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A festa do Grêmio e as esquerdas

Marcelo Soares, na direita só na foto

Seguinte: pediu e jornalistas, colunistas e articulistas gremistas que tem ou já tiveram alguma relação com a região estão mandando artigos sobre o tri. Esse é do Marcelo Soares

 

Em tempos de crescente debate e zoeira nas redes sociais a conquista do tri campeonato da Libertadores da América pelo Grêmio gerou diferentes reações, conforme o time para o qual torcemos ou a relação que temos com o futebol.

Teve muita alegria, secação, corneta e uma boa dose de recalque dos colorados após a vitória do Grêmio, desmerecendo o Lanus como um time de bairro, esquecendo que este time é o atual campeão argentino e fez a melhor campanha da Libertadores.

Mas o que mais me irritou foram as críticas de amigas e amigos de esquerda à festa da torcida gremista, com colocações do tipo “porque eles não vão pras ruas contra a reforma da previdência”, “futebol é o ópio do povo”, etc. Como se todos os retrocessos sociais que vivemos recentemente fossem culpa da alienação do povo, o mesmo povo que nas últimas quatro eleições elegeu os candidatos do Partido dos Trabalhadores para a Presidência da República e apesar de algumas políticas compensatórias não viu nenhuma mudança estrutural no país, e pior que isso, assistiu a repetição das alianças com políticos das antigas oligarquias e práticas de corrupção que tanto eram criticadas pela esquerda quando na oposição.

Lembro quando jovem da emoção que sentia ao assistir as grandes conquistas do Grêmio no saudoso estádio Olímpico, mas também nos comícios do PT, nas falas do Olívio, do Lula e outras de nossas lideranças populares. Ao contrário dos dias atuais a política era vista como uma coisa boa, uma expectativa de mudança positiva na estrutura social profundamente desigual do Brasil. As bases reconheciam e se sentiam representadas por suas lideranças políticas e sindicais, porque elas falavam a sua língua e estavam presentes nas suas lutas do dia a dia.

Hoje, após o golpe que na verdade foi uma traição das elites aliadas no projeto lulista de conciliação de classes, culpamos a falta de mobilização do povo, mas não fazemos uma autocrítica do quanto nos distanciamos da sua realidade, abrindo espaços para o trabalho das igrejas evangélicas que há anos amassam o barro nas periferias das grandes cidades, ou nas comunidades rurais mais longínquas. E o que vemos nas esquerdas são as críticas ao apego popular pelos times de futebol, às suas preferências musicais e manifestações de religiosidade, em uma demonstração de elitismo e vanguardismo que só amplia esse distanciamento.

Da minha parte quero dizer que continuo sendo um apaixonado pelo futebol e gremista de quatro costados, de quem assistiu no Velho Olímpico a conquista da nossa primeira Libertadores da América, vibrou com o Mundial e sofreu nos últimos anos com a hegemonia colorada, para renascer ano passado com a conquista do penta na Copa do Brasil e agora com o tri da Libertadores. Não me envergonho de xingar um juiz, um jogador perna de pau ou um técnico burro, de chorar de tristeza nas derrotas e de alegria nas grandes vitórias como a de ontem, um título de Libertadores conquistado na Argentina, algo que só Santos conseguira nos seus tempos de Pelé.

E justamente por não me considerar um intelectual de vanguarda, mas como defende Boaventura de Sousa Santos, um intelectual de retaguarda, que se constrói e se fortalece no interior das lutas populares, quero estar cada vez mais presente e valorizar as genuínas manifestações esportivas e culturais do nosso povo. Um povo que está sendo cada vez mais afastado das grandes e modernas arenas dos nossos clubes de futebol, mas mantém o vínculo e cultiva a história das suas façanhas.

Porque só um gremista apaixonado conhece a importância dos nossos camisas 7 nas conquistas da Libertadores da América, de Renato, Paulo Nunes e agora Luan. Só quem enfrentou a Batalha dos Aflitos pode passear na Fortaleza do Lanus como se estivesse em casa. E só quem invejou as conquistas do seu maior rival pode saborear as do seu time do coração, como a que o meu tricolor imortal fez ontem, para desespero dos secadores e empáfia das esquerdas, que conseguem ver alienação onde só existe paixão.

E vamos em frente meu Grêmio, porque não queremos acabar, mas azular ainda mais este planeta cada vez mais cinza.

 

Marcelo Soares é sociólogo e gremistão.

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