O bolsonarismo pode vencer a guerra de versões também no caso dos deportados, no reduto que mais importa, que é o das redes sociais? As evidências são de que eles estão na frente mais uma vez.
O fascismo está sendo mais eficiente na desqualificação dos deportados do que as esquerdas e o governo Lula na apresentação dos brasileiros como vítimas das crueldades do neonazismo americano.
O que pode colar nos deportados é o carimbo de bandidos, criado pelo bolsonarismo, mesmo que muitos deles ou a maioria seja bolsonarista ou no mínimo americanista com desprezo pelo sentimento mais elementar do que já chamaram de brasilidade.
Por isso pode ser quase nulo o esforço de Lula para defini-los como cidadãos que sofreram maus tratos, desde a expulsão até o desembarque em Manaus.
Por isso também pode ter pouco efeito, nas atuais circunstâncias, a empreitada do governo para que a operação em Manaus, para retirada de correntes e algemas, seja vista como um resgate cívico e heroico.
O Brasil não só denunciou os maus tratos, como se apoderou do controle do final da operação, conduzindo os deportados em avião da FAB de Manaus a Belo Horizonte. Mas e daí?
Bolsonaro fugiu em dezembro de 2022 num avião da FAB para os Estados Unidos, levando muambas que tentaria vender lá. Aviões da FAB carregavam um militar do staf de Bolsonaro que fazia, em viagens internacionais, o trabalho de mula do tráfico.
Agora, Lula usa a FAB para proteger os brasileiros, mas a imagem que ficou foi a da fila de gente descendo com correntes e algemas. Bandidos, segundo as redes bolsonaristas, acolhidos por Lula.
Não há, como aconteceu no Egito, quando do resgate dos brasileiros moradores de Gaza, a imagem de um símbolo do país, mesmo que gasto, trazendo de volta seus cidadãos.
Já anunciam, como reforço da versão do bolsonarismo, que os Estados Unidos têm criminosos brasileiros presos, inclusive por homicídio, que tentavam entrar no país.
Seus nomes e rostos serão mostrados nos próximos dias pelos jornalões, e a versão da extrema direita sobre a bandidagem expulsa estará bem amarrada.
Até o estagiário de Sidônio Palmeira na Secretaria de Comunicação do governo sabe que será difícil rebater a avalanche de ‘notícias’ sobre os brasileiros devolvidos, que são apresentados inclusive como pedófilos.
Teremos, a partir das listas que os americanos enviarão logo às estruturas bolsonaristas, todo tipo de ‘bandido’ entre os deportados.
Se Nikolas Ferreira ainda não se considerar uma figura gasta como mensageiro de más notícias, podemos aguardar mais vídeos, desta vez sobre o acolhimento dos que eles consideram delinquentes.
A extrema direita abandona de novo os seus, porque perdedores devem ser largados na estrada, como Bolsonaro já fez com os manés do 8 de janeiro, com Mauro Cid e até com os generais que, diz ele, teriam atrapalhado seu governo.
Um deportado vale para a direita extremada tanto quanto Fátima de Tubarão. Tanto que Bolsonaro disse à CNN que Trump está fazendo a coisa certa. A única utilidade do deportado descartado é seu uso para atingir Lula.
Os deportados eram um estorvo, agora são munição para o bolsonarismo. E eles estão só começando a chegar. São as primeiras cenas sob as ordens de Trump. É diversão até para os milicianos.