A ‘greve geral’ foi de servidores públicos, sindicalistas e estudantes, em Gravataí. Os motivos da baixa adesão me parecem óbvios: desinformação sobre a Reforma da Previdência e medo de perder o emprego, aqueles que ainda têm.
A Frente de Lutas, que reúne partidos de esquerda, sindicatos e movimentos estudantis, amanheceu em frente à Sogil, mas os ônibus circularam normalmente.
Ao meio dia, concentração na praça do quiosque, caminhada pelo Centro e um abraço à sede da Previdência.
Não soube de nenhum incidente, nada quebrado, alguém ferido. Apenas uma fake news sobre miguelitos.
Já as milícias digitais do Grande Tribunal das Redes Sociais sextaram metralhando teclados.
– Vagabundos!
– Petralhas!
– MortaNdela!
Teve buzinada de apoio, mas também teve motorista de carro popular ou puxador de uber baixando o vidro para xingar os manifestantes.
Inegável que uma reforma é necessária. É a ‘ideologia dos números’. Mas é do jogo aqueles que se sentem prejudicados irem às ruas protestar. Ulula o que vou dizer, mas é necessário nestes tempos em que a Grande Guerra Ideológica só permite ao outro o direito de concordar: greve se faz dia de semana.
É direito de cada um concordar ou discordar de manifestações. Inclusive discordar apenas quando tem cores vermelhas e não verde amarelo, camisas da CBF e boneco de juiz que descumpre a lei.
Você pode inclusive ter batido palmas para a greve dos caminhoneiros – que provocou prejuízos ao Brasil e foi notoriamente um locaute, uma greve arquitetada pelas transportadoras, pelos patrões – e agora vaiar os que foram às ruas porque não querem se aposentar mais tarde, tem medo de, quando idosos, não conseguir emprego para completar o tempo de contribuição, ou estavam lá por pura ideologia.
Arrisco que muitos dos 900 funcionários da Pirelli que em dois anos estarão demitidos chamaram de vagabundos os manifestantes que, em 2017, foram às ruas contra a reforma trabalhista que, em um de seus artigos, liberou geral as demissões coletivas, como se uma única demissão fosse.
É direito gostar ou não reforma, cujo projeto aprovado para ir a plenário não agrada quase ninguém, nem ao van Hattem, que no Almoçando com a Acigra em Gravataí fez propaganda para a Poupança Garantida, nome bonito para a capitalização, excluída da proposta para horror do sistema financeiro que é o principal incentivador de seu partido Novo.
É da democracia.
Mesmo que testemunhemos o verdadeiro milagre brasileiro: uma democracia sem democratas, uma Senzala com complexo de Casa Grande.