opinião

A estratégia por trás do projeto para manter Ipag Saúde; é pedalada para 2021

Dimas, distribuindo seu projeto que garante sobrevivência ao Ipag Saúde, teve seu dia de alunos nota 10 entre as professoras

Nos Jogos Vorazes disputados pelo governo Marco Alba e o sindicato dos professores, Vitalina Gonçalves e as professoras que comandam o SPMG desde sempre, mostraram força contra a extinção do Ipag Saúde, na sessão desta terça, quando lotaram o plenário e a rua José Loureiro da Silva, em frente ao Kinder Ovo da Câmara.

Além do grito em decibéis majoritariamente femininos, silenciosamente articularam nos bastidores a apresentação de um projeto de lei em contraponto ao PL 19, encaminhado pelo prefeito nesta segunda e que extingue o plano de saúde que atende cerca de 10 mil pessoas, entre servidores ativos, inativos, pensionistas e familiares.

Dimas Costa, que protocolou o texto escrito pelas sindicalistas às 16h58, dois minutos antes do fechamento da secretaria do legislativo, ganhou a estrelinha das professoras.

Um pouco de contexto antes de reproduzir a comentar o PL 28, de Dimas, que você lê na íntegra, artigos e justificativa, clicando aqui.

Se a Globo tivesse feito a cobertura da sessão de ontem, o jornalista enviado certamente teria estranhado, já que Dimas é do PSD, partido do ‘liberal’ Gilberto Kassab (sem bem que foi aquele que apagou a luz do governo Dilma e acendeu no governo Temer…). Já o SPMG é filiado à CUT e Vitalina, entre uma foto no palco com Lula, e uma hashtag #lulalivre, é a cara da esquerda de Gravataí na Frente Brasil Popular.

Mas tem um passado nesse presente.

Dimas foi eleito pelo PT, em 2013, e saiu apenas quando o partido foi esvaziado por Daniel Bordignon que, em sua obsessão por voltar a ser prefeito, se filiou ao PDT para livrar sua propaganda de campanha daquelas duas letrinhas – a 16ª e 20ª do alfabeto – tão odiadas por eleitores em 2016 e, hoje, talvez até mais na Gravataí que deu sete a cada dez votos para o ‘mito’ Jair Bolsonaro.

Em resumo: para quem conhece a aldeia, nenhuma surpresa; Dimas defendeu o funcionalismo como o ‘novo Bordignon’ que é.

Por apresentar o projeto, e pelos aplausos nos discursos que fez na sessão, ficou claro que o vereador que foi o candidato a deputado mais votado em Gravataí – superando Patrícia Alba e Jones Martins, candidaturas do MDB do prefeito – é o novo queridinho do funcionalismo.

O que tem sua lógica. E explico. Rosane Bordignon (PDT) e Paulo Silveira (PSB), os dois outros oposicionistas canhotos com mais conteúdo, fizeram discursos-padrão, ao estilo ‘nenhum direito a menos’. A esposa de Bordignon, no afã de agradar as colegas, cometeu inclusive um erro grave: disse que, num governo dela ou do marido, mesmo que seja extinto, o Ipag Saúde será retomado.

Não direi que é demagogia, o substantivo feminino que suaviza a mentira, porque Rosane é grande demais para isso, com seus 44 mil votos como candidata a prefeita em 2016. A professora, que não foi à última assembleia do sindicato, certamente não sabia que desde 2003 é proibido criar assistência em saúde em institutos de previdência municipal, o que a própria presidente Vitalina Gonçalves alertou ao microfone naquele dia 12.

Ok, e Dimas? Dimas fez a sua, legislou, apresentou uma proposta, mesmo que demagógica, factível, e experimentou uma reação incrível, já que concordou com o prefeito ao retirar a contribuição da Prefeitura, mas saiu como herói. Distribuiu cópias de seu projeto no plenário e saiu, de seu jeito estabanado, derrubando papéis para panfletear junto aos servidores que ficaram na rua, devido à superlotação do plenário, onde foi recebido aos gritos, tipo torcida de futebol, Dimaaaaas, Dimaaaas.

Como tenho a mania de atrapalhar os preguiçosos da leitura e gostar de contar a história toda, afinal, texto jornalístico também é documento histórico, antes de voltar ao projeto de Dimas, porque é a conclusão de tudo, faço parênteses de que os vereadores governistas fizeram o que tinham que fazer na sessão: ficaram quietos, porque a decisão de extinção já está tomada pelo governo e entrar em debates é ‘dar tamanho’ aos oposicionistas. Assim é a política. Os 11 votos para aprovar o PL 19 estão garantidos.

Como um folclórico colchete, relato também que Dilamar Soares, sempre um caso a parte, criticou a cobertura do Seguinte: para o ‘caso Ipag Saúde’: como os petistas de ontem, e os bolsonaristas de hoje, encarnou o ‘Globo Mente!’.

Mas, vamos ao que é notícia, que é o PL de Dimas, agora que o leitor conhece os personagens, interessados ou interesseiros: não sou muito bom de contas, então espero nesta quinta, na assembleia do sindicato dos professores, a partir das 13h no CTG Aldeia dos Anjos, a partir da exposição das mestres entender a matemática. Dimas propõe que os servidores arquem com todo custo do plano, aumentando alíquotas e regulando serviços, caso necessário.

Pela complexidade financeira, as 10 mil pessoas atendidas pelo Ipag Saúde precisam ficar atentas. Como um plano que fechou 2018 com uma dívida de R$ 6,4 milhões com médicos, dentistas, hospitais, clínicas e laboratórios, vai sobreviver com pouco mais da metade do orçamento? No ano passado, o plano tinha R$ 25 milhões, 5,5% da contribuição de servidores e familiares, e 4,5% de contribuição da Prefeitura. O déficit projetado para este é igual ou maior. Pela proposta de Dimas-direção-do-sindicato, para tapar o ‘rombo do rombo’, os funcionários e dependentes terão que pagar mais para manter o plano, já que a sócia paritária, a Prefeitura, vai ser excluída da conta.

Inegável que, politicamente, é uma jogada genial. Ganha Dimas, ganha a direção do sindicato. Se assim o funcionalismo entender na assembleia de amanhã, a categoria associa-se também à aventura. Desenhando: aprovada o projeto de Dimas, o Ipag Saúde se mantém vivo, mesmo que as custas de mais descontos para o funcionalismo e mais dívidas para a Prefeitura. Extinto, lembrem, por lei jamais poderá ser recriado, nem que Vitalina seja a próxima prefeita.

Acredito que a direção do sindicato será didática na assembleia desta quinta. Em nome da verdade vai explicar para a categoria que, apoiando o PL de Dimas, os servidores terão que fazer o sacrifício de pagar mais pelo menos até 2020. Com a sobrevivência do Ipag Saúde até lá, mesmo que o déficit passe dos R$ 20 milhões, o SPMG poderia negociar com o próximo prefeito.

Alguém pode estar se perguntando: então, porque o prefeito não aceita a proposta, já que não mais precisará pagar a parte da Prefeitura e evita uma greve de uma semana, um mês ou ene dias? Arrisco: não vai aceitar porque é o jeito Marco Alba de ser. Não por ódio ao funcionalismo, como vendem os adversários, nem pela vaidade de não perder essa para o menino Dimas, mas porque é um pragmático e o que mais quer é deixar como legado uma gestão de equilíbrio das contas públicas.

Marco sabe que, mesmo sem a contribuição do governo, a Prefeitura segue como o CNPJ garantidor do Ipag Saúde. Assim, qualquer conta que restar, quem paga é o cofre público. Se para manter os serviços o Ipag, por exemplo, precisar restringir uma cirurgia ou uma obturação num dente, e o usuário for a justiça, vai ganhar a autorização para o procedimento, porque ele tem um contrato assinado, como num plano privado, que lhe assegura uma cesta de procedimento. Ao fim, quem vai pagar é a Prefeitura. Os sequestros de receita seriam feitos da conta o Ipag Previdência, para o qual o município já drena R$ 60 milhões por ano entre contribuição patronal, parcelamento de uma dívida de R$ 120 milhões e uma alíquota completar que, para enfrentar um déficit atuarial bilionário, em 2019 é de 18% sobre a folha de pagamento, e em 2035 será de 72%, para garantir as aposentadorias dos servidores pelos próximos 15 anos.

Para quem ainda não entendeu a voracidade do jogo, a ideia do sindicato, que ganhou em Dimas o melhor porta-voz que poderia ter na Câmara, é manter o Ipag vivo, pedalar as dívidas e apostar que um prefeito de oposição será eleito em 2020, para poder negociar a volta de uma contribuição da Prefeitura a partir de 2021. Se o Ipag Saúde fosse viável, como sustenta a justificativa do PL de Dimas, bastaria o SPMG criar um CNPJ, montar um plano de saúde e arrecadar a contribuição dos servidores.

Só que, aí, não teria a Prefeitura de orçamento quase bilionário como garantia de que, se quebrar, os cofres públicos pagam a conta. É o que Marco Alba não quer mais fazer em seu governo. Lembrem-se do mantra: ‘300 mil habitantes não podem pagar por 5 mil servidores’.

É aquela coisa, o direito de cada um acaba quando alguém reage ou chama a polícia. Na guerra de narrativas entre o sindicato e o governo, em tempos binários como os de hoje, inevitavelmente alguém será o vilão da história. Durmam a ideia, que a princípio pode parece tresloucada, mas uma greve só ajuda Marco Alba ganhar apoio popular – e volto a isso num próximo artigo.

Imagina se o prefeito enlouquece e propõe um plebiscito para consultar a população, a maioria usuários do SUS, se a Prefeitura tem que contribuir, ou ser a fiadora de um plano de saúde dos servidores e familiares?

Não é torcida ou secação, porque só um sádico não fica preocupado com a possibilidade das 10 mil pessoas atendidas pelo Ipag Saúde engrossarem as filas do SUS. A única coisa fácil é dizer que o jornalismo é a empregada doméstica do poder. Quando ouço isso, sempre recomendo: experimenta perguntar a opinião da diarista…

 

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