a eleição que não termina

A força da bic do prefeito

Escadaria que dá acesso ao Gabinete do Prefeito de Gravataí | Foto RENATA BREIER PORTO

Não lembro prefeito de Gravataí que fosse balaqueiro com canetas. Vi sim muita bic na mão, nesses 20 anos redondos, completos este mês, em que cubro a política da aldeia. Até porque, bic ou Montblanc, a carga é sempre pesada nas mãos de quem senta na cadeira do segundo andar do palacinho rosa da José Loureiro.

Por isso, sem prefeito eleito, na eleição que nunca termina, toda e qualquer conversa política travada hoje na aldeia não vale mais do que um acompanhamento para o cafezinho, o chope ou a água mineral.

A história mostra que as forças políticas se acomodam em volta do poder. O que, quem acompanha a política sabe, acontece seja qual for o nome da aldeia.

Caso cometa alguma injustiça, corrijam. Mas, com base no ‘eu estava lá’, tentarei recordar aos leitores de aproximações políticas, naturais e inusitadas, de 1996 para cá.

É o poder da caneta, que assina nomeações e exonerações, obras e serviços.

 

Bordignon I

 

Eleito em chapa pura do PT, Daniel Bordignon começou seu primeiro mandato em 1º de janeiro de 97 com uma base de cinco, entre os 21 vereadores. Isso conforme as urnas. Rita Sanco, Jairo Santerra, Tânia Ferreira, Ataíde Oliveira e Antônio Meregalli, o Tonhão, foram os eleitos pelo PT. Nos quatro anos seguintes, pelo menos oito parlamentares viveram uma relação amistosa, quando não de adesão, com o governo.

Néio Lúcio Pereira (PCdoB) foi eleito pela coligação com José Mota (PDT), que polarizou a eleição com Bordignon. Mas, antes mesmo da posse, o comunista já tinha firmado uma aliança com o governo, do qual foi um dos principais, e mais qualificados, defensores na Câmara.

Na mesma escala, com cargos no governo, só que sem uma aliança formal, incluem-se Airton Leal (PTB), Carlinhos Medeiros (PTB) e Cláudio Pereira (PDT).  Mesmo rachado, o PDT de Cláudio Pereira, que assumiu o controle do partido, chegou a entrar formalmente no governo, com secretarias e CCs. Só saiu quando não levou o vice e Cláudio foi arrastado para uma aventureira candidatura a prefeito.

Entre os, muitas vezes, simpáticos a Bordignon naqueles anos, dá para citar também Acimar da Silva (PSDB), Francisco Pinho (PTB) e Odemar Mittmann (PPB). Forçando um pouco, até Sérgio Malinoski (PMDB) entra na lista.

Em um acordo costurado por Bordignon, foi ele o presidente da Câmara no primeiro ano.

A média de aprovação de projetos do governo nos quatro anos passou de 90%. E nunca com menos de 12 votos.

 

Bordignon II

 

O segundo mandato ampliou a base. Bordignon foi reeleito em 2000 e a bancada do PT cresceu para seis vereadores: Miki Breier, Omar Martins, Airton Leal, Tânia Ferreira, Jairo Santerra e Rita Sanco.

E próximos ao governo estavam Néio Lúcio Pereira (PCdoB), o PSB de Elio Bitelo e Juliano Paz, que abandonou Mota, que tinha sido candidato a prefeito, e entrou no governo, além de Carlinhos Medeiros (PDT), Gilberto Roxo (PTB), Francisco Pinho (PTB), Mario Mittmann (PPB), Lídio Silva (PPB), Acimar da Silva (PSDB) e Julio Caetano (PMDB).

Até Juarez Vargas (PDT) se aproximou ao final, talvez influenciado pela filha Mônica Vargas.

Quem se afastou foi Neio, que ao não garantir o vice de Sérgio Stasinski (PT), concorreu a prefeito. E Miki, vice do primeiro mandato, que começou a preparar o vôo de uma série de petistas para o PSB.

Não recordo de projeto reprovado. E aqueles aprovados, sempre com pelo menos 14 votos.

 

Stasinski e os leprosos

 

Em 2005, Stasinski assumiu a Prefeitura com a bênção de um popularíssimo Bordignon. Da coligação com o PL do vice Décio Becker, foram eleitos Carlinhos Medeiros (PT), Airton Leal (PT), Paulo Bones (PT), Anabel Lorenzi (PT) e Róbinson Luis (PL).

Ajudaram o governo Francisco Pinho (PTB), Dirceu Miguel (PTB), Vail Correa (PTB), Jarbas Tavares da Silva (PSB), Acimar da Silva (PMDB) e Julio Caetano (PMDB).

O governo encerrou fragilizado pela divisão no PT, que preteriu a reeleição de Stasinski por Bordignon, e com a impugnação da candidatura na última semana da eleição, por Rita Sanco, e pela saída de Anabel para o PSB.

Mesmo com Stasinski e seu grupo tratado, como eles mesmos ironizavam, 'leprosos', a taxa de aprovação de projetos manteve a mesma média dos governos anteriores.

As únicas grandes polêmicas foram a reprovação da taxa de iluminação pública e do pacote de renegociação de dívidas com grandes empresas – este com voto favorável de um dos líderes da oposição, Jones Martins (PMDB).

 

Impichando Rita

 

2009 foi o ano em que a caneta pousou na mesa da prefeita quase sem tinta. Rita assumiu sob o signo do PT ‘partido partido’, e com as críticas da oposição de que a eleição fora um ‘estelionato eleitoral’, já que tinha sido a foto de Bordignon, não dela, a aparecer na urna quando o eleitor digitava o 13.

Numa Câmara reduzida a 14 vereadores, por uma mudança na legislação eleitoral, o governo tinha Carlito Nicolait (PT), Carlinhos Medeiros (PT), Airton Leal (PT) e

Tânia Ferreira (PT), já que os também petistas Márcio Souza e Cau Dias, ligados a Stasinski, já estrearam na oposição.

Ajudavam na sustentação de uma gestão que começou sob ataque Ricardo Canabarro (PV), Francisco Pinho (DEM) e Acimar da Silva (PMDB).

Foram dois anos de derrotas na Câmara, inclusive com vereadores derrubando vetos do governo e aprovando projetos que precisaram ser anulados na justiça pela prefeita com ações diretas de inconstitucionalidade.

A conseqüência da fragmentação da base foi o impeachment de Rita, em 15 de outubro de 2011. Restavam a ela Carlito, Carlinhos, Tânia e Airton. Canabarro foi um dos artífices da cassação, sob o condão dos titereiros Cláudio Ávila e Marcos Monteiro, e o sempre simpático Pinho renunciou para assumir um ano como deputado estadual e retornou como vice-prefeito de outro sempre gentil com os governos, Acimar da Silva – em eleição indireta, escolhido pelos colegas por 10 votos a quatro para comandar a Prefeitura até o fim de 2012.

 

Acimar e o tampão

 

Em seu governo 'tampão', Acimar começou com a mesma base do impeachment, com Nadir Rocha (PMDB) que, presidente da Câmara, chegou a assumir a Prefeitura por 30 dias em outubro de 2011, antes da eleição indireta, mais Levi Melo (PMDB), Anabel Lorenzi (PSB), Vail Correa (PTB), Ricardo Canabarro (PV), Márcio Souza (PT), Cau Dias (PT), Roberto Andrade (PP) e Dario Blehm (DEM) – que assumiu, e votou pela cassação, após a morte do colega de partido de Bernardo Nunes.

No meio do caminho, o PSB de Anabel saiu do governo, atraiu Cau do PT, e o PV se dividiu, com Canabarro apoiando a candidatura de Anabel e Márcio, que trocou o PT pelos verdes, apoiando Marco Alba.

Mas o índice de aprovação de projetos foi próximo aos 100%.

 

Marco e o bastão

 

Já Marco Alba (PMDB) assumiu a Prefeitura em 2013 também com ampla maioria. Tinha Nadir Rocha (PMDB), Juarez Souza (PMDB), Alan Vieira (PMDB), Clebes Mendes (PMDB), Alex Tavares (PMDB), Roberto Andrade (PP), Paulinho da Farmácia (PTB), Evandro Soares (DEM), Fred Pinho (DEM), Beto Pereira (PP), Dilamar Soares (PMDB), Márcio Souza (PV), Gerson Rovisco (PV), Tanrac Saldanha (PRB) e Maribel Wagner (PCdoB).

Tanrac tinha sido eleito na coligação com Bordignon e, antes mesmo da posse, já estava no governo. Da mesma forma que Maribel, eleita na coligação de Anabel, que apoiou o governo desde o primeiro dia e, quando os comunistas decidiram sair do governo para apoiar Bordignon, filiou-se à Rede.

Com alto índice de aprovação de projetos, Marco fez passar inclusive uma reforma administrativa que criou cargos.

No meio do caminho, ele perdeu Dilamar, que foi para o PSD e lançou Levi Melo como candidato a prefeito, e aos 45 minutos do segundo tempo, Beto e Fred, que foram para o PSDB e, com o rompimento do vice-prefeito Francisco Pinho com Marco, indicaram o vice de Anabel.

 

Teste de fidelidade

 

Agora em 2016, na eleição que nunca termina, as urnas colocaram ao lado de Bordignon, que concorreu em chapa pura do PDT, a esposa Rosane Massulo, Alex Peixe e Demétrio do Esporte.

Pela coligação de Marco, foram eleitos Paulinho da Farmácia (PMDB), Clebes Mendes (PMDB), Nadir Rocha (PMDB), Alan Vieira (PMDB), Alex Tavares (PMDB), Jô da Farmácia (PTB), Fábio Ávila (PRB), Airton Leal (PV), Roberto Andrade (PP) e Evandro Soares (DEM).

Com Anabel, foram eleitos Paulo Silveira (PSB), Carlos Fonseca (PSB), Wagner Padilha (PSB), Áureo Tedesco (PSDB) e Neri Faci (PSDB) – mas os dois últimos já estão fora da conta, com o fim da aliança entre os socialistas e tucanos.

Completam a nova legislatura os eleitos do time de Levi: Dimas Costa (PSD), Dilamar Soares (PSD) e Bombeiro Martins.

Assim que desenrolar o tapetão, entre paixões e ódios mútuos, é que começa o teste de fidelidade.

 

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