3º NEURÔNIO

A espetacularização da CPI das Bets

O roteirista, produtor e estrategista digital Luiz Henrique Barbudinho analisa, em artigo para o Seguinte:, o espetáculo montado na CPI das Bets


A CPI das Bets se tornou muito mais do que uma investigação. Virou palco. Virou espetáculo. E, principalmente, vitrine de estratégias de marketing político sem filtro.

Virgínia chegou com tudo milimetricamente calculado: moletom com a imagem da filha no peito, óculos de “sou séria hoje”, maquiagem leve, marido famoso ao lado e uma postura que alternava entre a simplicidade da mãe de família e a CEO de uma marca milionária. Não era só um depoimento. Era construção de personagem. Uma performance.

Transformou seu inquérito em corte de TikTok, seus argumentos em frases de efeito, e sua crise reputacional em uma aula de storytelling corporativo. Enquanto senadores tentavam colocá-la contra a parede, ela respondia com bordões, dancinhas e até promoções-relâmpago na loja no dia seguinte. Resultado? Uma avalanche de engajamento.

Ela perdeu seguidores? Sim. Mas ganhou olhares. E quando o olhar do público se volta para alguém, não importa se o motivo é polêmico ou não: isso se converte em capital. Influência. Força. Venda.

Enquanto isso, o Senado – teoricamente uma das instituições mais sérias da República – virou cenário para selfies e memes.

Vivemos a era do político que não parece político. E é justamente aí que mora o perigo. Porque quem transforma a própria vida em canal, quem domina o algoritmo melhor do que o regimento, quem viraliza até pedido de desculpa, já entendeu que o poder não está mais só nas urnas. Está no engajamento.

E se engajamento é capital, quem domina isso domina tudo.

Se antes a política era feita no discurso, hoje ela se faz no feed. E o que vimos na CPI das Bets foi uma aula – ou melhor, uma campanha – disfarçada de depoimento.

Bem-vindo à política do buzz. Onde quem perde é o debate. E quem ganha é quem melhor performa.

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