravataí e o ‘Deus morreu, tudo pode’.
O partido forte serviria de garantia para Levi ser o vice, numa disputa que se inscreve com o Republicanos de Bombeiro – também explico no artigo relacionado acima –, que se emplacar a indicação poderia retribuir Ávila emprestando a ele o apoio de vereador mais votado em 2020 e a influência que tentar insidiar em diferentes setores do governo – alguns já o apelidaram de “Professor de Deus”.
Fato é que, assim como Dila, Levi também não queria Ávila no governo, por ter sofrido ataques políticos e profissionais do vereador nos últimos quatro anos. Se perceber que há uma conspiração para tirá-lo da chapa com Zaffa, pode valer a Nietzschiana, “Deus morreu, tudo pode”.
Se Dila diz que se alia a adversários no inferno, mas não a Ávila no paraíso, como se comportará Levi?
Aí, aqui é especulação minha, com 27 anos de cobertura política na aldeia: e se Levi resolver ser ele o candidato a prefeito? Publicamente, até o momento só se apresentaram como candidatos Zaffa, Daniel Bordignon (PT) e Dimas Costa (PSD). Marco Alba (MDB) silencia.
Ao fim, Zaffa, com fama de ‘gerentão’ em um governo de entregas e notoriamente aprovado em pesquisas, experimenta também um ‘bem-vindo à política’ que o chama para a planície. Precisa ser hábil para não restar refém de uma ‘República de Vereadores’, como em Cachoeirinha aconteceu com Miki Breier (PSB) e segue com Cristian Wasem (MDB).
Lembra-me Millôr, essas negativas postas e as que virão sobre a crise: “Quando a bomba explodiu no Riocentro, várias testemunhas declararam ter visto no local um animal ruminante de 3 metros de altura, com um pescoço de 2,5 metros de comprimento, pernas de músculos fortíssimos, dois pequenos chifres, pele cinza e luzidia. As autoridades já prenderam três carneiros”.
